Neste especial dedicado à freguesia de Lustosa, vamos destacar a nível desportivo a atleta lustosense Sara Catarina Ribeiro, de 28 anos, que tem elevado o nome de Lustosa e do seu concelho, Lousada, aos mais altos patamares do atletismo nacional e europeu.
Atualmente, é uma das campeãs da Europa de corta-mato feminino, tendo sido campeã nacional de corta-mato em 2018.
Após uma aposta individual, quais foram as razões para ingressares de novo num clube?
Eu, em 2016/17, optei por ficar em individual, concentrar-me nos meus objetivos pessoais e individuais. Mas depois, em 2018, surgiu uma proposta boa para mim, com um projeto aliciante e, claro, aproveitei para fazer parte desta equipa, pois é uma das melhores equipas de sempre. Ficarei até 2020 no Sporting Clube de Portugal e depois logo se vê.
Ao longo da tua carreira, já são inúmeros os prémios que alcançaste. Quais são aqueles que destacas?
O que me deu um pouco mais de projeção e criou impacto, pois é um dos títulos que a maior parte das atletas ambicionam, foi ser campeã de corta-mato, no ano passado, 2018. Sagrei-me campeã nacional quando nada o fazia prever. Já este ano, tentei revalidar o título, e acabei por ser vice-campeã nacional. A concorrência foi fortíssima. Este é dos títulos que mais me motiva ou motivou nestes últimos tempos. Ter sido campeã da Europa por equipas também é muito bom e faz do Sporting um clube ainda mais competitivo, não só a nível nacional, mas também numa perspetiva diferente, internacional. É diferente sermos campeões da Europa! As equipas vão apostando nalguns atletas africanos. Mesmo assim, conseguimos revalidar o título. O grupo português é muito forte e temos uma equipa muito coesa, daí estarmos muito próximos.
Sente-se um Cristiano Ronaldo de Lousada nesta modalidade?
Eu não me sinto o Cristiano Ronaldo. Sinto-me normal. Tento dar o meu melhor no meu trabalho. Não tenho o objetivo de ser a melhor de Lousada. Tento contribuir com os meus resultados e levar o nome de Lousada mais além. Lousada pode até ser um concelho pequeno, mas em termos desportivos somos um concelho muito grande. Cabe-me a mim também trabalhar para ser melhor, pois aqui há muitas modalidades e muito boas. Eu sou sozinha, tenho um trabalho mais complicado, mas fico contente pelo povo lousadense já me reconhecer na rua e me apoiar nas competições. Claro que isso me motiva ainda mais.
Quais são os principais objetivos desportivos?
O meu sonho, desde pequena, é ir aos Jogos Olímpicos, é para isso que estou a trabalhar. Quando me entrevistaste em 2016, já o era, e espero daqui a um ano já ter um pezinho lá. Mas, para já, está um bocadinho complicado. Depende de mim, mas também vai depender da competitividade. Felizmente, temos atletas em Portugal de grande valia, o que torna a minha vida complicada. Neste momento, somos cinco com apenas três vagas. Vai ser uma luta complicada, mas vou dar o meu melhor, para procurar conseguir ir, tanto aos dez mil metros como à maratona. São estes os meus objetivos.
Como surgiu o atletismo na tua vida?
Quem me trouxe para o atletismo foi o meu atual treinador, Joaquim Santos, ele e o Rui Ferreira. Pratico desde os meus 11 anos e já vem desde há bastante tempo. Curioso que não foi em Lustosa. Já participava nos campeonatos escolares, depois cheguei a vir a uma prova à pista da Costilha e, nesse ano, o meu treinador reparou em mim. Achava-me muito magrinha. Já tinham surgido convites, mas ele conhecia bem o meu pai e convidou-me para ir para o FC Vizela. O meu pai deixou. Começou assim e tornou-se pouco a pouco bem mais sério.
O que é importante ter para ser um atleta de alta competição?
Acima de tudo, temos de ser competitivos e ser bons, mas o requisito principal é querer.
Não é fácil. É até bastante complicado. Temos de treinar, independentemente das condições climatéricas, tem de haver sempre vontade, temos de dedicar-nos todos os dias a cem por cento, mesmo com problemas familiares, temos de conseguir separar as coisas e tentar dar o nosso melhor. É muito físico, mas também é muito psicológico. Neste momento, estou a preparar-me para uma maratona, tenho de treinar uma média de duzentos quilómetros por semana, com muita disciplina, descanso, treino… É tudo muito rigoroso. Se queres chegar ao mais alto nível, tens mesmo de ser assim.
Como sentes quando não consegues terminar uma prova ou não alcanças os objetivos desportivos?
É muito complicado, pois é um sentimento de frustração, ficamos muito inseguros, parece que tudo o que fazemos não vale a pena. Depois, pões tudo em jogo, tudo em dúvida, até já pensei em desistir. Julgo que, se houvesse um momento muito complicado, acabaria por abandonar mesmo. Chegamos a uma fase onde tu pensas: fizeste tudo direitinho, o que é que falhou aqui? Mas depois, com o treinador, amigos e família, acaba por se tudo ultrapassado. Gosto muito do que faço e, enquanto houver esta paixão, a chama não se vai apagar.
Até quando?
Ainda tenho alguns anos pela frente. Posso até parar, pois gostava de ser mãe. Se não tiver lesões, pode prolongar-se até aos 40, 43 anos. Depende muito da minha saúde e do meu estado físico.
Tens algum ídolo?
Quando era mais nova, nas provas da pista da Costilha, uma das convidadas era a Fernanda Ribeiro, e eu ficava contente por estar lá com ela. Mais tarde, cresceu comigo no FC Vizela a Dulce Félix, que era também uma das minhas referências.
Que projeto é este “Vem correr com Sara Ribeiro”?
É um projeto marcha e corrida. É promovido a nível nacional, em conjunto com a Federação de Atletismo. Eu lembrei-me de ser eu a contactar a Câmara e ficar à frente deste projeto e eles deram-me essa possibilidade. Neste momento, ainda não estou a exercer, pois falta ter o curso de treinadora, mas, a partir de outubro, já o vou tirar. Criamos aqui um projeto de vir treinar com a Catarina Ribeiro, não para correr ao meu lado, mas mais projetado para aquelas pessoas que queiram começar a iniciar a prática desportiva e praticar algum exercício. Os treinos realizam-se às terças e quintas-feiras, a partir das 19h. Esta iniciativa é aberta a toda a comunidade. Vale a pena.
Curriculo desportivo |
Catarina Ribeiro iniciou a sua carreira de atleta no Futebol Clube de Vizela, clube em representação do qual foi campeã nacional juvenil em 2006 e júnior em 2008, ambas as vezes na corrida dos 3000 m. Nesse período, também obteve alguns bons resultados no corta-mato, nomeadamente um 2º lugar no Campeonato Nacional de Juniores em 2008 e os terceiros lugares nos Nacionais de Juvenis em 2007, de Juniores em 2009 e de sub-23 em 2010, tendo participado em três edições dos Campeonatos da Europa de Corta-Mato Júnior, obtendo como melhor classificação um 10º lugar em 2009. No final do ano de 2010, transferiu-se para o Sporting de Braga. Na época de 2011, foi vice-campeã de Portugal nos 5000m e, na categoria de sub-23, foi campeã nacional nos 3000 m e vice-campeã nos 1500m e no corta-mato. Iniciou a época seguinte com um 15º lugar no Europeu de Corta-Mato no escalão de sub-23, ajudando a Seleção Nacional a conquistar a medalha de bronze nessa competição, num ano em que, ainda nesse escalão etário, foi vice-campeã nacional de Crosse Curto e de Estrada e 3ª classificada no Campeonato Nacional de Corta-Mato. Em junho de 2012, Catarina Ribeiro conquistou a medalha de bronze na corrida dos 3000 m dos Campeonatos Ibero-Americanos, que se realizaram em Barquisimeto na Venezuela, isto para além de ter sido 4ª classificada nos 5000 m dessa mesma competição. No final da temporada, transferiu-se para o Sporting Clube de Portugal, fazendo a sua estreia a 14 de outubro de 2012 e logo com uma vitória na 2ª Corrida Sporting, numa época em que foi 10ª classificada no Campeonato da Europa de Corta-Mato no escalão de sub-23, terminando o ano a ganhar a São Silvestre do Porto. Já em 2013, foi vice-campeã nacional de Crosse Curto, contribuindo para a vitória coletiva do Sporting Clube de Portugal nesse campeonato. Iniciou a temporada seguinte com nova presença nos campeonatos da Europa de Corta-Mato, mas já na corrida principal, concluindo a prova no 39º lugar, isto depois de ter ganho o Crosse de Torres Vedras e de ter ficado em 2º lugar no Corta-Mato da Amora. Já em 2014 foi Campeã de Portugal nos 3000m em pista coberta e em março fez parte da equipa do Sporting que foi campeã nacional de corta-mato, um feito que o clube já não conseguia desde 1974, terminando a prova em 3º lugar. Fez parte da equipa do Sporting que conseguiu o histórico 2º lugar na Taça dos Campeões Europeus de Atletismo da época de 2014, vencendo os 3000m e ficando em 2º lugar da corrida dos 1500m. Representou Portugal no Europeu de Seleções de 2014 e, nesse mesmo ano, voltou a estar presente nos Campeonatos Ibero-Americanos, conquistando a medalha de bronze nos 5000m. No final do ano de 2014, transferiu-se para o Benfica e iniciou a época com mais uma presença nos Europeus de Corta Mato, uma competição onde voltou a estar presente no ano seguinte. Na temporada de 2017, passou a correr como individual depois de ter sido dado como quase certo o seu regresso ao Sporting, o que acabou por se concretizar no início da época seguinte. Em dezembro de 2017, foi a melhor portuguesa no Campeonato Europeu de Corta-Mato, terminando a prova no 18º lugar. Fez parte da histórica equipa do Sporting que, em 2018, ganhou pela primeira vez na história do Clube a Taça dos Campeões Europeus de Corta Mato Feminino, classificando-se no 10º lugar dessa prova. No dia 18 de março de 2018, foi campeã nacional de corta-mato, liderando a equipa do Sporting, que se sagrou bicampeã nacional da especialidade. Fez parte da equipa que ganhou a Taça dos Campeões Europeus de Atletismo em 2018, contribuindo com um 3º lugar nos 3000m. Ainda em 2018 foi a vencedora da Corrida Sporting e esteve presente nos Europeus de Berlim, onde foi 10ª nos 10000m, terminando o ano com mais uma presença nos Europeus de corta-mato. Em 2019, foi Campeã Nacional de Estrada. Fez parte da equipa que conquistou a Taça dos Campeões Europeus de Corta-Mato Feminino em 2019, concluindo a prova no 5º lugar. Vice-campeã Nacional corta-mato (Lisboa 2019) |
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