Sofia Mota, de 30 anos, é natural de Casais (Lousada) e é médica psiquiatra em Londres (Inglaterra). Até chegar aqui, à feliz realização do seu sonho, com persistência e apoio familiar, teve um longo e árduo percurso, que passou pela China.
Em pequena queria ser veterinária, até que, na primeira vez que viu um animal a sofrer, não conseguiu reagir e abandonou a ideia: “Ainda no ensino secundário comecei a pensar em Medicina, e, claro, ter um humano a dizer como se sente, torna tudo muito mais fácil. Sempre gostei de biologia, de ajudar pessoas e sonhava ir para o estrangeiro, desde os 14 anos, para viver e aprender com outras culturas”.
A primeira intenção de Sofia Mota foi estudar em Inglaterra, mas um complicado acidente de carro não a deixou concorrer a tempo. Entretanto, “uma universidade internacional chinesa entrou em contacto com o liceu onde estudei os últimos anos do secundário, e pareceu-me uma ideia muito interessante, pois era reconhecida em Inglaterra, o curso todo em inglês e algumas cadeiras extras, como o mandarim e medicina tradicional chinesa”, descreve.
O apoio familiar foi fundamental e nesse aspeto enfatiza que teve “o maior suporte dos meus pais e embarquei nesta aventura que durou seis anos, ao longo dos quais adorei a China, apesar do choque cultural dos primeiros tempos, foi fantástico viver lá, e estar rodeada de estudantes de todo mundo”.
Depois de finalizar o curso, Sofia começou a tratar de tudo para se registar na ordem dos médicos Inglesa (General Medical Council) e começou a trabalhar em Inglaterra em 2019. “Percorri alguns hospitais e especialidades até decidir realmente o que queria seguir. Hoje estou na especialidade de psiquiatria, que dura pelo menos 6 anos. Senti que em psiquiatria teria sempre interesse, visto que todos os casos são diferentes, e que precisam de bons médicos que realmente mostrem compaixão e boa comunicação”, conta a jovem médica.
Os últimos anos têm sido conturbados para os imigrantes europeus em Inglaterra, desde a implantação do Brfexit, que ditou a saída daquele país da União Europeia. Contudo, foi algo que não afetou esta lousadense: “eu vim para Inglaterra antes do Brexit, portanto não tive problemas com o governo, adquiri pre settled status. Mas já vi pessoas a esquecerem-se que precisam de passaporte para vir para cá. Em relação aos ingleses, sinto que a maior parte da população está contra a saída da UE”.
A crise económica que tem sido divulgada na comunicação social é uma realidade em Inglaterra e, sobre isso, Sofia diz que “os preços aumentaram muito nos últimos tempos, o preço de habitações, principalmente, mas os salários não, especialmente para quem trabalha para o Estado (médicos, professores, etc), pois não temos vantagens como a ADSE, em Portugal, por exemplo, apesar do serviço nacional de saúde daqui ser gratuito”. Revelou que “também aqui os médicos estão em greve nos últimos meses para restaurar o nosso salário, mas o governo tem oferecido o mínimo, então continuamos na luta”.
“SOU FELIZ EM INGLATERRA”
As mudanças económicas e sociais motivam que “muita gente decide viver longe de Londres, mesmo trabalhando cá, porque conseguem uma qualidade de vida melhor.
Também tenho muitos colegas a emigrar para a Nova Zelândia, por ter melhor qualidade de vida e melhores salários”.
Admite que já ponderou mudar-se para outro país, mas nunca concretizou isso “porque sou feliz em Inglaterra”, diz com prontidão. “A mistura de culturas e o buzz da cidade londrina são fatores únicos e que me agradam. Só espero que nos aumentem os salários e a vida seja mais fácil nos próximos anos”, acrescenta.
Contudo, confessa que tem saudades de Lousada, sobretudo “de ir a qualquer café com facilidade para pôr a conversa em dia com amigos; aqui estou sempre super ocupada e especialmente com os turnos de 12h, noites, etc, torna-se difícil o convívio e a comunicação. A cultura do café, mesmo de manhã ou depois de almoço, acho que é super saudável ter essa pausa sociável. Adoro Lousada por poder passear em qualquer sítio e encontrar sempre pessoas amigas. E tenho saudades de conduzir em Portugal com as estradas largas e menos carros”, afirma Sofia Mota.
O regresso é algo que ainda não está em perspetiva para esta lousadense: “Acho que vou voltar depois de acabar a especialidade e construir uma carreira sólida. Ou ter um trabalho híbrido, poder estar em Portugal e trabalhar para Inglaterra. A meteorologia, a facilidade, felicidade e relaxamento português, não tem preço. Mas é algo para pensar só daqui a 10 anos provavelmente”, conclui.


Comentários