A arte de treinar os pombos
José Luís de Sousa Bessa, de 24 anos, é natural de Cristelos, Lousada, e ocupa há um ano a cadeira da presidência da Sociedade Columbófila de Lousada. Nesta entrevista, este jovem universitário fala-nos da história da associação, das características da columbofilia e das expectativas futuras.
Se gosta da atividade ou tem curiosidade em saber mais sobre ela, leia a entrevista.
Como surgiu a Sociedade Columbófila de Lousada?
A sociedade surgiu em 1975, por vontade de diversos amadores do concelho e pelo facto de existir um elevado número de praticantes. Decidiram unir-se e fundar esta coletividade, que tem crescido ao longo dos anos e orgulha-se de ter conquistado inúmeros prémios a nível distrital e nacional. Com o passar dos anos, houve necessidade de crescer e a compra de uma viatura própria foi uma enorme conquista por parte dos associados. Até hoje, tem-se mantido com alguns anos mais positivos do que outros, contudo, no geral, temos conseguido uma consistência a nível diretivo e financeiro, que é um orgulho para todos nós, associados. Uma palavra enorme de agradecimento ao presidente da Assembleia Geral, senhor José Maria Silva Leal, e secretário, senhor Joaquim Miguel Silva, que são fundadores da coletividade e que muito contribuem para a continuidade da mesma, até aos dias de hoje.
Que balanço faz do seu mandato?
O mandato iniciou-se em outubro de 2019 e tem sido bastante positivo. Temos captado mais amadores, realizado cada vez mais treinos de preparação para os nossos pombos e aumentado o número de campeonatos na campanha. Tem sido um desafio enorme. Algo que implementamos nesta campanha desportiva foi partilhar os treinos com coletividades vizinhas, nomeadamente Freamunde e Lordelo de Paredes.
Uma grande medida desta Direção foi também a reparação dos equipamentos da coletividade (bacia de encestamento e grades de transporte) e, sobretudo, a reparação da viatura da coletividade, que se encontrava num nível de degradação avançado. Este investimento foi elevado, todavia era urgente conservar o meio de transporte dos pombos, para que pudéssemos realizar treinos e transportar os pombos para as concentrações. Isto só foi possível com o apoio da Câmara Municipal de Lousada, à qual estamos agradecidos.
Caracterize o atual momento da associação a nível desportivo e a nível de infraestruturas.
A nossa coletividade tem obtido um crescimento lento mas progressivo, e tem-se tornado cada vez mais competitiva com o número de praticantes e concorrentes a aumentar, face ao ano transato. Conseguimos a inscrição de mais 5 concorrentes para a Campanha 2020, o que aumentará o convívio e ao mesmo tempo a competitividade na sociedade. Temos, neste momento, inscritos 20 amadores, sendo 19 do concelho de Lousada e um de Paredes, o que dá um total de 575 pombos inscritos para as provas oficiais. A introdução de novos campeonatos na campanha desportiva permite aumentar o número de troféus e consequentemente novos campeões. A nível de estruturas, a coletividade está sediada no Bairro Dr. Abílio Moreira em Lousada. Em termos de área, a coletividade serve, para já, as necessidades. Porém, com o aumento de praticantes, torna-se complicado albergar 20 concorrentes e as suas caixas de transporte em dias de encestamento.
Caracterize-nos esta modalidade desportiva.
Esta modalidade desportiva é um hobby praticado por pessoas que gostam de pombos e de competir com os mesmos. É um desporto que necessita de tempo, método e rigor por parte do amador. Consiste em criar os pombos, habituá-los ao pombal (algo que todos os amadores possuem) e depois treiná-los em torno do pombal, para que estes consigam ganhar forma e músculo, para mais tarde competirem contra outros amadores. Para além de sermos os treinadores, somos, ao mesmo tempo, veterinários e nutricionistas.
Os treinos consistem em largar os pombos longe de casa e ir aumentando a distância, gradualmente, para que se preparem para as provas oficiais. O campeonato geral divide-se em 3 categorias: campeonato de velocidade (200km a 300km), campeonato de meio fundo (300km a 500km) e o campeonato de fundo (500km a 800km). Os pombos fazem, no total, 6 provas de cada categoria e cabe ao amador preparar os mesmos e escolher quais os pombos ideais para cada prova. Em todas as provas são classificados 25% dos pombos encestados e pontuam para o concorrente os primeiros dois pombos classificados. Chegando ao fim das 18 provas, no caso do campeonato geral, o amador que obtiver mais pontuação sagra-se vencedor do campeonato. São também encontrados os campeões das diversas categorias e premiados os pombos que obtiverem melhores classificações ao longo da campanha desportiva.
Quais são os principais objetivos desta direção?
Aumentar o convívio e ao mesmo tempo diversificar os campeonatos para captar mais concorrentes. Isto permite que amadores com menos tempo e objetivos possam lutar por prémios em diversas categorias, quer individuais (pombos), quer coletivos.
É fundamental mantermos os concorrentes de um ano para o outro para evitar desistências neste desporto. A coletividade necessita dos concorrentes, assim como os concorrentes da coletividade. Os objetivos a que nos propusemos inicialmente foram implementados logo de imediato, com a reparação de equipamentos e da viatura. Este ano transato correu muito bem e conseguimos recuperar quase 40% do valor investido. Para a próxima Campanha, temos mais novidades e precisamos de nos preparar para todo o tipo de situações.
Obviamente, o grande objetivo da coletividade, a longo prazo, passa por aumentar a sede conseguindo ao mesmo tempo um edifício independente que permita guardar a nossa viatura que neste momento não tem garagem. Um objetivo difícil, mas que a coletividade e os seus concorrentes merecem face aos resultados que têm obtido.
Quais têm sido as maiores dificuldades e as maiores necessidades?
Atualmente, a nossa coletividade, assim como muitas outras, sente bastante dificuldade em suportar os gastos na realização dos treinos. Em termos de necessidades, é urgente encontrar um lugar que abrigue a nossa viatura para que esta não se degrade. Era importante, visto que os campeonatos decorrem de janeiro a julho, preservar a mesma para que não aconteça o mesmo que nestes últimos anos.

1º Distrito do Porto, Categ. Velocidade e 3º a nivel nacional
Como vê o futuro da Columbofilia em Lousada?
Sou um otimista, espero que seja bastante bom. Óbvio que quero que melhore sempre para que este desporto ganhe maior participação e visibilidade no concelho. Contudo, a média de idades dos concorrentes é bastante elevada e tem sido difícil encontrar novos participantes para este desporto. A verdade é que é necessária muita dedicação e sobretudo tempo para a prática deste desporto. Muitas vezes a família é um pouco prejudicada por esta prática. Esta dificuldade é universal e só quando as pessoas se reformam ou conseguem um emprego mais flexível é que conseguem competir. Contrariamente ao que parece, a família tem um papel fundamental, porque muitas vezes são os familiares dos concorrentes que ajudam diariamente nas tarefas de preparação dos pombos, nomeadamente nos treinos diários de voo. Assim, espero que o futuro seja de facto melhor e que mais praticantes iniciem a sua atividade. O que acontece muitas vezes é que os concorrentes formam uma equipa com várias pessoas para que o trabalho e dedicação seja dividida. Penso que esta pode ser uma medida a ser implementada no nosso concelho, para que não se percam praticantes.
Está satisfeito com o apoio que a associação tem tido?
Os nossos concorrentes que fundamentais para nós. Contudo a Câmara Municipal de Lousada tem contribuído anualmente para ajudar na realização das diversas atividades a que nos propomos. É, de facto, pouco mas esta tem sido muito compreensiva e atenciosa. É necessário aguardar e continuar em conversações para que nos consigam ajudar de outras formas. Dou exemplo da reparação da viatura, a qual a Câmara apoiou financeiramente. Mas num futuro próximo pretendemos associar-nos à Junta de freguesia para que possamos unirmo-nos e encontrarmos formas de divulgação e promoção deste desporto.
Que mensagem gostaria de deixar para promover a columbofilia.
Quero desde já agradecer ao jornal O Louzadense a oportunidade de divulgar este desporto, que é bastante importante. Espero despertar a curiosidade nas pessoas e que estas se questionem e associem aos concorrentes do concelho. Agradecer a todos os elementos diretivos e concorrentes da Sociedade pois sem eles a coletividade não prosperava. Espero que assistam às chegadas de pombos nos pombais dos amadores que é um dos momentos altos. Serão bem recebidos certamente e todo o trabalho semanal por nós realizado culmina na chegada de pombos das provas e espero que satisfaçam essa curiosidade junto dos participantes, pois é muito importante que este desporto ganhe mais visibilidade e se possível traga mais praticantes, visto que tem sido um hobby cada vez mais esquecido.
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