Tipologias – VII | Escadaria
Na casa nobre lousadense há escadarias que revelam uma certa inquietude e infundem uma marcada ideia de movimento, outras «ostentam linhas severas, e outras revelam claramente a extravagância, a exuberância, a inquietação, (…).»1



Casas de Argonça, Juste e Renda: Escadaria perpendicular à fachada, com patim. Fotos: 2006, s/d e 2006 (arquivo particular de José Carlos Silva, exceto a foto da casa de Juste).
No exterior, a escadaria adquire um maior desenvolvimento, chegando mesmo a ter “um papel primacial,”2 como sucede nas casas de Vila Verde, Renda, Juste, Argonça. Sobre a escadaria da casa de Juste, Carlos de Azevedo referiu: «Revela inquietação e imprime uma acentuada noção de movimento. É curioso ver o choque da escadaria com a casa – esta definida pelo plano da fachada, estática e fixa à terra, aquela desenvolvendo-se em profundidade e caracterizada pela impressão de movimento.» 3

O acesso ao andar superior, faz-se normalmente, por uma escadaria exterior, em pedra. Persistem múltiplas combinações para assegurar o papel característico das escadarias como meio imprescindível entre dois ou mais andares. Também podem ter «funções simbólicas e processionais para assimilar a importância do movimento ascensional, e este efeito depende da largura, da inclinação e da altura.»4 É, pois, importante refletir sobre a relação dinâmica da escadaria com o edifício e da inquietação que desperta.



Casas de Ronfe, Bouça e Lama: patamar é por vezes alpendrado. Fotos (2006): arquivo particular de José Carlos Silva.
O patamar é por vezes alpendrado, como sucede nas casas da Bouça (Fachada Este), Cáscere (pátio interior), Juste (Fachada Sul), Lama (Fachada Norte e Oeste), Ronfe (Fachada Norte).
| Tipologias da escadaria da casa nobre do concelho de Lousada | |
| Casa | Escadaria |
| Argonça, Juste, Renda, Rio Moinhos e Real | Perpendicular à fachada, com patim |
| Alentém, Lama e Quintã | De um lanço e com patim |
| Bouça, Tapada | De dois lanços |
| Ribeiro, Ronfe, Seara, Valteiro, Seara | De dois lanços opostos |
| Porto | De três lanços e dois braços |
| Outeiro | De quatro lanços e dois braços |
| Vilela | De dois sentidos |
| Pereiró | Em caracol |
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1 – AZEVEDO, Carlos de – o. c., p. 53. CF. OLIVEIRA, Rosa Maria – o. c., p. 59.
2 – AZEVEDO, Carlos de – o. c., p. 72.
3 – AZEVEDO, Carlos de, – o. c., p. 72. Cf. COLE, Emily (Editor Geral) – A Gramática da Arquitetura. Lisboa: Centralivros, 2003. p. 330.
4 – “Similar a uma sacada, mas localizada ao nível do solo. Pode estender-se por um ou todos os lados da edificação.” BURDEN, Ernest – o. c., p. 337. Cf. “À saída da cozinha podemos encontrar também um pátio (…) ou um alpendre de pequenas dimensões.” FAUVRELLE, Natália – o. c., p. 60.
Obras consultadas:
– A Gramática da Arquitetura. (Emily Cole, Editor Geral). Lisboa: Editora Centralivros, 2003.
– AZEREDO, Francisco de – Casas Senhoriais Portuguesas. Viagens de Estudo Do IBI. Braga: Oficinas Gráficas da Livraria Cruz, vol. I, 1978.
– AZEVEDO, Carlos de – Solares Portugueses. Introdução Ao Estudo Da Casa Nobre. 2ª Edição, [s/l]: Livros Horizonte, 1988.
– AZEVEDO, José Correia de – Portugal Monumental-Inventário Ilustrado. Lisboa: Edições Nova Gesta, vol. III, 1992.
– Dicionário Ilustrado de Arquitetura, Ernest Burden, São Paulo: Bookman, 2002.
– OLIVEIRA, Rosa Maria – Portões e Fontes do Concelho de Lousada. Lousada: Edição da Câmara Municipal de Lousada, 2003.
– Natália Fauvrelle, Quintas do Douro. As Arquiteturas do Vinho do Porto. Cadernos da Revista Douro – Estudos Monográficos. Porto: GHEVID, 2001.

José Carlos Silva
Professor / historiador













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