A Avenida Senhor dos Aflitos foi o palco escolhido para a apresentação da peça “Zé do Telhado” nos dia 5 e 6 de julho. O espetáculo foi uma produção da Jangada Teatro e Trigo Limpo, com a participação dos grupos amadores do concelho: Letras Sem Cessar (Sousela), Linha 5 (Caíde de Rei), Teatro Experimental Magnetense (Meinedo), Vidas em Cena (Pias) e Nova Oficina de Teatro e Coral de Lousada. Contou também com a participação da Banda Musical de Lousada, do grupo de percussão Lousadarrufar e de várias participações individuais.
A figura do Zé do Telhado faz parte do imaginário coletivo. Os 200 anos do seu nascimento foram o mote para uma peça que pretendeu agregar vários agentes culturais e chegar a todas as pessoas.
“Vai deixar marcas e sementes para muitos anos”, vereador Manuel Nunes
Manuel Nunes, vereador da Câmara Municipal de Lousada, considerou “uma coincidência feliz” o assinalar das duas décadas de existência da Jangada Teatro “desta forma tão especial”. O vereador salientou a forte adesão das pessoas e o facto de ser uma produção inédita, “com esta dimensão, que não é habitual, e com um cenário grandioso, com dezenas de pessoas a participarem direta e indiretamente. É algo que marca”, considerou.
Manuel Nunes reiterou que a ideia surgiu pelos 20 anos da Jangada Teatro a que se associaram os dois séculos do nascimento de Zé do Telhado: “Uma vez mais queríamos construir com a comunidade algo diferenciador e fizemos este ano um projeto maior envolvente. Lançamos um repto aos grupos de teatro amador do concelho, aos músicos, à banda, aos vários agrupamentos musicais e, de facto, a adesão foi imensa. Foi um percurso longo, difícil, com paciência e persistência, mas ninguém vai esquecer esta produção”, explica.
O vereador considera que esta é uma atividade que “vai deixar marcas e sementes para muitos anos”: “Isto mostra o que o Lousada tem de melhor no âmbito cultura”, diz. Acrescentou que as pessoas que estiveram na Avenida a ver o espetáculo levaram dali “algo maior, que vai perdurar no tempo”.
“Experiência incrível”, Filipe Pinto
Filipe Pinto, do grupo de teatro Teatro Linha 5, considera que foi uma “experiência incrível”. “Foram muitos dias de trabalho, muita gente a trabalhar ao mesmo tempo… Foi fabuloso, foi uma experiência incrível para nós, que somos amadores, ter a oportunidade de trabalhar com duas companhias de teatro profissionais”, afirma. O ator salienta também a aprendizagem que representou para si este projeto: “Para nós, que não temos formação, é uma aprendizagem e uma responsabilidade. Há pequenos pormenores que podem falhar, mas tudo correu bem, pois a entreajuda formou um grupo só”, salienta. Por isso, Filipe Pinto considera que estes projetos “fazem todo o sentido”, também pelo “intercâmbio” que possibilitam com outras artes, como a música e o canto.
Luís Falcão, do grupo de teatro Vidas em Cena, também considerou a experiência positiva e “memorável”. No meio de gente profissional, num “projeto grande e arrojado”, considera-se um “pivozito”: “Como representante do grupo Vidas em Cena, fez-se história”, afirma.
João Afonso interpretou músicas do tio, Zeca Afonso
A voz do canto que se ouviu ao longo do espetáculo era de João Afonso, que cantou músicas de José Afonso, seu tio. O cantor esclarece que essas músicas foram compostas para a peça do Hélder Costa, em meados dos anos 70: “O meu tio foi convidado para compor estas canções que eu canto para a peça do Zé do Telhado. Certamente estudou e leu coisas sobre o Zé do Telhado, Camilo Castelo Branco e escreveu tudo isto”, explica.
O cantor agradece a experiência ao Zé Rui e ao Romeu, o maestro: “Tive o gosto de o conhecer e dirige excelentes músicos muito novos”, diz, salientando a atuação inédita: “Já tive algumas experiências destas, mas nunca só com sopros e percussão. Estes rapazes e raparigas tocam maravilhosamente e também têm esse lado emotivo de tocar as músicas do meu tio”. Em relação ao tio, Zeca Afonso, diz sentir um “grande prazer e honra de ser sobrinho desse autor, que tem uma obra poética musical e era um intérprete maravilhoso”.
O espetáculo “Zé do Telhado” foi para si emocionante e uma experiência “maravilhosa”, ainda mais com a “praça toda cheia”.
“Este é um espaço idílico”, José Rui Martins
O encenador, José Rui Martins, do Teatro Acert, teve uma primeira palavra para se referir ao local: “Este é um espaço idílico”. Sobre a peça, pôs a tónica na emoção: “Este espetáculo tem esta alma, esta chama de todos os que participaram. Só tivemos de encher este espaço com coração, sentimento e emoção”, afirma. Não faltaram, portanto, razões para que a experiência tivesse sido “muito apaixonante”, ainda mais por juntar o aniversário dos 20 anos da Jangada Teatro e a figura do Zé do Telhado, muito conhecida”. A somar a tudo isto, existe o “sabor” de trabalhar no Norte, que é diferente: “Há aqui uma generosidade”, considera.
Sem distinguir os atores profissionais dos amadores, José Rui Martins considera que estes “demonstraram a vitalidade incrível do teatro amador aqui em Lousada. Mas não há diferenças, somos todos uma grande equipa”.
O encenador destaca a aposta da conjugação da tradição com a modernidade na peça, composta por várias linguagens, associando-as ao teatro popular.
José Martins também interveio peça: a voz do narrador era sua: “Poderia ter gravado, mas esta foi uma forma de dizer que estou com eles, que eu também arrisco e participo”. “O meu sentimento é de grande realização, o o edifício teatral constrói-se com muitas mãos e com muita capacidade de uma equipa a sonhar junta”, acrescenta.
No final da peça, o encenador evocou o nome de Faria, o falecido ator da Jangada Teatro, acrescentando que sabia que ele estava ali. “Foi um ator que me apaixonou”, afirma. Há também um elo que o liga à Jangada Teatro: “Temos uma relação muito forte com a Jangada Teatro. Eles têm muita capacidade e resistência”.
No futuro, o encenador continuará a lutar pelos sonhos, mesmo com as dificuldades que tem de enfrentar: “Temos uma capacidade de resistência incrível” e a “nossa irreverência é uma constância no teatro”. Lamenta, no entanto, não merecer os apoios devidos: “quem já deu provas, não deveria ter de dar as provas que temos de dar”.
“Este é apenas um começo”, Xico Alves
Xico Alves, da Jangada Teatro, mostrou-se impressionado “com a malta que nós tivemos cá, principalmente a malta dos grupos de teatro amadores. Foi muito interessante”. O ator salientou o público numeroso: “Eu acho que estavam para aí umas mil pessoas. Foi muito bom, e o espetáculo maravilhoso. As pessoas aqui em Lousada já estão muito habituadas ao teatro”, salienta. Por isso, Xico Alves espera que projetos deste tipo continuem: “Este é apenas um começo”, remata.
Vinte anos da Jangada Teatro: “Querer é poder”
Luís Oliveira, diretor da Jangada Teatro, considera este ano, em que se assinalam as duas décadas de existência da Jangada Teatro, “pleno de efemérides”. No jornal de divulgação da peça, “Todos somos Zé do telhado”, escreve sobre o passado e os sentimentos após vinte anos de sucesso: “Quando, em 1999, fundávamos a companhia de teatro, longe estava o ano de 2019, um horizonte a duas décadas de distância. Não sabíamos o que o futuro nos traria, mas sempre acreditamos na nossa perseverança, neste querer comunicar, criar, fazer arte. Hoje, vinte anos volvidos, confirmamos o provérbio “Querer é poder”. Há vinte anos que pugnamos por uma arte teatral de qualidade, fundada em princípios e valores estruturais e coerentes. Em síntese, a nossa divisa: “A fazer bom teatro desde 1999”. E que venham mais vinte”.
▐ Manuel Pinho | diretor@olouzadense.pt
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