A Casa Nobre no seu contexto histórico XXVI

A Estrutura Arquitetónica de Lousada, segundo as Memórias Paroquiais de 1758 

Os Efeitos do Terramoto de 1755 em Lousada.

Freguesia de Santa Margarida de Lousada.

A freguesia de Santa Margarida com os seus cinquenta e nove fogos1 era uma das menos populosas do concelho e a sua igreja apresentava-se com uma construção cuidada, globalmente datável do século XVIII. 


Uma imagem com ar livre, céu, edifício, janela
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Igreja paroquial de Stª Margarida (Lousada)

Um templo simples, com uma torre a que parece terem faltado os meios para a tornar menos atarracada e mais proporcionada. (Descobrir o Vale de Sousa. Rotas do Património Cultural Edificado…, p. 109).  Em 1709 viam-se «dois sinos cavalgados no campanario, della ha huma guarida de chamar os fregueses para dentro da igreja.»2


Detalhes da torre da igreja e do portal emoldurado sobrepujado por tímpano interrompido

A igreja de Santa Margarida, em 1758, tinha quatro altares: o altar-mor e três colaterais. Na capela-mor, a padroeira, Santa Margarida; no segundo altar achava-se a imagem do Senhor de Além; no terceiro, Nossa Senhora dos Remédios, e no último encontrava-se Nossa Senhora do Rosário.3

Altar-mor: ao centro o Senhor de Além, ladeado por Santa Margarida (à esquerda) e por S. José com o Menino (à direita).

 

No dealbar do século XVIII havia duas capelas públicas e que não tinham fábrica. A capela de S. João, que ficava no lugar do mesmo nome, reedificada pelo padre João Nogueira da Silva. Como se pode ler no livro dos «Títulos das Sepulturas, Erecção de Capelas, Ermidas e Altares Livro n.º 12, 1709, fl. 3.» (ADP – Arquivo Distrital do Porto): «(…) tem huma cappella de Sam Joaõ (…). He munto antigua redeficou-a de novo toda o abbade Joaõ Nogueira da Silva com seo retabollo e frontal pintado de festa, no ano de 1792, (…).»

Uma imagem com ar livre, céu, árvore
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Uma imagem com ar livre, preto e branco, pessoas, casa
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Capela de Santo Amaro em dois momentos distintos – 2023 (imagem à esquerda) e 1991 (imagem à direita).4

E a capela de Santo Amaro que se situava ao pé do monte do Calvelo. Em 1720 foi-lhe colocado o retábulo e em 1774 desmoronou-se. Tal como o refere o livro:  «Arruinou-se a capella de Stº Amaro de Calvello de paredes e madeira nam houve quem concorresse para o seo concerto e como he capella de devoçaõ e naõ tem fabrica só sim por devoçaõ mandei concertalla das paredes e (…) calear toda por dentro de cal e athe hoje 15 de Agosto de 1774 e tenho despendido 26800 réis, mays um cacho de telhas de setenta, e 25 telhas -2600 réis; de cal e mays para o telhado – 2400 réis, de a pintar por dentro – 3200 réis, dei de esmola para a de  S. Joaõ para a ajuda de redificar a capela – 3350 réis, mais que faltou – 400 réis.» Foi reedificada pelo padre desta freguesia no ano de 1776.5 

No ano de 1758, Santa Margarida possuía, para além das duas capelas já referidas, a capela de Nossa Senhora da Penha de França,6 que era particular; e no lugar de Ermida teria existido « (…) huma capela de Santa Catherina já aruinad[a].»7 A de S. João Baptista achava-se «totalmente arruinada, e sem uzo.»8

Em 1709, a via-crucis contabilizava quatro cruzes de pedra sendo as restantes de pau. O abade João Nogueira da Silva mandou colocar doze cruzes de pedra e com isso despendeu 10$000 réis.9


Cruzeiro Paroquial, à esquerda, na retaguarda e a pouca distância da igreja.  À direita, na parte superior, um altar e na parte inferior a plataforma quadrangular do primitivo cruzeiro que, porventura, marcava o terminus da via-sacra (no adro da Capela de Santo Amaro). 

Freguesia de Santa Margarida: Património Edificado.

População/Habitantes

Fogos

Igrejas/ Residência

Capelas

Via – Sacra

Outras Capelas

190

59

Igreja de Santa Margarida

Públicas

Particulares

Tinha uma via – sacra de 4 cruzes de pedra e as restantes de “pao”. O padre João Nogueira da Silva mandou colocar até 12 cruzes de pedra.

 Vestígios da capela de Santa Catarina (Lugar de Ermida)
S. João, Santo AmaroNossa Senhora da Penha de França

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1 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758. vol. 21, fl. 1313.

2 – A. D. P. – Títulos das Sepulturas, Erecção de Capelas, Ermidas e Altares. Livro n.º 12, 1709, fl. 3.

3 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 21, fl. 1315.

4 – A Capela de Santo Amaro – imagem à direita – apresenta uma configuração arquitetónica similar à capela de S. Gonçalo (Macieira), porventura a sua arquitetura primitiva.

5 – “ Tem outra cappella (…) de Santo Amaro, (…) que tambem he do povo, onde concorrem em romarias e clamores (…), ao pe do monte do Calvello, foi reedificada pelo abbade Joam Nogueira da Silva no anno de 1776 e no de 1720, lhe poz hum retabollo e os devottos hum cavido (…).” I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758. vol. 21, fl. 1315. A. D. P. – Títulos das Sepulturas, Erecção de Capelas, Ermidas e Altares. Livro n.º. 12, 1709, fl. 3.

6 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758. vol. 21, fl. 1315.

7 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758. vol. 21, fl. 1315.

8 – A. D. P. – Títulos das Sepulturas, Erecção de Capelas, Ermidas e Altares. Livro n.º 12, 1709, fl. 10; Cf. I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico, 1758. vol. 21, fl. 1315.

9 – “Havia huma via sacra de cruces de pao e só tinha 4 cruces de pedra puz a minha custa doze de pedra pello amor de Deos por estar imperfeita e ser a freguesia pobre que importaraõ de todos os gastos: – 10000 réis.” A. D. P. – Títulos das Sepulturas, Erecção de Capelas, Ermidas e Altares. Livro n.º 12, 1709, fl. 9.

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Obras consultadas:

– Descobrir o Vale de Sousa. Rotas do Património Cultural Edificado…

– Dicionário Geográfico, 1758. vol. 21.

– Jornadas Europeias de Património.

1 – Todas as fotografias são de 2023 e pertencem ao Arquivo particular de José Carlos Silva. 

Exceção para as fotografias do Altar-mor da igreja (Terra Prendada Lousada, 1996) e da Capela de Santo Amaro (Jornal de Lousada, 11-1-1991)

2 – As imagens que adornam o altar-mor da igreja de Santa Margarida não correspondem às referidas na Memória Paroquial, excetuando a da padroeira.

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