CENTRO SOCIAL E PAROQUIAL DE LUSTOSA (CSPL)
O padre António Teixeira é o presidente do CSPL e afirma que “em Lustosa há situações sociais bastante preocupantes” e que “hoje, mais que nunca, há um desinteresse generalizado dos filhos face às necessidades dos pais”. Lamenta a falta do Estado nas suas obrigações de Solidariedade e destaca o papel paroquial e da sociedade em geral na caridade.
Este dirigente e clérigo considera que “a maior crise que vivemos em Portugal não é a crise económica, mas sim a crise de valores, a qual está a causar a grave crise social que estamos a assistir” e explica que é comum ver familiares de utentes do Centro Social “descartarem-se completamente da responsabilidade social para com os seus idosos e doentes assumindo que esta responsabilidade é dos Centros Sociais «a quem pagam» para serem substitutos das famílias”.
Minorar ou resolver os problemas sociais é o propósito geral do CSP de Lustosa, que presta serviços sociais na área da Infância e dos Seniores. Tem três Creches, um Pré-escolar e um Serviço de Apoio Domiciliário. Estes serviços funcionam com uma equipa técnica que é formada por duas Assistentes Sociais (uma no SAD e outra nas Creches), nove Educadoras de Infância (seis nas Creches e três no Pré-escolar) e um Administrativo para o serviço de secretaria.
O padre lamenta que “há cerca de três anos, o CSP de Lustosa viu-se obrigado a fechar a valência ATL, por imposição da Segurança Social quando, devo referir, esta valência se encontrava no auge das suas boas condições e serviço de qualidade”. Desagradado com essa decisão, António Teixeira afirma: “não entendemos como o Estado (através da Segurança Social) se diz nosso “parceiro” quando a sua função fiscalizadora penaliza e multa quem faz e o substitui na sua função social”.
Apesar das suas valências e projetos, “o serviço que o Centro Social presta em Lustosa é francamente insuficiente para as necessidades existentes”, declara o reverendo. “Apesar de, pessoalmente, considerar os «Lares» como uma «prateleira de idosos», reconheço que existem situações onde não há outra, nem melhor, solução. Contudo, entendo que a Igreja já deu o exemplo – como, aliás, já o fez noutras situações (por exemplo na educação) – daquilo que se pode fazer na área social e no cuidado aos mais necessitados e descartados da sociedade”. Com isso quer dizer que “há, de facto, necessidade de Estruturas Residenciais Para Idosos no nosso concelho”.

António Teixeira lembra que os cristãos estão «obrigados» a praticar um valor que se chama «Caridade», e que o fazem através dos grupos socio-caritativos, por exemplo as Conferências Vicentinas. Mas chama a atenção para o facto de que isso não é a «Solidariedade», que é obrigação do Estado: “quem é Social é o Estado, e todos nós, os cidadãos portugueses, contribuímos com os nossos impostos para que o Estado desenvolva esta Solidariedade na sociedade”.
Perante isto, o padre salienta que os Centros Sociais e Paroquiais “são uma solução pioneira que a Igreja encontrou num determinado momento da história para fazer face às necessidades prementes da sociedade e para as quais não existia qualquer resposta; e, agora o Estado deve assumir a sua responsabilidade social e dar continuidade a este básico e fundamental serviço à sociedade”.
De outros problemas sociais António Teixeira afirma: “há pessoas isoladas, quase completamente abandonadas pelas famílias, e já não têm capacidade de desenvolver as tarefas de higiene pessoal e habitacional e de alimentação e há habitações sem condições de habitabilidade”. Estas situações “são, muitas vezes, agravadas por fracassos familiares nos descendentes, que ora regressam a casa dos pais com os filhos, ora com problemas de vícios, ora com dívidas, entre outros”.
Verifica-se, de forma generalizada, “a perda do valor da família, que traz associado o sentimento de infelicidade e de insatisfação com a vida, de desânimo e recurso aos «subsidiarismo», situação da qual não têm vontade nem sentem forças para sair”, conclui o representante do CSP de Lustosa.
O ESTADO É PESSOA DE MÁ FÉ
No respeitante a financiamento, o padre diz que “as IPSS’s, na sua grande maioria, são entidades financiadas pelo Estado (através da Segurança Social) que lhes «paga» para o substituírem no fazer a Solidariedade”. Acentua a sua perspetiva crítica ao dizer que “estes subsídios são parcos e insuficientes dados os rendimentos baixos e as miseráveis reformas que as pessoas, que necessitam destes serviços, auferem. A juntar a esta condição precária, sentimos que o Estado é pessoa de «má fé», assumindo uma postura extremamente fiscalizadora e penalizadora, apresentando-se intransigente e nada flexível, mau pagador (pagando tarde e a más horas) e pouco sensível às necessidades próprias de cada IPSS”.
Não obstante esta situação, “a maior fonte de sustentabilidade das IPSS’s continua a ser o Estado, ajudadas pelas comparticipações familiares dos nossos utentes. Felizmente vamos contando com o apoio de outras entidades como a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, algumas empresas locais e até alguns beneméritos”. Além disso, “conta com o apoio da Paróquia e da comunidade de Lustosa, senda esta, muitas vezes, penalizada e chamada a contribuir duplamente (nos impostos e em angariações de fundos) para um serviço que deveria ser assegurado pelo Estado”, conclui António Teixeira.

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