A acumulação (quase) silenciosa dos bancos
Os bancos têm lucros milionários, fruto sobretudo da gestão lucrativa e da engenharia financeira na economia capitalista vigente, mas também do esvaziamento de recursos humanos, encerramento de agências e aumento exponencial da digitalização e automatismos. Há um claro corte nos serviços de proximidade com o cliente. Uma das fontes de receitas que preconiza o ditado “grão a grão enche a galinha o papo” vem dos bolsos do cidadão comum. Uns cêntimos aqui (imposto de selo), mais um euro e meio ali (numa transferência para outra conta), entre outros custos de operações, taxas, comissões e serviços bancários de vária índole, enchem os cofres de uns e esvaziam os bolsos de outros. Os cidadãos que reclamam raramente levam a sua avante. Normalmente as queixas ficam na gaveta ou são dadas como improcedentes.
O BCP teve um lucro de 215 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, atrás da Caixa Geral de Depósitos (CGD) que obteve 285 milhões de euros. O Novo Banco teve lucros de 148,4 milhões de euros. O Santander Totta chegou aos 185,9 milhões de euros, e o BPI teve lucros de 85 milhões de euros.
São estes glutões alguns dos principais responsáveis por gerar dinâmica na economia. “Mas não pode valer tudo”, diz o antigo bancário António Segurado, que agenciou no antigo BIC (Largo do Pelourinho). Está aposentado mas não deixa de ajudar quem o procura. A esses chama a atenção “de um benefício para os cidadãos que a maioria dos bancos não revela: as contas de serviços mínimos bancários são uma verdadeira alternativa às contas à ordem tradicionais, permitindo poupar dezenas de euros por ano a quem tem apenas uma conta à ordem (o que deixa de fora muitos cidadãos que assim não podem poupar dezenas de euros por ano)”. O antigo bancário penafidelense sublinha: “informem-se, vale a pena, pois nas contas de serviços mínimos bancários, os encargos cobrados pela prestação desses serviços não podem exceder anualmente e no seu conjunto 1% do valor do indexante dos apoios sociais”.
Uma das principais reclamações dos utentes do serviço bancário é a cobrança de manutenção de conta que não é movimentada: “Comissão de manutenção de conta é cobrada mesmo quando a conta não é usada e não tem movimentos e independentemente do valor do respetivo saldo”. Mas as reclamações caem em saco furado, ou seja revelam-se infrutíferas, dado que as instituições de crédito podem cobrar comissões livremente fixadas por cada instituição de crédito, dentro dos limites fixados pela lei.
O fim da banca tradicional
O lousadense Renato Oliveira trabalha em Desenvolvimento de Aplicações Digitais para a Caixa Geral de Depósitos e ninguém melhor que ele para falar de uma das principais áreas da banca: a evolução tecnológica. “A introdução da tecnologia e modernização digital no nosso dia a dia foi algo que nos proporcionou enumeras comodidades e vantagens, sendo que, no setor financeiro não foi exceção”, afirma.

Atualmente, os serviços e produtos digitais que as entidades bancárias oferecem são do conhecimento de maior parte das pessoas, pois há “facilidade de consultar o saldo ou de fazer uma transferência através de uma aplicação ou website num dispositivo que cabe na palma da nossa mão ou num computador, seja em qualquer parte do mundo for, tornou-se quase uma dependência nos dias de hoje, da qual não prescindimos”, assinala aquele técnico.
A banca tradicional de há alguns anos atrás já não é a mesma: “hoje, não precisamos de nos deslocar a um multibanco para fazer um pagamento ou uma transferência, pois os bancos disponibilizam-nos serviços digitais que nos facilitam todas essas tarefas que agora são executáveis em segundos ou minutos através de uma simples aplicação no nosso telemóvel”.
“As facilidades dos produtos digitais que os bancos nos disponibilizam não foi só eficiência e produtividade, mas também o lucro que podiam gerar através do digital. A facilidade de conseguirmos pedir um crédito através de um telemóvel ou de um computador, sem termos de falar com um funcionário ou perdermos tempo ao sair de casa, tornou-se uma grande fonte lucrativa para os bancos”, esclarece Renato Oliveira.
No futuro, as entidades bancárias continuarão a desenvolver novas formas de oferecer novas comodidades aos seus clientes, mas também novas formas de obter uma maior fonte de lucro. Nos próximos anos provavelmente teremos menos estabelecimentos abertos ao público em consequência de uma maior digitalização de todos os serviços. As próximas gerações já não irão deslocar-se a um banco para abrir uma conta ou pedir um crédito, talvez por consequência da fobia social que a tecnologia despoletou, mas principalmente porque caminhamos para um futuro cada vez mais digital.
Nova lei tenta defender clientes
A legislação é uma via para defender os clientes bancários. Assim, foi publicada na semana passada em Diário da República, limita a cobrança de comissões em mudanças de titularidade das contas de depósitos à ordem em caso de divórcio. Nos processos de habilitação de herdeiros por óbito de um titular da conta, os bancos não podem cobrar uma comissão superior a 10% do Indexante dos Apoios Sociais (IAS).
Os bancos já não podem cobrar quaisquer comissões por fotocópias de documentos da instituição que respeitem ao cliente, emissão de segunda via de extratos bancários ou outros documentos. No caso de depósito de moedas, não podem cobrar comissões superiores a 2% do valor da operação.
Quando há o incumprimento, num mesmo mês, do pagamento de prestações de vários contratos de crédito que sejam suportados por uma mesma garantia os bancos passam a só poder cobrar a comissão associada ao incumprimento que ocorrer em primeiro lugar.
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