As Lendas e Superstições, principalmente da região do Vale do Sousa e do Baixo Tâmega, que vamos tentar trazer à lembrança e que já iniciamos a sua publicação, na edição anterior deste jornal, são objeto de recolhas, da transmissão oral de geração em geração (quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto!…), das leituras efetuadas em livros etnográficos elaborados por equipas fidedignas, nomeadamente Professores da Educação de Adultos/Ensino Recorrente de Lousada (1989), de Grupos Folclóricos, de Escolas e também de pessoas ligadas ao Folclore, não nos podendo esquecer de nomear a saudosa Ana Perdigão de Meinedo e ainda dos arquivos existentes em várias casas senhoriais que preservaram escritos e fotografias de imensa utilidade e inestimável valor etnográfico e cultural.
As lendas que já evocamos na publicação anterior e outras que vamos “contar” por mais algumas crónicas, e, as superstições, transmitem a cultura e psicologia das populações e correspondem a uma espécie de mitologia própria desta região, que foi em tempos antigos, uma zona demasiado campestre, cujas pessoas eram, um tanto ou quanto incultas, e, com fraca instrução.
As lendas são narrativas da imaginação popular que devem ser lembradas por muitos e muitos anos, e transmitidas de geração em geração, pois, apesar de terem o propósito de criarem medo e horribilidades, umas mais tétricas outras mais engraçadas, falam ao sentimento das pessoas e fizeram, ainda até há bem pouco tempo, o entretenimento dos contadores, principalmente de contadoras, que nos longos serões de inverno, punham os ouvintes com muito medo e com “arrepios” e “cabelos no ar”!… As superstições são em parte originadas pela falta de cultura dos povos, e com vestígios de crenças fantasmagóricas e religiosas, como os ensalmos as rezas e benzeduras, vindas das superstições do tempo dos Romanos.
Como dissemos antes, “quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto”, pelo que este nosso “périplo” por algumas lendas das gentes desta região de Lousada e terras vizinhas, que ouvimos ou que lemos, já são transmitidas, pensamos nós, num contexto já desvirtuado mas com o sentimento de que a razão das pessoas que as propagavam, vinha do facto de acreditarem na moralidade do que estavam a narrar:

Na zona de Meinedo, uma das 25 freguesias do concelho de Lousada, terra de imensas lendas (já publicamos anteriormente a lenda da Senhora das Neves), o povo acreditava que nos montes de “Mana” e “Crica” (montes estes que vão desde a parte Sul da freguesia, até quase à de Croca, no Concelho de Penafiel), havia muito ouro enterrado pelos Mouros.
Os Mouros quando foram expulsos da Península, costumavam esconder em grutas, ou sob cavernas criadas nos penedos, os tesouros (ouro e dinheiro) que não podiam levar consigo.
Assim, nestes montes, nomeadamente nos de “Mana” e “Crica”, os Mouros deixaram muito ouro e dinheiro, na apressada fuga que tiveram de fazer para Sul, “escorraçados” pelos Cristãos.
Muitas pessoas munidas de picaretas e demais ferramenta, iam para esses montes tentando encontrar o tal tesouro escondido. Ainda hoje é vulgar ouvir-se da boca das pessoas mais antigas, que “de Mana a Crica, muito ouro me lá fica!..”
Descobrimos no “Cancioneiro de Lousada” uma quadra sobre este assunto lendário que diz assim:
I
Desencanta-te ó moura,
Da serra de Mani-Crica,
Que Meinedo quer ser
Uma freguesia rica.
Comentários