No rescaldo desta última semana pareceu-me lógica a continuação da linha de citações dos discursos de guerra de Churchill. Afinal, a guerra que a nossa geração vem travando, não obstante ser silenciosa, continua a deflagrar lá fora. O inimigo, invisível e insidioso, ainda ocupa as nossas ruas e continua a ser imperioso batalhar contra a sua progressão.
Portugal tem demonstrado uma capacidade de resiliência extraordinária, que se comprova pelos indicadores estatísticos da nossa curva que parece não se encaminhar para o tão temido pico descontrolado. Mas não tenhamos ilusões, esta não é uma guerra que possamos ganhar com apenas uma batalha.
Porém, se alguma dessas batalhas realmente já fomos vencendo, essa vitória deve-se aos nossos soldados da linha da frente. Não apenas os profissionais de saúde, a quem o Santo Padre chamou de “heróis de todos os dias e de todas as horas!”, mas também todos os milhares de outros que se arriscam todos os dias para manter o país, a Europa e o mundo à tona do colapso total.
Os Governantes que “perderam as suas cores partidárias” em prol de um bem maior, tal como os autarcas que palmilham Concelhos e Freguesias, recrutam voluntários, contactam fornecedores, equipam-se e ajudam a desinfectar espaços públicos, controlam as ansiedades dos cidadãos, apelam à calma e ao civismo e muitas vezes guiam as populações pelo exemplo.
Os bispos, párocos e instituições sociais da igreja que apelam ao isolamento social, ajudam altruisticamente aqueles que precisam dentro e fora das instituições e se reinventam para estar próximos dos fieis.
Militares, Polícias, Bombeiros, Cruz Vermelha, Protecção Civil, Direcção Geral de Saúde e tantos outros, que desdobram os seus meios para prevenir, proteger e socorrer ao maior número de pessoas, mas que também projectam, erguem e gerem os meios físicos e de apoio necessários para acorrer a esta situação.
Trabalhadores de serviços essenciais e empresas que produzem, transportam e comercializam os bens essenciais à sobrevivência da nossa sociedade e à manutenção mínima do tecido económico e social nacional.
Todo este grupo de extraordinários, merece ser louvado pelo esforço patriótico que vêm empreendendo desde a disseminação do vírus e decreto do Estado de Emergência. Pessoas normais capazes de feitos extraordinários!
Em plena Semana Santa continuamos e ver-nos a braços com as circunstâncias anormais que nos são impostas. No seu decurso celebramos o Dia Mundial da Saúde em circunstâncias excepcionais, e ao mesmo tempo assistimos a uma onda comunitária com o surgimento de inúmeras cruzes nas varandas, jardins, janelas e portas da nossa terra para celebrar a Páscoa. Vimos um primeiro ministro europeu hospitalizado devido ao vírus, mas também observamos as curvas de Itália e Espanha demonstrarem ligeiros sinais de abrandamento. Ou seja, assistimos a uma batalha constante entre as dificuldades que esta doença nos impõe e a resiliência que demonstramos enquanto sociedade solidária, cuja vivência comunitária, apesar de suspensa, permanece forte!
No seguimento do último artigo e no espírito de divulgação literária e cinematográfica que tem sido promovida nestes tempos de confinamento social, deixo hoje sugestões de livros:
- Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago: em linha com a sugestão cinematográfica da última semana.
- As Ideias Políticas e Sociais de Jesus Cristo de Freitas do Amaral: um dos últimos ensaios do professor, uma pequenina obra muito bem escrita e carregada de significado.
- O Catalão de Noah Gordon: para quem gostar da geopolítica do séc. XIX e dos meandros da produção Vinícola pode apostar nesta obra que permite ao leitor fugir ao isolamento e viajar para a Catalunha das guerras carlistas.
- Os Últimos Dias de Pôncio Pilatos de Paula de Sousa Lima: uma personagem bíblica que nos passa frequentemente ao lado e que nesta obra e nesta semana em particular adquire particular relevância. A condenação de cristo e a disseminação do cristianismo aos olhos do homem que o condenou.
Seja um agente de Saúde Pública. Fique em casa!