E neste quási Inverno da minha vida eu quero para todos uma Primavera que me foi negada
Dr. Abílio Alves Moreira (1907-1983) no comício lousadense de apoio ao MFA a 28.4.1974.
Com a chegada da efeméride do 25 de Abril e numa altura de grande controvérsia sobre as suas comemorações, queremos recordar o modo como Lousada celebrou a notícia da Revolução em 1974!
Efetivamente, já passaram 46 anos deste grande dia da nossa História! Os mais velhos ainda se lembrarão dos festejos revolucionários, mas a maioria dos lousadenses, na atualidade, não tem memórias desse acontecimento! Recorremos, por isso, à imprensa da época para nos ajudar a reviver essa ocasião memorável do nosso passado.
Logo após as notícias da Revolução terem chegado a Lousada pela rádio e pela televisão, a secção local do Movimento Democrático do Porto dirigiu-se «Ao Povo de Lousada», convidando-o para um comício de apoio ao Movimento das Forças Armadas (MFA), que ficou agendado para o dia 28 de abril, um domingo, junto aos Paços do Concelho, às 18h00.
Apesar de ter sido um dia frio e chuvoso, a iniciativa contou mais de 2000 participantes, que não arredaram pé, «demonstrando por este facto o seu arreigado entusiasmo e apoio pelas liberdades fundamentais» que o MFA se propunha defender. Foram vários os palestrantes intervenientes. Entre eles, estiveram os saudosos Abílio Alves Moreira e Arnaldo Mesquita que se referiram às questões da Liberdade e da Democracia, não esquecendo os problemas que afetavam os trabalhadores e pedindo o fim da guerra colonial.
Depois de várias intervenções, foi lida e aprovada por aclamação pública uma moção em nome do povo lousadense. Era um documento que expressava o seu apoio ao momento revolucionário que se vivia e o seu desejo de mudança. Exprimia ainda o sentimento de revolta pela castração das liberdades impostas pelo fascismo e pela violência da PIDE/DGS e da Legião Portuguesa, mas também da GNR e da PSP que eram parte do suporte repressivo do regime. De facto, o episódio brutal do dia 24 de outubro de 1973, no edifício dos Bombeiros Voluntários de Lousada, estava ainda fresco a memória da comunidade!… Efetivamente, quando ali decorria o comício eleitoral democrático para a Assembleia Nacional, os agentes da GNR local agrediram violentamente os populares participantes. Por isso, esta moção serviu para os lousadenses expressarem livremente as suas emoções e pedirem ao Governo que saneasse e castigasse severamente os responsáveis de «tal selvajaria».
O comício, como seria de esperar, correu de forma ordeira e cívica e foi, essencialmente, um momento de festa e regozijo pelo fim da ditadura. No final, todos cantaram orgulhosamente o Hino Nacional e desfilaram pelas ruas da Vila entoando cânticos de «de amor à liberdade, à democracia, ao termo da guerra, ao regresso dos soldados» e empunhando inúmeros cartazes alusivos ao momento. «O povo unido jamais será vencido» foi o slogan mais comum!
Apenas uma retificação: não foram os agentes da GNR local que agrediram, mas por um reforço vindo do Porto.