O retratista dos presidentes

PAULO NATALINO BARROS, 70 ANOS

Foi músico, administrativo, empresário têxtil, jogador de futebol, combatente no ultramar, mas revelou-se ao mais alto nível na pintura. Os Presidentes de Câmara, que Lousada já teve, foram retratados por Paulo Barros e expostos no salão nobre dos Paços do Concelho. É um exemplo entre outros trabalhos que exemplificam a dedicação deste artista lousadense à sua terra através da arte. Confessa-se bairrista “de alma e coração” e embora a residir em Londres, vive a terra natal com uma paixão inolvidável.

Longe vão os tempos da meninice e adolescência de Paulo Barros, que recorda Lousada da década de 1960 como “uma Vila pequena, ainda com muitos quintais no centro da Vila, ótima para morar, muito calma, onde toda a gente se conhecia, longe dos grandes centros, embora com transportes públicos de acesso aos mesmos”.

Apraz-se com o desenvolvimento que se vive hoje: “os residentes em Lousada, desfrutam de ótimas infraestruturas desde rodoviárias, desportivas e outras, ao saneamento básico como o abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza e arranjo urbano, valências estas fundamentais para elevação do nível de qualidade de vida e bem estar da população”.

Estudou muito ao longo da sua vida e através do estudo fez-se pintor por si próprio. Fez o ensino primário na escola primária da Vila, tendo como professores até à Quarta Classe (hoje 4º ano), com os professores António Ildefonso dos Santos e o Professor Nelson.

Com 10 anos, ingressou no Externato Eça de Queirós, para o ano de Admissão ao Ciclo Liceal, tendo neste ano como professores, Rosa Maria Moreira e Luís Pinto. “Estudei ali até aos meus 16 anos, concluindo o 5º ano Liceal, que é o atual 9º ano e depois fui para o  Liceu Nacional de Guimarães”, acrescenta.

Paulo Barros_Jogador da ADL 1968

Findos os estudos do Curso Liceal, “aquando os meus 16 anos, o meu pai, como parte de uma paternidade ativa que sempre tive e como convém no crescimento e desenvolvimento dum filho, ainda me questionou sobre o meu interesse, em continuar os estudos, com vista a uma licenciatura futura. Disse-lhe que não queria estudar mais”.

Explica Paulo Barros que, naquela ocasião, “como qualquer jovem, tinha pressa de me tornar um adulto autónomo, mais confiante, independente e responsável nas minhas ações. A ideia, era trabalhar, ter uma remuneração mensal, uma autonomia e tentar criar uma reserva financeira pois, «tinha à perna», o serviço militar obrigatório daí a três anos”.

O primeiro emprego surgiu aos 17 anos, nos escritórios da FAMO, uma empresa local, Industrial do Sector Metalomecânico, de mobiliário de escritório e hospitalar.

Depois de concluído o Serviço Militar Obrigatório, “fiz uma parceria com um amigo meu e criamos a ARPAL- Indústria de Confeções. Foi um projeto interessante, em que se trabalhava a feitio, para marcas estrangeiras conceituadas. Vendemos a firma em finais da década de 1980”.

Foi, a partir daí, que entendeu dedicar-se, exclusivamente, às Artes, “optando assim, pela  paixão de sempre, já que, desde sempre desenhava e pintava”. Para trás ficou a prática desportiva. “Sempre gostei de praticar desporto. Enquanto estudante, fiz parte de equipas do Externato Eça de Queirós, nas modalidades de Voleibol, Futebol e Atletismo, entrando em todos os Campeonatos Regionais e Nacionais, no âmbito das atividades do Desporto Escolar”, recorda.

Sequelas da Guerra em Moçambique

Mas foi no futebol que se destacou. “Enquanto atleta federado, fiz parte dos Juniores da Associação Desportiva de Lousada. Não fosse o ingresso na vida Militar e a ida para Moçambique (Guerra Colonial), quiçá teria dado continuidade como futebolista”, descreve.

Também tinha dotes para a música, tendo feito parte da banda lousadense de 1970 chamada Kriptons. Também isso a guerra cancelou.

“Todos sabemos que, a Guerra Colonial perpetrada em Angola, Moçambique e Guiné, ceifou vidas, devastou famílias deixou profundas marcas físicas e psicológicas em muitos daqueles ex-combatentes que com ela se cruzaram, cujo impacto se estende até aos nossos dias e que o tempo, dificilmente, conseguirá cicatrizar”, relata o nosso entrevistado.

Combateu em Moçambique e “não querendo falar em stress pós-traumático do tipo agressivo, incapacitante, caracterizado por cognições negativas, pensamentos intrusivos, pesadelos, etc., que muitos afetou, sabemos que, os traumas associados à guerra, são diversos”, explica.

Paulo Barros

No seu caso, “o único trauma que senti foi, sem dúvida, o meu estado emocional passar a ser mais agitado, irritado, como que estivesse em um estado de excitação negativa, depois que regressei, isto é, crise de nervosismo”, revela Paulo Barros, que se recorda da sua mãe lhe dizer que “antes de ir para o Ultramar era uma pessoa calma e depois enervava-me com facilidade”. Acerca disto conclui que “felizmente, o tempo vai limando e o temperamento é hoje, muito mais estável”.

Pintor autodidata e galardoado

O seu tio Miguel Barros, relojoeiro de profissão, foi um desenhador muito criativo e conhecido pelos desenhos feitos em guardanapos de papel à mesa de cafés e restaurantes. Também era um exímio pintor, sobrelevando-se a pintura de cenários gigantes que enriqueciam e embelezavam os palcos onde se desenrolavam, à época, as famosas “Revistas à Portuguesa”.

“Conversava muito com ele e cheguei mesmo a assistir e até ajudar, na elaboração de alguns cenários. Tal como ele, a minha vocação para a Arte, surgiu muito cedo em mim, pois comecei a desenhar e a pintar quando era ainda pequeno e não mais parei. Também eu, sou um autodidata pelo que, a capacidade de aprendizagem por conta própria, torna-se uma habilidade essencial”, revê Paulo Barros.

O segredo do sucesso da sua carreira de artista plástico é assim explicado: “é praticar muito e aplicar os conhecimentos que vamos adquirindo, em projetos pessoais. Aprender por conta própria, leva tempo e muita dedicação. Não se pode esperar resultados instantâneos. Trocar ideias e compartilhar o que se aprende com outros artistas, é uma ótima maneira de aprofundar os nossos conhecimentos. Ajuda a melhorar a autoestima, reduz sobremaneira o stress, a depressão e a ansiedade”.

Recorda com saudade e orgulho que a primeira exposição pública aconteceu “nos finais dos anos 80, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lousada já que, nessa altura, não havia local próprio, em Lousada, onde expor. Esta exposição, funcionou como uma espécie de rastilho para muitas exposições individuais e coletivas que, até hoje se seguiram, realizadas em todo o País como, e também, no estrangeiro – Espanha, França e Inglaterra”. Foi agraciado com a Medalha de Prata de Mérito Municipal de Lousada, como Artista Plástico na década de 1990.

Decidiu encetar novos desafios e isso levou-o “há alguns anos, a trabalhar entre Portugal e Inglaterra, onde me vou mantendo, fazendo parte de uma Associação de Artistas”.

Paulo Barros

Para este lousadense “a Arte, é fazer sentir, é experimentar emoções e dentro disto, há pinturas que são tão marcantes para mim que surgem logo na memória”. No manancial de obras que já produziu destaca “Os retratos dos Presidentes” e explica que “foram executadas num género de pintura algo difícil que é o Retrato Pictórico, com o objetivo de representar a aparência visual de figuras públicas Louzadenses que, a partir da Implantação da República (1910), marcaram a História da Presidência dos Paços do Concelho de Lousada”.

Central na sua vida, a arte “tem uma importância significativa para mim, foi sempre uma fonte de prazer, inspiração e bem estar. Ajudou-me a trabalhar os meus próprios sentimentos, tornando-me mais sensível às emoções dos outros. Contribuiu em muito e de maneira positiva, para vários campos e setores da minha vida, tornando possível a criação de grandes amizades e novos laços sociais”, conclui Paulo Natalino Barros.

2 Comments

  1. Luiz de Magalhães Pereira

    Estou no Brasil há 74 anos.
    É um praser vêr uma notícia destas, quando se é primo em primeiro grau deste artista.

    Reply
  2. SARA BARROS

    Exatamente como diz o primo Luiz Magalhães Pereira,

    O Tio Paulo é um orgulho, uma verdadeira inspiração para nós, geração que descende da avó Júlia Dias de Magalhães Barros e do avô Rogério Magalhaes Barros, que são nossos ascendentes comuns, pais dos maravilhosos e talentosos irmãos Magalhães Barros.

    Sara Magalhães Barros
    Porto
    06.03.2025

    Reply

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