O folclore é entendido, em cada região ou país, como uma manifestação genuína das tradições culturais dos povos. O seu principal objetivo passa pela conservação e divulgação das tradições populares: – músicas antigas, modas (poesia e dança), canções populares, ditos locais, costumes, lendas, usos e costumes, quadras, sabedoria popular, etc.
Tal como o pintor usa cores diferentes para “estampar” na tela ideias e sentimentos, os escritores usam a linguagem escrita para transmitir estados de alma, sentimentos, ideias e provações, o povo usa a voz, a expressão corporal e o som produzido por objetos (os instrumentos musicais mais ou menos aperfeiçoados, mas construídos pela própria mão – artesanato) e toda a sua sabedoria em forma de experiências de vida, para exprimir as alegrias ou penas, o amor ou ódio, enfim, uma diversidade e naturalidade de formas e conteúdos.
Sem entender de música e de passos de dança elaborados, o povo apercebeu-se, ao longo dos tempos, do quanto era agradável ao ouvido a combinação de cantos e sons ritmados e usando a dança para se aproximar mais e “melhor” do parceiro que queriam cortejar e, os “bailes” como um meio de apaziguar a dureza dos trabalhos e motivar o júbilo nas festas e nos ajuntamentos normais de domingo, no adro da igreja ou debaixo do carvalho frondoso, ou ainda a caminho das Festas e Romarias onde se podia então, sem o “policiamento” do pai, namorar…
Nas Terras de Lous(z)ada, o folclore é muito bem representado por vários Grupos Folclóricos, que com toda a galhardia e empenhamento, de forma dedicada, abnegada, apaixonada e desinteressada fazem recolhas de tradições antigas, reúnem-se à volta do mesmo intuito de serem o mais fieis possíveis, dos usos e costumes e da etnografia da região em que estão inseridos – a região de Entre Douro e Minho.

Para além de vários “Ranchos” que se vão organizando pelas 25 freguesias que compõem o concelho de Lousada, salientamos aqueles que foram aceites pela Federação de Folclore Português, como sócios efetivos de pleno direito, já lá vão muitos anos (alguns nos finais da década de oitenta princípios da década de noventa do século passado) que praticam durante todo o ano, atividades várias de folclore puro e fiel às raízes etno-folclóricas da nossa região, mais intensamente nos meses de verão; durante festas religiosas e arraiais; nos Festivais de Folclore que cada Grupo organiza; nos intercâmbios culturais com outros Ranchos Folclóricos do nosso Portugal, nomeadamente das Ilhas da Madeira e Açores e com vários Grupos da Europa; em projetos culturais diversos, enquadrados, integrados e articulados com os eventos promovidos pela Câmara Municipal, pelas Juntas de Freguesia e por outras Associações culturais, recreativa e desportivas de que Lousada é rica, representando e comemorando determinadas fainas agrícolas dos trabalhos do linho (espadeladas e muitos outros “martírios” do linho), dos trabalhos do milho (malhadas e desfolhadas…) e das vindimas com os seus “cantares ao desafio”, entre outras muito próprias e características desta região a que vamos tentar dar enfase ao longo das crónicas que estamos a preparar.
Evidenciam-se, ainda hoje, os Grupos Folclóricos Federados do Concelho de Lousada: – Grupo Folclórico “As Ceifeirinhas do Vale Mezio”, Sousela, Lousada; Rancho Folclórico de Nogueira, Lousada; Grupo Folclórico e Cultural As Lavradeiras do Vale do Sousa, Meinedo, Lousada; Grupo Folclórico da Associação Cultural e Recreativa Srª Aparecida, Torno, Lousada; Rancho Folclórico Flores da Primavera de Nespereira, Lousada (a comemorar 60 anos de existência!…) e o Rancho Folclórico S. Pedro de Caíde de Rei, Lousada.
O grande marco do folclore de Lousada é traduzido pelas modas (danças e cantares) com acompanhamento de vozes e música e pelo conhecido “cantar ao desafio” onde dois cantores, normalmente um homem e uma mulher, improvisam alternadamente quadras com índole de sátira social.
Na nossa região, as danças típicas variam entre os Viras e Malhões, sendo a dança padrão o “Malhão” e seus derivados: – “O Malhão do Norte”, “O Malhão Roubado”; “O Malhão Traçado”, “O Malhão de Palmas” e “O Malhão da Nossa Terra”….
O Lousadense recria-se nas suas tradições folclóricas ao sabor de outras modas que trazidas por forasteiros que visitavam as nossas Festas e Romarias (em honra ao Santo Tirso em Meinedo, à Srª da Aparecida, à Srª do Amparo em Covas, Santa Águeda em Sousela, Senhora da Ajuda em Nevogilde, S. Pedro em Caíde de Rei, a às Festas Grandes ao Sr. dos Aflitos na Vila, e muitas outras….) imprimiam sabores de “Viras” e até de “Chulas”, nomeadamente o “Senhora da Pedra”, o “Regadinho”, a “Cana Verde”, o “Vira Velho”, o “Vira Vareiro”, o “Verdegar”, a “Dobadoira”, a “Rusga e a Galega”, entre outras.
A música, assim como a dança, do folclore lousadense, descrevem o amor, as tradições pastorais, e os momentos ligados aos trabalhos do campo, nomeadamente aos trabalhos do linho, do milho, do centeio e do vinho.
Os instrumentos usados no folclore lousadense são os instrumentos tradicionais como a concertina, o cavaquinho, a viola braguesa, o bandolim, o tambor e os ferrinhos.
(CONTINUA)
Comentários