Descobriu um talento contra a sua vontade

MAESTRO ELISEU CORREIA

A intensa atividade e o nível filarmónico da Banda Musical de Lousada (BML) tem recebido elogios de vários especialistas, que apontam como uma das causas disso o papel do maestro Eliseu Correia. Nado e criado em ambiente filarmónico, este trofense estudou na Escola Superior de Música de Lisboa e especializou-se em trompete, o seu instrumento preferido. “Os meus dois avôs gostavam bastante de bandas filarmónicas. O meu avô paterno costumava ir no autocarro da Banda da Trofa para as romarias todas que a banda fazia. Acabou por pegar o bichinho ao meu pai. Então o meu pai começou também a ir ver as bandas e gostava que eu fosse com ele. Eu ia só para lhe fazer a vontade porque não ligava muito. Devia ter uns 7 ou 8 anos. Entretanto, o meu pai queria que eu fosse aprender música e entrei na escola da Banda da Trofa, uma vez mais, só para lhe fazer a vontade. Depois o meu pai soube de uma escola profissional de música, a Artave, fui fazer provas e fui selecionado. A partir daí a vontade e o gosto foram crescendo  e acabou por ser natural seguir esta vida a nível profissional”, resume Eliseu Manuel da Costa Correia.

Além de dirigir a Banda Musical de Lousada, o maestro Eliseu Correia é professor de trompete e classes de conjunto no conservatório de música Centro de Cultura Musical, na zona do Vale do Ave. É também maestro da Orquestra Sinfónica do Ave.

“A minha ida para a Banda de Lousada aconteceu através do Romeu Silva, o antigo maestro. Já éramos amigos na altura. Comecei ainda no tempo do Sr. (Alberto) Vieira, tocando nas festas que podia, porque ainda estava noutra banda. No ano seguinte o Romeu assumiu a direção em Lousada e eu vim como músico efetivo”, relata o maestro.

O convite para assumir a regência da BML surgiu há dois anos. “Apesar de me deixar bastante contente pelo convite e com vontade de aceitar, pois gosto muito da área de direção de banda e orquestra, teve que ser uma decisão bem pensada pois a responsabilidade é muito grande. A banda estava num nível muito bom, reconhecida no panorama musical e recebia muitos elogios, logo a responsabilidade de suceder o Romeu e manter o nível era grande”, explica.

Três maestros em 40 anos: Alberto Vieira, Romeu Silva e Eliseu Correia

Conhecer o grupo de trabalho foi um fator importante, pois “já conhecia muito bem o nível da banda, o seu funcionamento, a direção, o projeto” e no seguimento disso, considera que tem superado “as expectativas realistas” que criou. Acrescenta que está “bastante contente como as coisas têm corrido até aqui. O ambiente na banda é muito bom. Tenho um grupo de pessoas fenomenais e que ao mesmo tempo são uns músicos incríveis e uma direção que me apoia em tudo,e aqui tenho que salientar (os outros não me levarão a mal) o sr. Ferreira e a Cristina Baptista, que tratam de tudo para eu pensar exclusivamente na parte musical. Sou um privilegiado por ter um grupo assim”, revela Eliseu Correia.

BANDAS, FONTES DE CULTURA

As bandas filarmónicas são verdadeiras instituições  culturais do nosso país. Convém não esquecer que durante muitos anos foram, em grande parte do nosso território, as principais impulsionadoras do ensino da música e, muito possivelmente, o único contacto que muita população teve com qualquer agente cultural. A única cultura que a maior parte das nossas gentes “consumia” era através das bandas. Irem ouvir os concertos, na igreja da terra, no arraial da festa…E acho muito importante manter estas instituições. Quem toca numa banda, além da cultura musical que desenvolve, fortalece o sentido de pertença, de união… São verdadeiras famílias, onde os mais novos aprendem com os mais velhos, os amadores se desenvolvem junto dos profissionais. É difícil encontrar nas outras áreas um grupo tão heterogéneo e ao mesmo tempo tão homogéneo. Com tanta diversidade e com um resultado comum, fazer música! E poderia dar muitos mais exemplos das vantagens das bandas filarmónicas, mas não sairíamos daqui tão cedo. Por isto tudo, acho que as entidades culturais, estatais e locais, deveriam olhar para as bandas com outros olhos. E falo, concretamente, nos apoios que dão ou deveriam dar. Ou melhor, não dar, mas investir. É investir em cultura, e nenhum povo se desenvolve sem cultura. Será possivelmente a principal dificuldade das filarmónicas atualmente, a falta de financiamento e de apoios. Não me alongo mais, pois este tema é muito complexo e poderia ser feito um artigo completo sobre ele…

RESPEITAR OS INTÉRPRETES

Nem sempre é fácil tocar ao ar livre, em romarias onde há ruídos de vária ordem. E públicos pouco respeitadores. Se o barulho “for durante um concerto, num auditório ou num espaço fechado, sim incomoda-me haver ruídos, principalmente pessoas a falar, não só como músico ou maestro, mas também colocando-me no papel de público”, assevera o músico. Tudo isso por uma questão que lhe é muito cara, o respeito. “Pelos intérpretes, é preciso respeito, evitando falar durante o concerto e ter os telemóveis desligados”, sublinha.

Maestro Eliseu Correia e presidente José Alberto Ferreira_Banda Musical de Lousada

“Há uns tempos, estava a assistir a um concerto e tocou um telemóvel 3 ou 4 vezes, entretanto parou. Uns segundos depois, apercebi-me que o dono do telemóvel tinha atendido a chamada e estava a conversar durante o concerto. Acho isso inacreditável e uma grande falta de respeito”, conta Eliseu Correia.

Quanto ao barulho “em contexto de arraial, é normal haver barulhos, pessoas a conversar, o sino a tocar… Claro que o ideal seria ter um público em grande quantidade, sempre atento e silencioso durante a interpretação das obras, mas são coisas que não controlamos e por vezes são condições difíceis de conseguir ao ar livre”. Compreende que “esta ou aquela pessoa até veio para ouvir as bandas, mas encontra alguém que já não via há algum tempo e passa a haver um misto de conversa intercalado com ouvir a banda”, ressalva.

Nos arraiais, “incomoda-me se estiverem pessoas a falar demasiado alto e perto dos palcos ou coretos”. E conta que “há uns anos atrás, ainda era eu adolescente, estava uma banda a tocar e quase no início, um músico entrou uns compassos fora do sítio. A banda ficou desencontrada e estava bastante difícil conseguir corrigir a situação. O maestro, já batido nestas andanças, aproveitou o facto de estarem uns senhores mais velhos a conversarem alto ao pé do palco, parou a banda, e virou-se para os senhores dizendo: «meus senhores, assim não conseguimos tocar, com vocês a falarem tão alto». Óbvio que aproveitou a situação para recomeçar a obra e resolver o seu problema, mas na verdade também estava a ser incómodo as pessoas a falarem tão alto perto do palco”.

Nem só de romarias vive a BML, que neste Verão tem, como sempre, uma atividade muito intensa. No final do ano vai surgir um CD. Sobre isso, Eliseu Correia revela que “será um CD bastante eclético, com obras e estilos diversificados, desde o pasodoble, passando pela marcha de rua, obras originais para banda, obras portuguesas, etc”. E acrescenta que a gravação será realizada no auditório de Sousela, em Outubro, e o CD deverá estar pronto no final do ano.

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