Paulo Perdigão dedica-se à formação de atletas
Não nasceu em Lousada, mas sente-se lousadense, tendo escolhido o concelho de Lousada para viver e desenvolver uma das paixões da sua vida, as artes marciais. Falamos de Paulo Perdigão, um nome incontornável nas artes marciais, detentor de vários títulos europeus e mundiais. Não exageramos se dissermos que é um dos melhores do mundo.
Lousadenses, os pais de Paulo Perdigão foram para Lisboa por razões profissionais. Aí nasceu o atleta, que mostrou interesse pelo desporto, especialmente pelas artes marciais, desde muito cedo. O Sporting acolheu-o, viu nele grande potencial e apostou na sua formação. Teve a sorte de ser orientado por um Mestre oriental, o que fez toda a diferença. Uma vez iniciado na prática e valores das artes marciais, não mais parou, descrevendo uma curva ascendente, que o levou ao estrelato.
O seu desempenho rapidamente o levou aos campeonatos nacionais e internacionais, em representação do nosso país. Com “felicidade e também muito esforço”, como faz questão de realçar, alcançou vários títulos na Europa e na Ásia, entrando no Top 10 dos melhores atletas do mundo. Foi, aliás, no continente asiático que, segundo o atleta, sempre teve maior reconhecimento.
Ao longo do seu percurso teve a sorte de se cruzar com professores que se tornaram referências na sua vida. José Silva, professor da área do desporto de alta competição, e Moniz Pereira, que reconhece como seu mentor e lhe passou valores técnicos e morais, são dois nomes a assinalar.
“Dar nas vistas” e conquistar títulos deram-lhe a possibilidade de ganhar formação com os melhores mestres um pouco por esse mundo fora. Mas o “passaporte” foi sobretudo o mérito e a dedicação. Aprendeu com atletas de alto estatuto internacional, o que lhe permitiu entrar “num elenco com cada vez mais respeitabilidade nas artes marciais”, refere.
Recebeu “Óscar” das artes marciais três vezes
A dedicação e perícia rapidamente o levaram de formando a formador, passando também ele a treinar atletas de grande gabarito. Este foi, no entanto, um caminho natural, que nunca procurou. Treinou os melhores mestres da modalidade e andou pela Europa em palestras e seminários, alcançando grande prestígio, que o tornou merecedor de várias menções honrosas. O maior reconhecimento terá sido o título de melhor Mestre Internacional do ano, uma espécie de óscar das artes marciais, que venceu por três vezes , na Hall of Fame Internacional Martial Arts.
Os conhecimentos acumulados ao longo da sua carreira motivaram o convite académico para apresentação de uma tese, que lhe valeu o título de Doutor Honoris Causa, pela Faculdade de Motricidade Humana.
Apesar de ter atingido o patamar de estrela, Paulo Perdigão nunca abandonou a humildade que o caracteriza e considera ser um requisito importante na vida de todos.
Paulo Perdigão saiu há 27 anos da capital para se fixar em Lousada, apesar de se reconhecer lousadense desde sempre, tendo inclusivamente sido batizado no concelho, por vontade dos pais. Por onde passava, fazia questão de se afirmar lousadense. A residência permanente na vila nortenha aconteceu por saturação da grande cidade e o desejo de mostrar que fora dos grandes centros também há talento: “Vou mostrar ao poder central que numa zona mais distante, se houver ovos, fazemos omeletas”, pensou, na altura. Os ovos revelaram-se de boa qualidade, pois conseguiu boas omeletas. “Tive sorte, há boa massa em Lousada. Conseguiu-se fazer um ótimo trabalho”, afirma, referindo-se à qualidade dos atletas lousadenses, que faz com que Portugal seja reconhecido por um grupo específico de grande mérito.
Sempre com os olhos fitos no amanhã e no aperfeiçoamento constante, abriu as portas do mundo aos seus atletas: “Aproveitei os contactos internacionais e vamos lá avançar com a rapaziada por esse mundo fora”, diz. De realçar que o Mestre conseguiu conquistar vários títulos europeus, e alguns mundiais, com os seus atletas, no estilo Kyokushin uma variante de Karaté que valoriza os dez primeiros classificados de cada competição.
Associação Kentojuko forma atletas reconhecidos a nível mundial
Em Lousada, a Associação Kentojuko, que já organizou o Campeonato da Europa em Lousada, acolhe muitos atletas no âmbito das artes marciais, mas Paulo Perdigão dá apoio a vários atletas de outras modalidades, para um melhor desempenho físico e psicológico.
Quando fundou a Associação, apoiou-se no lema “orgulhosamente sós” e explica porquê: “Fazemos a coisas por nós próprios, com o nosso trabalho”. Ao invés de procurar apoios para erguer a estrutura, preferiu usar somente o trabalho para que os apoios chegassem após o reconhecimento da obra feita. “Nunca pressionei as entidades. Achei que um dia, quando me dirigisse às entidades não seria eu apresentar-me, mas sim o nosso trabalho”, refere.

Com sede em Cristelos, num local que descreve como “barracão arranjadinho, humilde, mas com boas condições”, ao estilo oriental, está aberto a qualquer tipo de apoio, que surja do reconhecimento do trabalho desenvolvido. Reconhece que, há 10, 15 anos, os patrocínios eram mais fáceis, mas tem esperança no futuro e no apoio das entidades oficiais, que vão percebendo o valor da Associação. A autarquia lousadense é uma das entidades que apoia a modalidade, sobretudo em questões logísticas.
Para os menos conhecedores das artes marciais, Paulo Perdigão explica que as mais conhecidas são as japonesas, chinesas e coreanas. O karaté japonês tem dois estilos: a via desportiva e a clássica. Esta última é aquela a que se tem dedicado. “Tem um código mais exigente fisicamente, com combates mais agressivos”, explica. Reconhece que tem bons atletas, dos quais se orgulha, mas o mais importante de tudo é que tem bons cidadãos.
Aos 60 anos, Paulo Perdigão sente-se muito longe da reforma. A principal força está no espírito. “O sofrimento molda o espírito”, garante, acrescentando que é com o sacrifício do trabalho que conseguimos vencer.
Comentários