O aumento da esperança de vida representa uma conquista notável da sociedade moderna, indicando progressos nas áreas da medicina, nutrição e de condições de vida.
São cada vez mais, felizmente, os casos de longevidade na nossa comunidade. Há tempos noticiamos o 100.º aniversário da D. Maria José Ferreira Carvalho (”Miquinhas do Armador”). Sabemos que, no próximo dia 15, a D. Laura Andrade Ribeiro da Silva completará 104 anos de vida. E mais casos existem no nosso concelho, no país e no mundo.
O crescente número de casos de longevidade é uma ótima notícia! No entanto, esse avanço acarreta desafios sociais, especialmente no que diz respeito às relações intergeracionais e à prestação social e familiar de cuidados aos idosos.
Nesta edição, trazemos-lhe o tema destaque sobre os problemas e as virtudes da longevidade, assim como um relato sobre o trabalho promovido pelo Centro Social e Paroquial de Lustosa. Dois artigos que se complementam, e que gostaríamos de o/a convidar a ler e a refletir sobre os mesmos.
À medida que a expectativa de vida cresce, observa-se um crescente desinteresse por parte dos filhos em relação às necessidades dos pais idosos. Esse distanciamento é, muitas vezes, atribuído à acelerada dinâmica de vida e às pressões profissionais, conjugado com um certo egoísmo por tempo livre e independente. Assim é em alguns casos, admitimos. A sociedade contemporânea, que valoriza a autonomia e a realização pessoal, corre o risco de criar uma desconexão emocional com as gerações mais antigas, àquelas a quem tudo devemos.
A falta de intervenção eficaz do Estado nas suas obrigações de solidariedade agrava essa situação. O Estado desempenha um papel crucial na implementação de políticas públicas que visem promover o bem-estar social e a coesão entre gerações. Contudo, as estruturas de solidariedade social, designadamente as IPSS’s, frequentemente estão sobrecarregadas e existem em número insuficiente para as necessidades (crescentes) da população idosa.
O Estado vê-se muitas vezes substituído pelas estruturas sociais, quando na verdade o Estado é o responsável pela solidariedade social, financiada pelos impostos de todos nós, cabendo à sociedade a caridade. E o que temos? O Estado demite-se. A sociedade que faça. Em resultado, o cidadão caridoso dá a dobrar: paga impostos para a solidariedade social e dá para a caridade.
Urge, pois, estabelecer um (novo) contrato social entre governo e cidadãos, reconhecendo a interdependência necessária entre ambos para garantir o suporte adequado aos idosos e grupos de maior vulnerabilidade. Só através de uma colaboração efetiva entre o Estado e a sociedade se torna possível a construção partilhada de uma sociedade solidária e inclusiva, que valorize e cuide de todas as suas partes, assegurando que o aumento da esperança de vida seja acompanhado por uma qualidade de vida digna para todos, independentemente da idade.













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