ALBERTO BABO, DIRIGENTE DO F.C. PORTO
Nasceu há 78 anos na Sanguinha, freguesia de Meinedo, em Lousada. É uma das maiores sumidades do basquetebol e um dos mais titulados em Portugal nessa modalidade, não apenas como jogador, mas também como treinador. Destacou-se igualmente como formador de treinadores. Atualmente, Alberto Babo é dirigente do F.C. Porto para as modalidades de andebol, hóquei em patins, voleibol e, claro, basquetebol. Nesta entrevista a O Louzadense, o tema central foram as memórias da infância e juventude na sua terra natal.
Os pais eram naturais de Meinedo e de Caíde, mas é da Sanguinha que guarda as memórias mais vivas da infância. Foi ali que cresceu, entre a casa dos avós paternos e a família materna, e onde criou laços fortes com os primos — laços que, segundo conta, o acompanham por toda a vida.
“Quando somos jovens, falamos a mesma linguagem, temos os mesmos hábitos, gostamos das mesmas coisas, brincamos juntos. Essa ligação fica sempre”, recorda.
A voz de Babo muda quando fala desses tempos — abranda, ganha ternura. “A vida era simples, mas inteira. O campo, o cheiro da terra molhada, o som dos comboios ao longe… tudo isso faz parte de mim. Ainda hoje, quando passo por lá, sinto que volto a ser aquele rapaz da Sanguinha.”
Entre as memórias mais queridas estão os famosos melões de casca de carvalho, cultivados na parte baixa da Sanguinha, junto à linha do comboio. “Era das coisas melhores que eu comia. Hoje ainda se encontram, mas são caríssimos e sem o sabor de antigamente”, lamenta, com um sorriso nostálgico. Para Babo, aquele melão merecia ser um símbolo de Meinedo, pela qualidade e pela marca que deixou em quem o provou.
A infância também foi feita de aventuras — as brincadeiras à volta da fogueira, as subidas aos montes, as caçadas inocentes de coelhos ou aves e as festas de Santo Tirso, em agosto, com a sua procissão e as bandas de música. “Toda a gente tinha de estar bem vestida, com o casaquinho e a gravata, íamos com os pais. Essas memórias não acabam nunca, porque a juventude marca-nos.”
Com o passar dos anos, Meinedo transformou-se. As ruas foram alisadas, surgiram passagens sobre a linha do comboio e a nova igreja em construção, redonda e moderna, substituirá a antiga em granito. “Ainda não entrei lá dentro, mas passo muitas vezes por perto, a caminho do cemitério, onde repousa a minha família”, partilha Alberto Babo.
Hoje vive no Porto, onde construiu a sua vida profissional, mas mantém uma relação afetiva com as origens. Regressa em datas especiais, nas festas e visitas ao cemitério, e fala com carinho das pessoas da terra.
“Tenho raízes e frequentemente venho por Meinedo fazer um passeio e almoçar ao domingo. Olhe, ainda esta semana fui almoçar ali perto, num sítio tradicional que me diz muito, apesar de não ser em Meinedo, mas na vizinha freguesia de Novelas — na Adega Novelense. Nós nascemos num sítio, e isso nunca se perde”, diz, encerrando a conversa com a serenidade de quem sabe e preza a terra de onde veio.
CARREIRA BRILHANTE
Quando o seu pai foi colocado na Polícia de Segurança Pública, em Campanhã, Alberto passou a viver naquela parte da cidade do Porto, onde o desporto fervilhava. Primeiro foi futebolista. Dizem que tinha jeito e que chegaria longe. Jogou nas camadas jovens do F.C. Porto, no campo da Constituição. Mas a paixão pelo basquetebol falou mais alto.
Os títulos surgiram no início dos anos 70 e, por três vezes, foi campeão nacional de dragão ao peito, ao lado de outros notáveis da modalidade, como o norte-americano Dale Dover e Fernando Gomes, anterior presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Apesar dos seus 1,78 m de altura, Babo agigantava-se na agilidade e na leitura do jogo. Foi um basquetebolista de índole defensiva, reconhecida por todos.
“Aprendi muito com os melhores e potenciei sempre o trabalho de equipa, de conjunto, a inteligência, o saber, não apenas o executar”, sublinhou.
Criou uma geração de ouro no F.C. Porto como mentor da formação e foi adjunto de Jorge Araújo. Assumiu as funções de treinador principal e, na época de 1998/99, fez a primeira dobradinha da carreira ao serviço dos azuis e brancos — feito repetido em 2005. Formou atletas de elite nacional, como o malogrado Paulo Pinto, o exímio atirador Nuno Marçal, o base fabuloso Rui Santos e tantos outros.
“Treinar é muito mais do que ensinar técnica. É perceber pessoas. É ajudar miúdos a crescerem, a acreditarem em si, mesmo quando o mundo lhes diz o contrário. Isso é o que me moveu sempre.”
NUNCA DESISTIR É O SEU LEMA
Conhece de perto a realidade do desporto regional, sobretudo no que diz respeito ao basquetebol e também em Lousada, onde reconhece muita dedicação à modalidade.
“Tenho a sorte de ser coordenador de cursos e orientador de treinadores e, nessas funções, conheço as realidades locais. O que lhes digo sempre é que apostem na formação e na orientação, na persistência, na dedicação. O meu lema é ‘nunca desistir’, e até boas surpresas acontecem”, avisa.
Dá vários exemplos de situações dessas que se passaram consigo ou que presenciou ao longo da sua carreira. Um dos exemplos diz respeito a Dale Dover, segundo ele “um dos melhores jogadores que Portugal já viu, mas no primeiro jogo, contra o Gaia, fez zero pontos, o que nos decepcionou bastante. Mas acabou por se revelar um treinador e um jogador de nível mundial. Algo muito parecido aconteceu com o Elvis Évora, que demorou a afirmar-se, mas com a tal persistência e esforço tornou-se num dos melhores jogadores da sua geração”.
“Atenção ao que vou dizer: sempre incentivei os atletas a estudar. Aliás, nos dois dias anteriores aos exames eu não os deixava treinar. Eu próprio estudei muito. O Paulo Pinto, por exemplo, estudou Medicina e era médico. Portanto, nada de más interpretações ao que vou dizer e que me parece importantíssimo mudar em Portugal: as escolas ocupam demais os miúdos. Deviam dar-lhes tempo para o desporto. É uma área fundamental no crescimento de cada pessoa, pois permite disciplina, trabalho de equipa, amizade e camaradagem — que é o que mais importa para a vida”, enfatiza o especialista, para quem a pedagogia desportiva faz a diferença e constrói homens ao mesmo tempo que forma atletas.
Não é qualquer pessoa que o diz: é o professor Alberto Babo.














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