Centrar a escola nas pessoas, integrando a tecnologia

Nos dias 5 e 6 de setembro, decorreram as VI Jornadas da Educação, em Lousada, sob o tema “Uma escola tecnologicamente centrada nas pessoas”. Na agenda do evento, constava a discussão dos conceitos de felicidade e inovação tecnológica em ambiente escolar, a identificação de exemplos tecnologicamente inovadores como fator de melhoria das aprendizagens e sucesso dos alunos e das organizações escolares, o aproveitamento das possibilidades de uma maior flexibilidade curricular e o desenvolvimento de projetos inovadores e criativos, para implicar os docentes em novas e diversas abordagens pedagógicas que concorram para uma escola com mais e melhor sucesso.

Este evento resultou, mais uma vez, da organização conjunta do CFAE Sousa Nascente e do pelouro da Educação da Câmara Municipal de Lousada, que contaram com o apoio e articulação dos órgãos de direção dos quatro agrupamentos de escolas do Concelho e de várias personalidades do mundo académico.

Carlos Neto, professor na Carlos Neto , FMH Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, considera o tema da jornadas “aliciante”, uma vez que alia a sociedade digital à necessidade de a escola formar pessoas, sem esquecer uma componente muito importante que, na sua opinião, tem sido relegada para último plano: a necessidade de brincar. “Neste momento, está muito ausente o tempo e o espaço para brincar. Significa que as crianças têm hoje em dia tarefas muito estruturadas, organizadas e supervalorizadas em termos de tempo, e elas necessitam de liberdade, necessitam de exploração do tempo livre, de tempo não formal”, defende. A sua comunicação teve, por isso, como objetivo “demonstrar que as crianças só aprendem de facto se tiverem tempo para elas, se tiverem tempo de brincadeira, de risco, de contacto com a natureza, tempo livre para descobrirem, para explorarem, para aprenderem”, afirma.

“As crianças vivem amarradas, prisioneiras”, Professor Carlos Neto

O professor faz um apelo à memória dos adultos e convida-os a regressarem à infância e a recordarem o que de melhor tiveram. Acredita que “brincar de forma livre” será a resposta, o que contrasta com as vivências das crianças na atualidade: “As crianças vivem amarradas, prisioneiras e, para que o processo de aprendizagem na escola seja possível, deve ser feito com saúde física e mental, o que implica que haja mais brincar. É esta a mensagem que eu quero aqui trazer”.

Carlos Neto defende também um modelo “mais participativo, em que as crianças sejam participantes do próprio processo de aprendizagem, no sentido de terem um pensamento crítico, de saberem resolver problemas, comunicar acima de tudo”. A defesa de um modelo em que a criança procura e o professor é um facilitador da aprendizagem não é nova, mas “não é fácil” de implementar, “sendo necessário investir na formação dos professores, formação parental e mudar a legislação para facilitar estes processos”, defende. A estas ideias soma a necessidade de “acabar com esta avaliação castradora que temos infelizmente no nosso ensino”.

Alunos cada vez mais agarrados às novas tecnologias

Ana Cristina, professora na EB 2/3 de Lousada Centro, considera as jornadas “uma boa iniciativa”, respondendo à necessidade de os docentes procurarem “mais cultura e informação e conseguirem sair daqui com outros conhecimentos que nos ajudam no nosso dia a dia no trabalho”.


Ana Cristina, professora na EB 2/3 de Lousada Centro

A docente apreciou a intervenção de Carlos Neto e a tónica que ele colocou na necessidade de mudança. Uma mudança que já começou nos alunos, “cada vez mais ligados às novas tecnologias, de uma forma pode ser útil, pois podemos obter informação muito mais rapidamente, mas também prejudicial à nossa postura e até à nossa saúde, o que se reflete também no ensino”, sustenta.

Corremos o risco de, no futuro, termos nas escolas crianças “inadaptadas, impreparadas e doentes”

Orlando Pereira é diretor do Agrupamento de Escolas Lousada Este e considera que discutir o tema das jornadas é fundamental. O docente salienta também a palestra de Carlos Neto, que considera um alerta: “ A escola tem de ajudar os pais, a família e os alunos a conhecerem o seu corpo, a evidenciarem-no e sentirem-no, antes de iniciarem a experiência com as novas tecnologias”.


Orlando Pereira

O diretor parabeniza a autarquia pela organização das jornadas, que têm o mérito de “conseguir, em forma de autocrítica, colocar o problema do mundo moderno associado a uma visão de futuro”, diz.

Na sua opinião, os professores começam a mostrar-se recetivos a esta problemática e desejam fazer a mudança, mas alerta: “Há uma competição desenfreada, que vai despoletar determinados comportamentos e reações às iniciativas da escola e que cria um bloqueio, que é necessário e urgente desmistificar e quebrar, sob pena de termos crianças no futuro inadaptadas, impreparadas e doentes”, defende.

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