por | 24 Dez, 2019 | Opinião

“Não é espectável que venha a acabar bem algo que começa com tamanha divisão.”

Carlos II (in Charles II: The Power and the Passion)cher

Pensa-se que durante os tumultuosos anos 70 de 1600, quando o Parlamento Britânico tentou passar a chamada Lei da Exclusão (com vista ao afastamento do irmão do Rei da linha de sucessão), Carlos II tenha comparecido presencialmente na Câmara dos Comuns, com vista a dissolvê-la, e proferido as seguintes palavras: “Todos conseguimos ver o ponto a que chegamos. Não é espectável que venha a acabar bem algo que começa com tamanha divisão.”.
Ora, a aprovação ministerial do Orçamento (“de continuidade”) do Estado para 2020, pronto para ser debatido na Assembleia da República, coloca o Governo e os nossos Parlamentares numa posição particularmente semelhante. Uma divisão inegável, que apenas uma cuidadosa e estudada aritmética parlamentar poderá salvar de um desfecho pouco apetecível. A única diferença é que Carlos II não irromperá pelo hemiciclo com a intenção de o dissolver, até porque, provavelmente, Ferro Rodrigues acharia esse comportamento uma vergonha.
O problema é que, contrariamente à Aritmética matemática pura, cujas fórmulas se mantêm constantes, no caso parlamentar elas vão flutuar consoante o Partido Socialista consigne mais ou menos fundos a tentar preencher as expectativas dos seus aliados mais à Esquerda. Uma espécie de quem quer casar com a carochinha versão partidária.
Façamos a destrinça deste conto político. À Direita temos dois grupos distintos, os novos e os velhos partidos. Os novos, livres das amarras do passado que mantêm manietados os velhos, não terão qualquer problema em votar contra um Orçamento que, em essência, diverge quer dos seus ideais puramente liberais, quer da sua atitude populista e reaccionária. Os velhos, por seu turno, amarrados à herança do passado esperam com ansiedade o fim público da relação dos partidos de Esquerda. Se não acontecer, votam contra o “orçamento de continuidade”, se acontecer logo se vê se se dá uma mãozinha ao socialismo (nem que seja porque as sondagens não animam, num futuro próximo, a Direita tradicional).
Por seu turno, à Esquerda temos os pretendentes da carochinha, cujo tostão está cativado e o caldeirão está em tão mau estado que já nem sopa é capaz de cozer. Aqui, temos também vários partidos, velhos e novos, mas apenas duas hipóteses, um voto favorável ou uma abstenção em bloco, ou um voto contra e um a favor dos dois maiores partidos desse grupo.
Cumpre ao Primeiro Ministro fechar de vez as contas do Orçamento e começar a fazer as contas do Parlamento. Fica a dica: chamar Centeno para as fazer, se este não estiver muito ocupado a lidar com Primeiros Ministros dissidentes nas reuniões do Eurogrupo.
No final, tal como em 1679 na Grã-Bretanha, também no Portugal de 2019 “todos conseguimos ver o ponto a que chegamos” veremos agora de que forma acabará esta história, até porque novos personagens se perfilam, cuja entrada no enredo poderá ditar diversas e interessantes alterações.
Veremos.

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