Apreensão começa a superar otimismo dos empresário
Quase a fazer um ano de existência, a Associação Empresarial de Lousada não tem dados sobre a situação na indústria têxtil em Lousada, pois, segundo a presidente Elisabete Ribeiro “ainda não estamos virados para a indústria, mas sim para o comércio”. Contudo, aquela dirigente empresarial disse que “fala-se muito por aí que o setor das confeções tem falta de trabalho e que há fábricas a fechar”. O Louzadense foi à procura de dados e testemunhos e descobriu que o presente não é risonho e que a apreensão começa a reinar.
Depois da prosperidade verificada até 2018, dizem os dados do INE que as exportações da indústria portuguesa do têxtil e do vestuário encolheram 1% em 2019 e voltaram a recuar 11% em 2020, no primeiro ano da pandemia. A recuperação aconteceu nos dois anos seguintes, mas vários fatores estão a abalar este setor industrial.
Vários indicadores estatísticos davam conta que a contração no último trimestre do ano passado já enviava sinais de preocupação para as fábricas portuguesas. A escassos meses do final do ano os empresários já dão como certo um recuo nas exportações.
Recentemente, foi dito pelo presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal que “a crise está a atingir-nos em cheio”. Mário Jorge Machado disse na ocasião que esta é uma “situação muito preocupante” para o setor.
Em Lousada, encontramos empresários apreensivos e outros mais otimistas, mas todos são unânimes no reconhecimento da instabilidade que o setor vive.
Na opinião de Hélder Ribeiro, “há dois fatores que prejudicam muito o setor têxtil: as taxas de juro, que sobrecarregam as famílias e o prolongamento do verão que se fez sentir até meio de outubro”. Sobre o primeiro fator, este empresário explica que “as famílias portuguesas estão a perder muito poder de compra por causa da inflação e da sobrecarga das taxas de juro”.

Ainda sobre o segundo fator, Hélder Ribeiro acrescenta que “há muito tempo que já devíamos estar a vender mercadoria da coleção de outono e inverno, mas isso só começou há pouco, porque o calor manteve-se até meados de outubro”.
Com tudo isto, “há armazéns completamente cheios e isso reduz a velocidade de todo o setor”. Ainda assim o empresário mostra-se “otimista, porque só assim podemos conseguir manter as nossas empresas na linha da frente, é essa a minha filosofia há mais de 20 anos e é assim que temos conseguido levar a empresa a bom porto”.
Fábricas recorrem ao lay-off
A empresária Isabel Machado tem experiência de algumas décadas no setor das confeções em Lousada e diz sem rodeios que o cenário no setor têxtil atual em Lousada “é assustador na minha área”. Esclarece que a sua fábrica tem “um trabalho específico com materiais delicados, nomeadamente sedas” e justifica que “estamos a trabalhar um dia de cada vez, sem encomendas de longa duração”. Diz que o mesmo acontece em mais fábricas de produtos têxteis leves.
“Não sei se isto tem a ver com as guerras, conforme dizem, mas o que sei é que vivemos numa base quase diária para manter as portas abertas e tenho conhecimento de fábricas a fechar e sobretudo fábricas a interromper a produção”, ou seja, em lay-off.

Isabel Machado diz que “desistir não é o meu feitio, mas confesso que estou um bocadinho negativa com tudo isto que se está a passar”.
Outra mulher empresária nas confeções é Patrícia Teixeira, de Nespereira. Declara que “há crise de mão de obra que prejudica muito alguns setores das confeções”. Admite que passou recentemente “por uma quebra, que felizmente conseguimos superar porque mudamos para a produção de calças e isso tem saída”.

A empresária diz que “o Estado deveria incentivar mais quem trabalha, sem sobrecarregar com impostos e por outro lado desincentivar os subsídios e os apoios, porque quando precisamos de mão de obra fica difícil”.
A chegada de emigrantes “não tem ajudado muito porque a maioria não quer trabalhar mas sim ter contrato de trabalho que lhes permite ficar mais seguros no nosso país”, confidencia Patrícia Teixeira.
Montenegro ouviu empresários têxteis
A ronda que Luís Montenegro (PSD) fez recentemente pelo distrito do Porto, incluiu uma visita a Lousada, tendo a indústria têxtil como foco. O líder social-democrata, acompanhado pelos dirigentes locais do seu partido, reuniu com industriais do setor, num “almoço de trabalho”. Em declarações a O Louzadense contou que conclusões retirou desta visita:
“Saio de Lousada com um sentimento misto. Alguma preocupação e apreensão, por um lado, porque os empresários queixam-se de uma fiscalidade muito pesada e do excesso de burocracia. E reclamam da desleal concorrência de países fora da União Europeia. Mas também saio de Lousada com um sentimento de esperança e otimismo porque vi empresários com garra, vi associações com dinâmica, vi pessoas com vontade de valorizar o trabalho e os seus trabalhadores. E acho que o país só é viável se nós conseguirmos ser mais eficientes, mais inovadores, apostarmos no desenvolvimento tecnológico e no capital humano, através dos salários”.














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