Conservatório do Vale do Sousa celebra 25 anos
Na altura em que o Conservatório do Vale do Sousa assinala as Bodas de Prata, O Louzadense esteve à conversa com Fernanda Alves, diretora pedagógica a instituição desde 2003.
Neste momento, qual o ponto de situação a nível de alunos e professores?
O conservatório faz 25 anos e, ao longo destes anos, tem vindo a crescer mesmo muito. Neste momento, no ano letivo 19/20, tem 450 alunos e 42 professores, isto no ensino artístico especializado. Temos outros projetos queridos e fundamentais, que são os jardins-de-infância, com o projeto Brincando Musicando, e as AEC’S, um serviço prestado ao Município. Nesses projetos, temos 14 professores envolvidos e um coordenador, que faz parte do Conselho Pedagógico. É um projeto muito abrangente, que leva a música a quase todos os alunos do concelho de Lousada, desde os jardins até ao primeiro ciclo, o que é uma coisa importante para nós e para o concelho.
Todos nós sabemos que a música é fundamental e uma disciplina transversal. Com a música, tudo se estuda, tudo se treina, desde a linguagem, ritmo, expressão corporal… A nível de desenvolvimento, os alunos acabam por ganhar com a música na sua vida. Acho que o conservatório abrange o concelho todo e também outros concelhos à volta, o que é um privilégio. Também temos música para os bebés e começamos este ano com o projeto com a Misericórdia, Música no Lar, aumentando cada vez mais a nossa influência e isso é bom.
Está na instituição há mais de 2 décadas. Que retrospetiva faz destes 25 anos de história?
Tem-se visto a evolução. Há cada vez mais procura, muito menos oferta do que procura. Vivemos numa zona em que o nível económico das famílias não é muito favorável e, se não fosse o apoio do Ministério da Educação, o projeto e o Conservatório não estaria onde está hoje. Temos limitações, quer pelo espaço físico, quer as impostas pelo Ministério de Educação, mas desde 1997 que vivo esta realidade e que noto muitas diferenças em tudo. Quando nos procuram, já têm conhecimento das coisas, o que não acontecia antes.
Por isso mesmo, temos tido alguns concertos com muita gente e temos conseguido um trabalho meritório com um corpo docente bastante estável, visto que a maior parte das pessoas já trabalha cá há cerca de dez anos e mais. Acaba por haver um espírito de grupo muito grande é uma das coisas que eu valorizo muito. É uma equipa muito trabalhadora, que não liga a horas. Quando é preciso algo, basta pedir que estão sempre disponíveis. Nesta fase difícil, basta visitar a nossa página do Facebook para encontrar muita atividade a decorrer, desde os vídeos mais direcionados para as AEC’S e jardins, entre outros apontamentos que aproximam os alunos e as famílias do nosso trabalho.

Dia 9 de março parou tudo em Lousada. Quais foram os principais constrangimentos e que vitórias conseguiram encontrar neste período de confinamento?
Tivemos uma adaptação quase instantânea. No dia 8 à noite, recebemos a notificação de que tínhamos de fechar no dia 9. Foi aquele corre-corre de enviar e-mails a informar que a escola iria estar fechada. Depois foi a incerteza, pois ninguém sabia quando é que poderíamos abrir e em que circunstâncias. Tivemos todos de nos adaptar. Tentamos logo no final do segundo período fazer essas experiências, com os nossos professores a continuarem a dar as suas aulas, não da forma ideal, pois nada substitui o ensino presencial, muito mais no nosso caso, que é preciso o contacto. Mas foi o possível na altura. Por isso, tivemos que nos adaptar às novas tecnologias. Começamos a experimentar plataformas, desde o Skype, o Zoom, o e-mail, entre outras, mas há disciplinas que não permitem, de uma forma adequada, o ensino pela internet e por isso os professores procuraram outras abordagens, com links com vídeos, quizz… No caso do instrumento e formação musical, claro que não é a mesma coisa: o instrumento avaria, a palheta parte, a corda está desafinada… São coisas que é muito difícil resolver à distância, mas não é totalmente mau. O feedback que tenho dos professores é que há muitos alunos que acabam por melhorar, uma vez que, quando estão a gravar, têm outro tipo de preocupação, pois gravam os vídeos várias vezes até ficar bem, o que não é mau, acabando por estudar mais.
É uma aprendizagem para o futuro?
É uma ferramenta para ser utilizada no futuro como complemento. Os professores queixam-se de que os meninos têm pouco acompanhamento. Uma aula por semana é pouco, mas este poderá ser um recurso adicional para acompanhar os alunos.
Que outros desafios o Conservatório gostaria de enfrentar?
O nosso ensino artístico especializado da música e da dança tem sempre um lado de incerteza. Temos um outro vírus, que é o da incerteza relativamente ao contrato com o Ministério da Educação. Não sabemos quando é que ele vai pagar, se é em maio, se é em junho. Temos muitas incertezas tendo em conta o financiamento do Ministério. Estamos a receber pré-inscrições para o próximo ano letivo, que ainda estão abertas até ao final de junho. As provas de acesso serão realizadas, mas, por causa do Covid, não vamos fazer provas de acesso de instrumento.
Temos sempre muitos projetos para o futuro. Temos um que gastaríamos que avançasse mais com os idosos. Começamos com o lar da Misericórdia, mas gostaríamos que ele fosse ampliado a todos os idosos e aos movimentos seniores, porque de facto a música quando está na vida das pessoas torna-as bem melhores, nem que seja por estarem juntas e serem felizes naquele momento. É realmente importante, mas tudo esbarra nos financiamentos. Como nós já estamos aqui há 25 anos e ganhamos várias lutas, certamente vamos vencer esta também.
O Conservatório do Vale do Sousa teve grande impacto no futuro dos alunos. Hoje alguns até estão no estrangeiro…
Falo disso com muito orgulho. Temos tido, ao longo destes anos, alunos que prosseguem os seus estudos no 10.º ano no curso de música, que é um curso que não os obriga a seguir música no futuro, pois as portas estão abertas para outras vertentes, não é algo afunilado. No entanto, temos tido bastante sucesso. Os nossos alunos têm entrado sempre ou quase sempre no ensino superior. Temos alunos espalhados por todas as universidades e alguns deles procuram o seu caminho lá fora, o que nos orgulha muito. Temos o caso do João Xavier, o caso da nossa Joana da flauta, o José Afonso, que está a estudar também lá fora, entre outros. São miúdos que procuram dar continuidade à sua formação. Até a esse nível os alunos de Lousada são reconhecidos como bons alunos. Mais tarde, acabamos por ter a oportunidade de ter esses mesmos alunos a trabalhar connosco. Uma vez nossos, são “nossos toda a vida”.
Que mensagem gostaria de deixar para o futuro?
No caso da cultura, esta não é uma altura nada fácil, porque as pessoas precisam de ganhar dinheiro para comer, têm filhos, têm família… Há o prazer, sim, mas também a família e as coisas básicas. Muitas pessoas que trabalham na música fazem-no de forma sazonal. Está tudo parado, o que torna a vida muito complicada. Não podemos esmorecer, temos de sair destas dificuldades da melhor forma possível.
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