No artigo anterior falei na potenciação de oportunidades que permitam às populações do Vale do Sousa , não estar refém de tipos de actividade associadas a interesses conjunturais em mão de obra barata. É justo que se diga que é fácil fazer esse género de observações e que apontar soluções ou alternativas é difícil. Tal, nada tem que ver com a minha forma de conceber o debate público. Sou um indefectível partidário de que as opiniões devem ser absolutamente bem fundamentadas e por tudo o resto, chego mesmo a ter algum desprezo.
Mas falemos então agora de uma atividade potenciadora de valor acrescentado,o turismo.Turismo que é muitas vezes bandeira de discursos mais ou menos inflamados, mas que na realidade não tem trazido resultados que permitam afirmar que esteja sequer perto de ser uma alternativa viável para a subsistência de uma parte significativa da população.
Convém desde logo, para que não se pense que não sei do que estou a falar, que saibam que exerci várias funções na organização de actividades turísticas , durante muitos anos, tendo conhecido neste âmbito cerca de 100 países diferentes.
O turismo torna-se cada vez mais uma necessidade de todo o ser humano na medida em que cada um na sua individualidade vê nele as suas férias, uma quebra de rotina, um aumento de conhecimento, uma questão de moda e sobretudo a criação de um evento de vida ( a que voltarei mais adiante).
Se por um lado o turismo ainda mantém muitos traços daquilo que todos concebemos como turismo tradicional, hoje é lícito falar em novas tendências que assentam numa segmentação por interesses e duração. Existem assim vários tipo de turismo, como sejam o religioso, cultural, sexual, por obis ( bird watching, mergulho, vela, carros, caça, pesca, etç), lazer , radical, short breacks e escapadas, etç.
O turismo, para o destino, deve ser visto como favorecimento da economia local; factor de fixação de população; manutenção de tradições; recuperação e manutenção de património histórico e/ou natural; intercâmbio de experiências; promoção do local, sua história e identidade da população; e aumentar o espírito de auto-confiança.
Para o turista o destino deve permitir fugir à rotina , ir de encontro aos seus interesses e sobretudo potenciar o chamado evento de vida.
O que é isso do evento de vida ? Bom, julgo que estamos todos de acordo que não basta tirarmos umas fotos de um local mais ou menos consagrado, visitá-lo , dizermos que lá estivemos. Não, há que ter lá alguém a vender uma coisa mais ou menos valiosa, mais ou menos genuína, mas que permita ao turista fisicamente perceber e dar a perceber que há ali algo que o liga a dado momento que fica assim registado e sobretudo permite contar uma narrativa.E a narrativa , no fim, é o que interessa. Isto é um exemplo, como poderia dar outros, no fim, será dizer que deve ser providenciado ao turista uma forma, de ele próprio, criar uma estória.
Aqui reside o coração daquilo que é potenciador da criação de oportunidade de criação de valor acrescentado.
Para a criação de valor acrescentado no destino este deve possuir as suas rotas bem planeadas, esta planificação deverá integrar todos os players, deverá existir uma orientação clara de ganhar dinheiro sem esquecer o equilíbrio, equilíbrio este que leva a que o destino se mantenha em alta por muitos anos m deve ter um plano que renove constantemente os atrativos, deve fomentar a inovação, deve apostar claramente na criação e divulgação de uma imagem de marca forte, deve também fazer uma aposta clara na formação e promover elevados níveis de profissionalismo.
Tudo isto se consegue à custa de planos de ordenamento que englobem a componente social e económica, histórica e natural do local;com a compatibilização das atividades turísticas com as tradicionais de forma harmoniosa; ter em conta os aspectos ambientais e históricos sem fundamentalismos; integrar a actividade turística com a cultural e estas com o ambiente sobre o ponto de vista económico.
As condições a proporcionar pelo destino deverão assentar em boas infra-estruturas, condições que acondicionem o interesse do turista, a potenciação do tal evento de vida e aptidão da população para receber os turistas quer numa ótica de promoção do destino quer numa ótica do negócio em si mesmo.
O Vale de Sousa, por estar perto de alguns polos agregadores de turismo, como sejam o Porto, Braga e Guimarães, não pode querer pensar o turismo da mesma forma que esses locais. Deve haver a noção de que se deve constituir como um destino complementar e portanto assentar a actividade em visitas e estadias de curta duração. O património é disperso e não possui consagração em volume , o que por si não ajuda a atrair turistas.
Há que pensar o turismo, como qualquer outra actividade económica, ou seja tem que gerar rendimento.
O turismo nesta zona tem enfermado de falta de infra-estrutura adequada; estando a construir rotas especializadas há o esquecimento do evento de vida; está entregue a estruturas públicas autárquicas e centrais sem integração, e consequente motivação, do sector privado; continua a fazer-se o enfoque na recuperação patrimonial e natural , o que é importante, mas sem estratégia socio-económica; e por fim o problema maior que é da falta de coordenação adequada na promoção e na criação de aptência na população.
Deste modo, olhar para os atrativos, que são muitos, das nossas terras e envolver a população , nomeadamente através até das associações socio-culturais existentes que muitas vezes sobrevivem à custa apenas de subsídios, mas que possuem capacidade de gerar o tal evento de vida de forma continuada e ainda de perceber que o património para ser preservado tem que ser usado e potenciar rendimento, torna.-se uma obrigação.
Com uma oferta estruturada de visitas de curta duração, orientadas para a comercialização do que é produzido na região, a criação de muitas oportunidades será uma realidade. É preciso esquecer as parangonas do tipo “Turismo de qualidade” , “qualidade do produto”, “não sei quê… sustentável”… Isso simplesmente não existe, são palavras gastas que apanham cada vez menos incautos e que as pessoas encontram no seu dia a dia !
O foco é na emoção, no evento de vida , aquilo que dá alegria e isso consegue-se planeando e criando produto para distribuir por quem tem realmente a capacidade de o fazer chegar ao cliente final ao invés de apostar em feiras onde muitos querem vender, outros comer e poucos comprar.
Acreditem, temos mesmo matéria prima para criar um produto entusiasmante e que pode ser mais um caminho para uma parte da população.
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