por | 1 Fev, 2024 | Saúde, Sociedade

Mortalidade está (muito) acima da média

LONGEVIDADE (PARTE 3)

Estão a morrer mais pessoas do que seria de esperar, sobretudo pessoas idosas. As estatísticas e os agentes funerários de Lousada dizem que em 2023 fizeram entre 80 a 100 funerais acima da média dos últimos anos, mesmo contando com os anos mais graves da pandemia da COVID-19. Os óbitos em excesso continuaram a registar-se nos primeiros dias deste ano. O enfermeiro Renato Gomes aponta críticas à insuficiente vacinação e sugere às pessoas a adoção de práticas dos anos da pandemia

Nas últimas semanas de 2023 e primeiras de 2024 os locais onde se afixam os avisos dos falecimentos e respetivas cerimónias fúnebres, estavam muitas vezes repletos.  Mas porque será o início de cada ano tão perigoso? Segundo a Organização Mundial da Saúde, a culpa é da doença cardíaca. Um estudo publicado na revista Circulation, descobriu que as doenças cardíacas são mais fatais no inverno, especialmente em janeiro. O corpo ao perder mais calor, obriga o coração a trabalhar mais, criando um esforço extra nas pessoas que já sofrem de problemas cardíacos, informou a British Heart Foundation. Aliada à circulação em simultâneo de diversos vírus respiratórios há a exposição ao frio extremo e ao vento, a falta de aquecimento adequado em casa, com pessoas idosas a morarem sozinhas e com aquecedores de ambiente que podem levar a incêndios e intoxicação por monóxido de carbono.

Há que recordar que este é o primeiro inverno depois da pandemia. As pessoas têm a imunidade menos desenvolvida para os vírus que por aí andam.

Tudo isto traduz-se em mais 100 mortes por dia do que era esperado pelas autoridades de saúde. Nas primeiras semanas deste mês estavam a morrer todos os dias 470 pessoas em Portugal. A par do caos que se instalou nos hospitais, a mortalidade está a registar valores excessivos. As autoridades de saúde tinham previsto para estes dias uma média de 375 mortes diárias, mas a realidade está a ser bem diferente: em média, na última semana, morreram por dia 470 pessoas em Portugal. As funerárias Massas, Senra e Santos, que predominam no concelho de Lousada, validam esses números e concordam que são praticamente 100 óbitos a mais do que era esperado.

Ouvimos a opinião de Renato Gomes, enfermeiro e diretor técnico CCI no Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Lousada sobre este assunto.

“Poderá ser precoce tentar arranjar, neste momento, justificação para o tão significativo número de mortes em Portugal, principalmente porque estamos ainda numa situação de pico gripal, o que poderá também revelar-se uma fase de pico relativamente a mortes”, alertou Renato Gomes. No entanto, o mesmo afiançou que “haverá em circulação uma estirpe de gripe mais agressiva que o habitual, associada à circulação de vários vírus respiratórios em simultâneo”. Acredita que a situação poderá normalizar nas próximas semanas, no entanto, também considera que “há que ter em atenção que estamos a vivenciar um inverno rigoroso, com temperaturas inferiores a anos anteriores e que este atraso na normalização poderá ser afetada por relatos de um acréscimo de atividade do Vírus SARS-Cov-2, o que poderá permitir manter uma circulação alargada em termos de tempo de vários tipos de vírus, com cargas virais elevadas”.

ENFERMEIRO APONTA LAPSOS NA VACINAÇÃO

O enfermeiro chama a atenção para um aspeto que lhe parece fulcral: “será importante perceber em breve se esta taxa de óbitos se equipara em países comparáveis com o nosso, para perceber se terá sido Portugal atingido primeiro pela onda da gripe ou se houve algum problema com a estratégia definida para ultrapassar esta fase do ano”.

Renato Gomes

Relativamente à estratégia e planeamento, este especialista entende que “relativamente à vacinação para a gripe e ao reforço da vacinação COVID-19, a mesma poderia ter sido melhor conseguida, visto ter tido uma taxa inferior ao desejável até ao momento em que se iniciou o acréscimo de mortes”. Ainda a propósito disto, Renato Gomes não se abstém de dizer que “do ponto de vista mediático a campanha foi interessante, mas em termos de resultados, não terá obtido o necessário para fazer face ao escalar da transmissão dos vírus”.

A inclusão de farmácias no processo de vacinação “deveria ter sido realizado de forma complementar à vacinação pelos Cuidados de Saúde Primários, no sentido de chegar a mais utentes e não apenas substituir o local de vacinação”. Posto isso, Renato Gomes defende que “os conhecimentos dos Enfermeiros e Médicos de Família relativamente à forma de garantir adesão considerável à vacinação deveria ter sido potenciado de melhor forma, acrescentado a vacinação das farmácias aos bons resultados obtidos em anos anteriores”.

Numa perspetiva pedagógica este enfermeiro afirma que “importa ainda recomendar à população a prática de hábitos adquiridos durante a Pandemia provocada pela COVID-19, relativamente à prática de etiqueta respiratória, à higienização das mãos e ao distanciamento social aquando de sintomatologia compatível com síndrome gripal. O uso de máscara também poderá ser um excelente aliado, principalmente em locais de contacto com pessoas imunodeprimidas, como doentes crónicos, idosos e crianças”.

Avisos de falecimentos numa porta da Rua Visconde de Alentém, Lousada

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