A noite do passado dia 06 de Outubro encetou um novo capítulo na história política e governativa do nosso país. Infelizmente na festa da democracia acabaram por sobrar lugares vazios. Cerca de 45,5% daqueles que foram convidados a exercer um dos mais belos direitos de cidadania, acabaram por escolher não escolher.
Por entre vitórias e derrotas ganhou, no geral, o parlamentarismo enquanto sistema. O nosso Parlamento reabre mais plural e diversificado com a inclusão de três novas forças políticas no hemiciclo. Novos partidos que, independentemente das suas posições mais ou menos extremadas, o eleitorado, a médio e longo prazo, saberá julgar.
No que toca à formação de governo é também de louvar o regresso da normalidade democrática, segundo a qual é permitido ao partido mais votado governar. O Partido Socialista perde, assim, a maioria absoluta que almejava, mas alcança a tão desejada maioria relativa que desde há quatro anos lhe faltava.
Por seu turno, Bloco e PCP/PEV, respectivamente com menos votos e menos deputados, abandonam formalmente a geringonça, mas garantem o apoio suficiente para que uma solução de esquerdas possa subsistir. Fazem-no na esperança de apagar as suas impressões digitais da governação dos últimos quatro anos, cujas consequências, verdadeiramente, só conheceremos no decorrer desta e das próximas legislaturas. Se correr bem: “Óptimo!
Contribuímos.”. Se correr mal: “A culpa foi dos socialistas e da sua inexplicável tendência para a má governação.”.
Também o PAN, quinto membro não oficial da geringonça, não consegue nem mais nem menos do que aquilo que já se esperava que conseguisse, ou seja, mobilizar uma franja populacional ecológica extremista engrossando as suas fileiras.
À direita, PSD aguenta-se, focando a sua campanha na vertente técnica da governação e apelando ao seu eleitorado de base que, apesar de disperso, acabou por se galvanizar com o objectivo comum de prevenir um mal maior.
CDS perde. Perde sob o peso do desgaste de quatro anos de oposição. Não só porque a fez sozinho, o que o levou a cometer alguns erros, mas também pela retórica repetitiva e ambígua que assumiu ao longo da campanha.
Cumpre ao partido redescobrir-se ideologicamente, redireccionando e conciliando os seus valores com os das suas bases que, se viram um tanto alienadas pela máquina partidária na sua procura por captar outro tipo de eleitorado. O seu futuro terá de passar pelos seus capazes quadros, mas também pela sua juventude, por um lado porque será naturalmente o seu futuro, por outro porque é aí que o CDS e os seus valores têm potencial para um maior crescimento.
Em suma, ao contrário de um bom livro, Portugal não surpreende, já que os capítulos anteriores facilmente permitiram antever o actual. Apesar disso, é um capítulo capaz de prender o (e)leitor já sonolento ao enredo, na expectativa do que estará por detrás das próximas páginas.
Urge, daqui para a frente, que as personagens vencedoras sejam magnânimas na sua vitória e as vencidas desafiantes em face da derrota.
Veremos.
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