Podemos definir paisagem edificada como um conjunto integrado, ordenado ou não, disperso ou concentrado, constituído pelas características físicas construídas do espaço humanizado (urbano ou rural), assim como o seu ornato natural. É bom rememorar que o património edificado não se reduz aos monumentos, mas incorpora também os núcleos históricos e a paisagem, uns são indissociáveis dos outros – o edificado faz parte integrante da paisagem e releva a sensibilidade, a afetividade e a memória, pois a vericidade e similaridade de cada edificação ou sítio é determinante para caucionar a prosseguição da sua essência. Mais: indicador de mudança física do ambiente, tal como elemento dinâmico que se transforma com o acumular dos tempos.
Desde que me conheço que esta interação entre a paisagem e a ação modificadora do ser humano me seduz. Daí que há décadas que dedico um pouco do meu tempo à análise da alteração da paisagem construída, à harmonia ou desarmonia com que é pensada, à efetiva preocupação do seu ordenamento e, obviamente, à preservação e valorização dos vetustos monumentos, dos núcleos históricos (urbanos e rurais), etc.
A harmonia e a beleza entre o natural e o edificado pode surgir também como total desarmonia e fealdade, dissonância e absurdo. E podemos constatá-lo na despreocupada malha urbana de uma vila ou cidade ou mesmo no que diz respeito à rua que nos transporta ao nosso passado, como é exemplo a vetusta rua de Santo António, que já foi rua Direita e rua do Torrão (deu o nome à Vila de Lousada, 13 de maio de 1842) ou no exemplo mais banal na rua da Silvosa (Lodares) – uma dissonância que fere a paisagem edificada e a torna desengraçada e sem beleza.


Desarmonia edificada: Rua da Silvosa (Lodares)
José Carlos Silva
Professor e historiador
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