No dia 13 de julho, sábado, realizou-se a festa final do Processo Participativo Paisagem Protegida do Sousa Superior. O evento, que integrou várias iniciativas, decorreu entre as 9h00 e as 13h00, terminando com um almoço-convívio, com todos os participantes, no Parque de Vilela. Além do presidente da Câmara e do vereador Manuel Nunes, estiveram presentes os presidentes das juntas das freguesias envolvidas no projeto.

Durante a manhã, os participantes puderam escolher uma das três atividades: uma caminhada pelas margens do Rio Sousa, um percurso com 5 kms, com início no Parque do Areinho, em Meinedo. “Rota do Milho” foi outra das propostas apresentada e consistiu numa caminhada, cujo percurso passou pelos pontos importantes de produção de milho, com início junto à Capela de S. Bartolomeu, em Vilela. “Portas abertas: Casas Senhoriais” foi a última atividade proposta. Os participantes puderam visitar a Casa-Museu de Vilar, a Casa de Juste e a Casa do Rio.
Vertente ambiental, mas também económica
Nuno Drumond, da Casa do Rio, foi um dos anfitriões na manhã de sábado. O jovem, que tem um gosto especial pela apicultura, explicou-nos em que consiste o espaço Casa do Rio: “Este espaço é uma quinta já com muitos, muitos anos, na freguesia do Torno. Atuamos predominantemente na parte agrícola, somos viticultores e vinicultores, mas mais viticultores. Produzimos essencialmente uvas de loureiro e arinto, mas também mantemos as castas regionais. O restante, o grande volume, é vendido para um parceiro local, que depois tratará da sua vinificação. Temos uma componente de horticultura em estufa e intensiva e fazemos produção numa pequena pecuária. Há uns anos para cá, iniciamos a produção de galos e capões, que produzimos com qualidade”, explicou.

Os visitantes tiveram, também, a oportunidade de visitar a parte florestal que integra a quinta e que tem sido palco de alguns projetos relacionados com a biodiversidade, “nomeadamente as Casas de Ninho, casas que temos aqui pela propriedade”.
Os visitantes puderam ainda saborear algumas das iguarias produzidas na quinta: fruta, mel, pão de milho, compotas…
Nuno Drumond considera o projeto da Área Protegida do Sousa Superior interessante “porque valoriza uma parte importante da ecologia e da biodiversidade, da educação ambiental, mas, acima de tudo, não esquece a componente económica. As pessoas que habitam neste território precisam de trabalho e precisam de rentabilidade ao final do mês, mas, ao mesmo tempo, têm de perceber que o enquadramento na paisagem é importante, garantindo que teremos isto amanhã”, frisou.
“Esta é uma festa de celebração da natureza”, Manuel Nunes
Manuel Nunes, vereador do Ambiente, esteve à conversa com O Louzadense e mostrou-se satisfeito com a forma como decorreu o processo participativo Paisagem Protegida Sousa Superior. “Esta é uma festa tranquila, uma festa de celebração da natureza. Hoje é um dia de fecho daquilo que foi um processo de muitos meses de auscultação da população de Lousada relativamente à Paisagem Protegida do Sousa Superior que pretendemos instituir”, disse.

A festa final, segundo o vereador, só poderia ser junto às margens do rio Sousa, levando as pessoas a contemplarem as suas margens sob diferentes pontos de vista: focando-se na fauna e flora associadas ao rio, na vertente agrícola, nomeadamente no ciclo do milho, ou admirando as casas senhoriais. Para Manuel Nunes, estas iniciativas têm o mérito de fazer com que as pessoas conheçam a sua terra e tenham a perceção da biodiversidade: “Muita gente daqui nunca tinha tido essa perceção. Se calhar nunca se predispuseram. É uma forma de mostrar o outro lado do território, de o conhecer e de o aprender”, referiu.
O processo de auscultação da população foi, segundo o vereador, muito participado: “Foram cerca 20 sessões, desde sessões mais públicas, ou privadas, com agentes económicos, sociais, educativos, até às apresentações mais formais do projeto à comunidade, partidos e juntas de freguesia. Envolvemos cerca de 500 pessoas”. Manuel Nunes valorizou a participação das pessoas, que considerou “excecional”: “Foi importante perceber que as pessoas também têm a opinião, sabem o que é importante e crucial valorizar”. Assim, os saberes técnicos, associados aos anseios da população, gerarão o equilíbrio que permitirá criar a Área Protegida do Sousa Superior.
O passo seguinte consiste em compilar todos os dados técnicos, das áreas da geologia, biologia, fauna, arqueologia…, criando um relatório final. “O mesmo será aprovado na Assembleia Municipal e criamos a área protegida localmente. Envolvemos o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), que é um parceiro e, a partir do próximo ano, desejamos estar já na rede nacional de áreas protegidas”, avançou.
Sensibilizar as crianças e jovens na escola é fundamental
Orlando Pereira, diretor do Agrupamento de Escolas Lousada Este, participou no evento e referiu que o agrupamento de escolas que lidera é aquele que está em mais freguesias atravessadas pelo rio Sousa. Por isso, a responsabilidade na sensibilização dos alunos é maior: “Temos por isso de ensinar e ajudar os nossos alunos a preservar esta área protegida. Vamos trabalhar já, no próximo ano, em algo que possa estar integrado no currículo local, na nova disciplina Cidadania e Desenvolvimento. Vai seguramente ser um dos temas abordados”, garantiu.

O professor Orlando Pereia considerou, ainda, que “este projeto nasceu como devem nascer os grandes projetos, com a participação da população, que é fundamental”. Essa é aliás, na sua opinião, uma condição para o sucesso, já que as pessoas não irão preservar, nem ajudar, se não se sentirem parte do projeto.
Das visitas que fez às casas senhoriais, salienta a Casa do Rio, que não conhecia e “foi muito gratificante”, disse.
Mais se sessenta propostas geradas pelo processo participativo
José Carlos Mota, professor da Universidade de Aveiro, considerou o processo participativo um sucesso com “um resultado excecional”. O professor congratulou-se com os níveis de participação. “As pessoas colaboraram e procuraram construir, gerando mais de sessenta propostas, e hoje estamos a experimentar três dessas propostas, ideias sugeridas pelos cidadãos. No fundo, estamos a celebrar, mas ao mesmo tempo estamos a testar estas ideias. Todos estão de parabéns e preparados para a próxima etapa”.

José Mota está convencido de que este processo irá conhecer desenvolvimentos importantes: “O executivo e a comunidade vão conseguir dar continuidade a estas ideias e, após a paisagem protegida aprovada, terão certamente outras iniciativas iguais ou superiores a esta”, referiu.
▐ Manuel Pinho | diretor@olouzadense.pt
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