TENTATIVA DE REVITALIZAÇÃO PARA EVITAR INSOLVÊNCIA
Há muito que se vem notando uma crise quase generalizada no setor das cooperativas agrícolas e vinícolas. Algumas conseguem reinventar-se e dar a volta à crise, mas outras colapsam. No caso da Adega Cooperativa de Lousada, há muito que o cenário é pessimista e embora a esperança seja a última a morrer para os apaniguados desta vetusta entidade lousadense, começa a faltar o ânimo a muitos. Na última Assembleia Geral foram apresentadas as contas do último ano, as quais revelam um saldo negativo superior a um milhão de euros.
A banca é quem reclama o maior montante a esta cooperativa lousadense. O valor ascende a 700 mil euros e é a maior fatia do déficit, onde a dívida a fornecedores de uvas ocupa também plano de destaque nas contas negativas.
A incapacidade de cumprimento das obrigações bancárias motivou uma determinada instituição financeira a interpor uma ação judicial contra a Adega.
Em reação a isso, a visada solicitou ao Tribunal Judicial da Comarca do Porto Este – Juízo de Comércio de Amarante a implementação de um Processo Especial de Recuperação (PER). Isto consiste num mecanismo legal que permite às empresas e outras entidades, como é o caso das cooperativas, em situação económica difícil ou de insolvência iminente, negociar um plano de recuperação com os seus credores, em alternativa ao processo de insolvência. Este processo visa permitir que a empresa continue a operar, revitalizando a sua atividade.
Segundo uma convocatória a que tivemos acesso, “a Adega entende que reúne as condições necessárias à sua recuperação e, com a colaboração dos credores, poderá superar as dificuldades económicas decorrentes da atual conjuntura económica e da situação financeira em que se encontra”.
A renegociação das dívidas são o ponto principal do PER. Deste modo, a direção da Adega convidou os credores “a participar nas negociações, com o propósito de obter um acordo para pagamento das suas dívidas, de forma a viabilizar as medidas que venham a ser adotadas para a reestruturação e consolidação financeira”.
Este procedimento parece ser o último recurso da Adega Cooperativa para a sua sobrevivência, pelo menos nos moldes atuais. Se a esperança ainda faz mover uns quantos, são vários os fatores adversos.
O Louzadense apurou que a última Assembleia Geral (AG) da Adega Cooperativa foi bastante concorrida, mas apenas um dos três elementos da Direção esteve presente. Quem marcou presença foi o Administrador Judicial Provisório, que está a acompanhar o processo tendente à apresentação do referido PER.
Contactado pelo nosso jornal, António José Couto dos Reis, o presidente da Direção confirmou a sua ausência daquela reunião magna, mas informou que enviou uma carta “para ser lida nessa AG e não para ser divulgada cá fora”. E mais não nos disse.
O desânimo de muitos cooperantes tem vários focos. Um deles incide na dívida aos cooperantes que forneceram uvas à Adega. Nalguns casos está por pagar o fornecimento de uvas anteriores a 2022. Quem tinha dinheiro a haver de uvas anteriores a esse ano já não o recebe, conforme deliberado naquela Assembleia Geral. Na ocasião foi também aprovado que quaisquer juros a haver por parte de cooperantes também não serão pagos.
MERCADO AMERICANO COMPLICA SETOR
A apreensão agrava-se pois é sabido que o setor do vinho já não estava de boa saúde e está a piorar, muito por causa da instabilidade internacional gerada pelas tarifas americanas.
O montante de juros bancários são da ordem dos três mil euros mensais, o que é considerado por muitos como incomportável. Mas a cooperativa não quer «atirar a toalha ao chão» e está a intentar a apresentação de condições para o tribunal aprovar o referido Processo Especial de Recuperação, num prazo de dois meses.
Uma fonte bem posicionada neste processo, mas que solicitou anonimato disse-nos que “toda agente que está envolvida nisto ou que acompanha a vida da Adega com atenção, sabe que os problemas que se são conhecidos não serão certamente os únicos e até serão apenas uma pequena ponta de um iceberg muito maior, que só se descortinará se houver uma investigação a fundo”. A mesma fonte acredita que “ainda há uma pequena réstia de esperança para a sobrevivência da Adega” e deu o caso de outras adegas “nomeadamente de Famalicão, de Barcelos e de Penafiel, que atravessaram graves crises e transformaram-se, com uma forte aposta na profissionalização e na modernização da sua gestão”.
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