O Juventude Hóquei Clube tem descrito um percurso notável, tendo alcançado, nesta época desportiva, de 2018/2019, o melhor resultado de sempre na história do clube: 2º lugar na Taça de Portugal e do CNHC (Campeonato Nacional de Hóquei em Campo), depois de, nas épocas passadas, ter alcançado o 3º lugar do CNHI (Campeonato Nacional de Hóquei em Indoor).
Criado em 2004 por um grupo de amigos e amantes do hóquei em campo, o Juventude Hóquei Clube foi campeão várias vezes na formação, ostentando uma Taça de Portugal de Sub16. Chegou a ter 80 atletas na formação (infantis feminino e masculino, iniciados feminino e masculino, juvenis e juniores) e no escalão sénior (feminino e masculino). Esta época, ficou-se pelos sub16 e seniores masculinos.
Elisabete Ribeiro, de 45 anos, presidente do Clube, fala-nos, nesta entrevista, do passado e das dificuldades do presente, que podem comprometer um futuro auspicioso.
Descreva-nos sucintamente o seu percurso enquanto presidente.
Sou presidente desde 2007/2008. Desde então, tenho lutado para que o clube continue e alcance êxitos. Já passaram centenas de atletas “pelas minhas mãos”, fiz muitas amizades para a vida, tive momentos fantásticos, tanto em competição como em grupo, mas também momentos menos bons em competição e tive que ser forte o suficiente para erguer a cabeça e a dos meus atletas e continuar. Sou respeitada como líder de homens (atletas e equipa técnica). Enfim, foram alguns anos de Amor à modalidade e ao clube.
Após a final da Taça de Portugal, qual é o balanço que faz desta época desportiva?
Esta época desportiva começou bem no CNHC (Campeonato Nacional de Hóquei em Campo), acabando a primeira mão em primeiro lugar, juntamente com o Lamas. No final de novembro, começou o CNHI (Campeonato Nacional de Hóquei Indoor (sala)), que não correu como esperado, ficamos em 5º lugar, o que não nos permitiu ir à fase final. O treinador despediu-se. Em março, começou a segunda mão do campo, tivemos que ajustar algumas “arestas”, no que concerne ao treinador, e ficou o meu filho Vasco Ribeiro, também atleta, a comandar os treinos e jogos, com ajuda de mais dois atletas. Foi com a vontade de ganhar que conseguimos os segundos lugares da Taça de Portugal e do CNHC. Até à data, o Juventude HC, nunca tida ido a uma final. Por isso, sem dúvida, esta época fica marcada pela negativa em Indoor e pela positiva em campo.
Para si, quais são os principais fatores que levaram a equipa sénior às duas finais?
Como já referi em cima, foi a garra de ganhar e uma equipa unida. Apesar das muitas lesões que houve, conseguimos!
Ficaram a um passo de culminar esta época com títulos, o que faltou para o conseguir?
Faltou a experiência das finais, manter a cabeça fria e a cura das lesões dos atletas.
Além do seu marido, também tem dois filhos a competir, inclusive o Vasco Ribeiro é um dos treinadores da equipa sénior. Explique-nos esta ligação familiar com esta associação.
Muito simples: eu sou a Presidente, o meu marido é o Vice-Presidente, os meus filhos jogam. Somos uma equipa em casa e no clube. Mas a história começa no ano 2005, com o Vasco a jogar pelos infantis, o meu marido a jogar pelos seniores e eu a assistir aos jogos deles. Então, um dia, o anterior Presidente e Vice-Presidente, Luís Ferreira e João Pedro Ferro, respetivamente, convidaram-me para vogal da direção; no ano seguinte, passei a Vice-Presidente, depois a Presidente, desde 2007. Quando cheguei a Presidente, coloquei o meu marido como Vice-Presidente e os meus filhos continuaram a jogar. Foi a maneira que arranjei de estarmos sempre juntos, tanto em família como no desporto. Nos poucos tempos livres que temos, continuamos juntos…
Quais são as maiores dificuldades desta associação?
A principal é a falta de dinheiro, mas também a falta de formação (atletas jovens). Não temos atletas para a formação, os miúdos só querem futebol e, como agora na maioria das freguesias têm campos sintéticos de futebol e os miúdos sonham ser o Cristiano Ronaldo, vai tudo para o futebol, o que empobrece a modalidade do hóquei em campo. No Juventude Hóquei Clube, não há mensalidades nem kit de equipamento, é tudo fornecido pelo clube, porque o nosso lema é “hóquei para todos”. Os atletas têm mais probabilidade de integrarem uma seleção, jogar no estrangeiro e ainda ter a oportunidade de entrarem na universidade com o estatuto de alto rendimento. Jogar hóquei só traz vantagens.
São poucas as equipas a competir nesta modalidade a nível nacional. Como está o estado do hóquei em campo em Portugal?
É verdade, somos poucos e tende a sermos ainda menos, porque, como já disse, há pouca formação de atletas e sem eles os clubes não conseguem evoluir, nem continuar.
No concelho de Lousada, o que é preciso fazer para dinamizar mais esta modalidade?
Na minha opinião, para não deixar morrer esta modalidade olímpica, dever-se-ia começar pelas escolas, ou seja, ser obrigatório ter este desporto nas aulas de educação física, a partir do 1º ano até ao 12º. Tenho a certeza de que, se os miúdos tivessem este desporto, teríamos muitos mais atletas e a modalidade não acabaria.
Sente o apoio da comunidade local e das entidades públicas e privadas?
Não. Só para que se perceba a situação, a maioria da população lousadense não conhece o hóquei e, quando falo com os pais de alguns miúdos, eles dizem “o meu filho(a) não sabe andar de patins…” O hóquei em campo ou indoor não se joga de patins, mas de sapatilhas e com um stick. Também tive situações de atletas que jogam hóquei e futebol na freguesia, onde os pais vão vê-los a jogar futebol e nunca foram vê-los a jogar hóquei. Por aí se vê logo a preferência dos pais. Assim não é fácil mantê-los nesta modalidade, porque os próprios pais não apoiam.
Os únicos apoios que o Juventude HC tem são o subsídio da Câmara Municipal de Lousada, da Sweet Bombom e da Fernando & Rui Ribeiro – Sociedade de Construções, Lda., a quem aproveito para fazer um agradecimento público.
Como vê o futuro desta associação?
Sinceramente não sei. Se continuar com pouca verba e pouca formação, não vai longe…
Que mensagem gostaria de deixar aos leitores?
A mensagem que quero deixar é pedir aos encarregados de educação que deixem os filhos experimentar o hóquei em campo e indoor (sala), que apoiem os educandos nesta modalidade olímpica, que faz parte da história lousadense. Temos umas instalações excelentes e uma camaradagem espetacular. Incentivem-nos a fazer desporto coletivo. Joguem Hóquei!
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