Foram cerca de 2000 pessoas que participaram na terceira edição da Festa dos Vizinhos, realizada no passado sábado, uma iniciativa da União de Freguesias de Silvares, Pias, Nogueira e Alvarenga e que transformou a rua de Santo António, a mais histórica e emblemática de Lousada, numa rua cheia de alegria e de convívio entre os participantes.
Cascata inovadora celebra Festa dos Vizinhos

Sensivelmente no meio da rua, estava um dos destaques desta edição da Festa dos Vizinhos: uma cascata alusiva à Festa, esta diferente da habitual, que estava mais ao fundo da rua. Um grupo de vizinhos e amigos, Rosa Sousa, Paulo Rogério, Isabel Rodrigues, Rui Reis e o José Silva (“Toninho”) foram os executantes desta cascada. “Nós somos amigos e ele (Toninho) é o grande mentor das cascatas, o engenheiro. Nós andamos a reboque das ideias dele”, revela Rui Reis. Foi talvez em homenagem ao mentor que o grupo trazia nas t-shirts a designação “Os Toninhos”. Os Toninhos e as Toninhas.
Eles explicam como surgiu a ideia: “Nós decidimos associarmos à festa dos vizinhos e, uma vez que partilhamos o gosto pelas tradições, decidimos fazer uma cascata para a rua de Santo António, homenageando a própria festa. É o gosto de manter as tradições das cascatas populares”, refere Rui Reis. Na cascata, podemos observar pormenores, como o Monte dos Senhor dos Aflitos, mas também a representação da própria Festa dos Vizinhos. “Os pormenores da cascata são impressionantes, o que fez muitos participantes virem conhecê-la”, diz. Foi um trabalho de dois meses e meio, diário, com muita atenção aos pormenores: “É bom que as pessoas atentem a eles, pois foi com muito esforço que os fizemos”. A cascata serviu também para homenagear todos aqueles que tornam possível o evento: “Parabéns ao Fausto Oliveira, que trouxe esta ideia para cá. Partilharmos o jantar aqui com todos os nossos vizinhos é uma boa ideia. Este ano trouxemos o reboque de um trator agrícola, no próximo ano o desafio será uma Toyota Dyna”, remata Rui Reis, recorrendo à metáfora para mostrar o desejo de crescimento do evento.

Fausto Oliveira, presidente da União das Freguesias de Silvares, Pias, Nogueira e Alvarenga, salientou a forte adesão das pessoas ao evento, manifestando-se contente com toda a dinâmica criada: “Tem sido de facto espetacular. A razão disso são as próprias pessoas que agarraram esta iniciativa como sendo delas. Uniram-se, vieram para a rua e tornaram esta festa uma grande festa, uma festa de solidariedade, de intercâmbio de colaboração entre as pessoas, um bom ambiente. Tem sido uma festa espetacular”, regista, com satisfação, o autarca.
Em toda a extensão da rua, não faltou alegria, convívio, música e até teatro. Foram várias as atuações ao longo da noite, desde o conhecido ator lousadense Gonçalo Babo, na figura do António, que foi provando uns petiscos: “Eu vim aqui, pois tinha a Festa dos Vizinhos. Não fui convidado, mas cá estou eu. Trouxe a minha cenoura, mel, tenho um limão, pois doí-me a garganta. Até agora está ótimo, pois, no ano passado, perdi três quilos. Este ano vou perder cinco. O mal são estas pessoas que têm aquela coisa que vem da uva”, enfatiza o comediante. Quem estava à mesa era Antónia Pereira, uma conviva que participa pelo segundo ano consecutivo no evento: “Gosto e venho”, diz a António, que tinha mais razões para ali estar: “Estou aqui numa festa de anos da minha amiga e colega. No fundo, são duas festas juntas. O povo já é conhecido e quem não se conhece vai conhecer-se aqui. É uma forma de termos um convívio municipal mais apertado com toda a gente”, refere.
Com os pés também em duas festas, uma também de aniversário, encontramos a atleta lousadense Sara Ribeiro, que, pelos vistos, trocou o treino pela diversão: “É uma corrida diferente e divertida. Estar aqui com outras pessoas e aproveitar outros momentos da vida, que não pode ser apenas correr. Estou com outras pessoas, com quem normalmente convivemos, mas aqui não há medalhas”, diz-nos Sara Ribeiro.

Presença Motard bem notada
Como sempre, onde está o grupo do Moto Clube de Lousada está a diversão. Os motards marcam mesmo a diferença: “Desde o ‘mexe o bumbum’, até ao ‘é o amor é’, foram muitas as cantorias, até que chegou a hora de desligar o som. A terminar, ouviu-se a música “Contentores” dos Xutos e Pontapés e a dança e as cantorias entraram pela noite dentro.
Mais junto do Pelourinho, um grupo de vizinhos foi arrojado na criação de um novo grupo POP Pimba… Assim se deu a sua primeira atuação, pouco importa se afinada ou desafinada. Assistimos com brio à estreia do single “O Popó da Namorada”.


Evento é palco de festas de aniversário
Mais adiante, mais um aniversariante, o Hélder Ferreira, que aproveitou para festejar os seus quarenta anos: “Uma festa poupadinha, com a família, amigos e muitas mais pessoas diferentes”, diz o aniversariante, que nos “obrigou” a confraternizar. Pelo terceiro ano consecutivo nesta festa, Hélder considera que cada vez mais estão pessoas de fora, o que é muito positivo: “Tem sido uma festa muito agradável”, salienta.
Junto à tradicional cascata de Santo António, estava Manuel Costa, que participa pela terceira vez nesta festa, juntamente com a conferência de Silvares. Para ele, esta festa é a melhor que se pode ter: “É o convívio, o recordar dos tempos antigos. A cascata é uma tradição que deveria continuar todos anos, e é pena os jovens não deem continuidade”, explica Manuel Costa.
Subitamente, ouve-se “Vieira, Vieira”. Quem é o Vieira? Afinal, o Vieira é o Vítor Sousa, um Portuense que tem Lousada no coração: “Este convívio é um espírito importante. O jantar é um acessório. É uma festa divertida, uma espécie de S. João antecipado. Ainda bem que tivemos a ajuda de S. Pedro este ano, pois não choveu. No Porto não há disto. Esta festa é diferente”.
Vereador Manuel Nunes juntou-se à festa

Passeando junto à Cascata da Festa dos Vizinhos, o vereador da Câmara Municipal Manuel Nunes também foi convidado a petiscar. O vereador atribui grande valor a estas iniciativas: “Estas iniciativas, que juntam pessoas simples, são as que melhor resultam. Basta convidar as pessoas para virem para a rua conversar, comer e beber e divertirem-se e as coisas só podem correr bem. É uma festa à portuguesa. Devolver à rua de Santo António à sua função original, em que as pessoas se apropriavam dela enquanto mercado histórico. Existia essa dinâmica, mas mais recuada, uns três os quatro séculos. Neste caso é contemporaneidade, mas com o mesmo espírito”, analisa o autarca.

Fausto Oliveira, presidente da União de Freguesias onde se realiza o evento, para desenvolver esta iniciativa inspirou-se numa reportagem de uma iniciativa semelhante em França: “De facto, nós estamos na política ao serviço das pessoas e esta festa encarna mesmo isso. Nós criamos a logística e as condições para que as pessoas se encontrem. Esse é o objetivo. É uma festa que cada vez é maior e que atrai mais gente e as pessoas saem daqui muito satisfeitas”, diz.

“Fazer muito com pouco” é a habilidade exigida aos autarcas e “este é um exemplo muito concreto que, com muito pouco, conseguimos fazer uma festa grande”, afirma. Este ano a Câmara Municipal de Lousada associou-se ao evento, para possibilitar o seu crescimento.
Sobre a surpresa da cascata inovadora, o autarca caracteriza-a como “espetacular”, destacando “a beleza, o recorte, o pormenor na conceção, que permite de facto termos aqui um elemento paisagístico de Lousada, que representa o monte do Senhor dos Aflitos”, refere, esperando que, no próximo ano, se replique.
Preservar o património histórico
Com objetivo de preservar o património histórico, Fausto Oliveira refere que enviou, há tempos, um ofício à Câmara Municipal, acompanhado de alguns documentos, nomeadamente fotografias, apelando ao poder político que mantenha o traçado histórico o mais possível fiel ao passado: “Esta rua é a mais emblemática daquilo que era a Vila de Lousada. Se perdemos este traço do que resta do que era Lousada no passado, perdemos um pouco da história. Já se cometeram demasiados erros no centro de Lousada em relação a terem desaparecido prédios emblemáticos”, diz, rematando:
“Lousada é linda, tem espaços maravilhosos, não só a rua de Santo António. Tem outros espaços que podem fazer valer esta festa dos vizinhos. Viva a Festa dos Vizinhos”.
Fausto Oliveira
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