Nos últimos anos tem sido amplamente discutida a participação das mulheres na política, mesmo antes do aparecimento do sistema de quotas que força, de algum modo, aquela participação.
Ficaremos, neste instante de opinião, a jusante da argumentação sociológica, normativa e até política, nos casos em apreço, em especial da questão da obrigatoriedade das quotas e seu impacto positivo, ou negativo.
O que se sabe é que a presença das mulheres na política sempre foi confrangedoramente baixa. Aquela participação poderá estar ligada ao maior, ou menor, desenvolvimento do país, mas nem sempre assim foi. Apesar disso, as taxas de participação são bastante superiores em países nórdicos do que os seus congéneres do sul e pacífico e quase nulas nos países árabes. Este fenómeno pode estar associados a um, ou mais, de três fatores (i) políticas públicas que não promovam a igualdade; (ii) disposições normativas que garantam um equilíbrio entre homens e mulheres; e, (iii) os próprios sistemas eleitorais.
Apesar do que se refere, os estudos demostram que ao nível autárquico em Portugal: (i) a participação das mulheres é maior nos órgãos deliberativos do que nos órgãos executivos; (ii) a participação feminina é menor nos cargos de presidente do que vereador; (iii) a participação tem vindo a crescer mais em órgãos de assembleia de freguesia do que noutros órgãos e município; (iv) os partidos à esquerda elegem mais mulheres, sendo mais forte nos órgãos executivos, sendo que a direita tende a ser mais forte nos órgãos deliberativos; e, (v) é a sul (Beja, Faro, Santarém, Évora, Lisboa, etc.) onde as taxas de participação são maiores.
As observações, em título e texto, que aqui reproduzo só a mim comprometem e, nessa presunção, a minha opinião sobre uma possível mulher presidente do município em Lousada pode estar para muito breve… note-se que não se trata de uma advertência de cautela. Bem pelo contrário. Em Lousada, e em qualquer autarquia local, ou outro órgão do Estado (ou qualquer outro órgão), as mulheres devem estar em perfeita situação de igualdade. É uma bacoquice pensar o reverso impróprio.
Assim, em Lousada, e em qualquer município, a estrutura organizativa dos partidos, terá que ser menos resistente à mudança, e estar recetivo a uma não sub-representação das mulheres, já que elas próprias têm que ultrapassar um conjunto de obstáculos bem identificados na literatura: (i) confiança (têm mais dúvidas do que os homens em candidatarem-se); (ii) lugar de destaque (ultrapassada a questão da confiança, as mulheres têm mais dificuldade em obter um lugar elegível, e muito dificilmente o lugar de liderança, 1º lugar na lista); (iii) cultura (visão geral das mulheres na política como mundo masculino); (iv) financiamento (os estudos apontam para um maior subfinanciamento de campanhas de mulheres); e, (v) dependência (as mulheres estão mais dependentes do que os homens, quer em relação à família, quer em relação ao trabalho, por exemplo).
Contudo a literatura identifica também que as escolhas que as mulheres fazem são mais orientadas socialmente do que os homens e que participam e ganham com mais frequência em localidades cada vez mais desenvolvidas.
Mas… na política e na vida, é comum dizer-se que não há espaço para ingenuidade. Os que ocupam uma posição de destaque, poderão não estar interessados em ficar numa posição lateral (e, aqui, basta que lhe arranjem um outro cargo apelativo, fora do município na estrutura do partido). É minha convicção que em Lousada, poderão estar já ultrapassados quase todos os obstáculos para uma futura Presidente, mesmo que dela não fale.
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