“Nos actuais tempos de insegurança e de incerteza que vivemos face à emergência de saúde pública mundial, nunca os discursos de guerra de Churchill fizeram tanto sentido. A Europa assiste ao revivalismo do pensamento de sobrevivência bélico, como não vivia desde meados do século passado. No entanto, o inimigo é em tudo diferente. É invisível, silencioso, não usa uniforme, não transporta bandeira, não ocupa pontos estratégicos num mapa e sobretudo é inatacável à força de armas…
Hoje, ao contrário de 1939, a luta faz-se nos Hospitais que lutam contra a doença, nas fábricas que lutam contra o colapso da economia e em cada lar que luta contra a propagação do vírus. Portugal, a Europa e o mundo aprenderam a não menosprezar aquilo que parecia, à primeira vista, ser um problema exclusivo da China continental. Lutam e lutamos todos por superar uma situação extrema e extraordinária, normal no passado, mas da qual já quase ninguém tinha memória e para a qual ninguém estava preparado.
Ainda assim, algo deve permanecer imutável na nossa consciência colectiva. A esperança…
No nosso país quem melhor resumiu essa mensagem de esperança no futuro foi S. Exa. o Presidente da República no seu discurso de declaração do Estado de Emergência. Encerrando a sua comunicação, dizia-nos que: “Na nossa História, vencemos sempre os desafios cruciais. Por isso temos quase novecentos anos de vida. Nascemos antes de muitos outros. Existiremos ainda, quando eles já tiverem deixado de ser o que eram e como eram.”
Belíssima mensagem de alento num momento em que o futuro é tão incerto. Porque a realidade é essa, amanhã quando for possível declarar vencida a guerra contra este novo vírus, o espírito português permanecerá, a sociedade permanecerá, mesmo aqueles que infelizmente sucumbirem à doença permanecerão na memoria e sentimento dos que ficam. Por nós e por eles urge não perder a esperança no Portugal, na Europa e no mundo de amanhã.
Por fim referir que o ambiente de isolamento social que nos é imposto a bem desse expectável futuro, comporta dois inegáveis deveres cívicos. Àqueles que não estão dispensados dos seus trabalhos, os profissionais de saúde, os militares e polícias, os governantes e autarcas, os trabalhadores das fábricas e dos serviços essenciais impõe-se o esforço hercúleo e patriótico de garantir o funcionamento do país. Sobre todos os outros impende o dever moral de permanecer em casa!
Este isolamento pode mesmo ser vantajoso já que é propício à introspecção e à reflexão pessoais, algo que devemos aproveitar não só para desocupar a nossa mente de alarmismos desnecessários, mas também para ponderar as nossas prioridades em face das circunstâncias que se nos impõem.
Nesse sentido, e no espírito de divulgação literária e cinematográfica que tem sido promovida nestes tempos de confinamento social, deixo 4 sugestões de filmes que para além de extraordinárias odes cinematográficas, captam a capacidade de resiliência humana face à adversidade:
– Blindness (Ensaio Sobre a Cegueira) (2008): baseado na obra de José Saramago. Um dos únicos filmes sobre epidemias, recomendável nesta altura. Um filme absolutamente cru que desmonta por completo quaisquer noções preconcebidas que tenhamos sobre a sociedade e a essência humana;
– Darkest Hour (2017): um desempenho brilhante de Gary Oldman que consegue uma das mais extraordinárias interpretações de sempre de Churchill durante os primeiros meses da 2ª Grande Guerra;
– Zulo (1964): primeiro grande papel de Michael Caine interpretando o Tenente Gonville Bromhead. História de dois oficiais britânicos que colocam de parte os seus passados e as suas origens para comandar uma centena de soldados face a milhares de inimigos;
– 55 Days at Peking (1963): uma viagem de 55 dias ao final do período da China imperial. Pela interpretação de Charlton Heston e David Niven retracta a defesa do bloco das legações e do corpo diplomático em Pequim por uma aliança de oito nações contra o cerco da revolução Boxer.
Seja um agente de Saúde Pública. Fique em casa!
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