Nunca como este ano foi tão essencial refletir sobre a importância da comunidade e das suas manifestações coletivas e identitárias. Se, como afirmou Aristóteles, “o homem é por natureza um animal social”, então, as suas tradições locais comunitárias comprovam, em definitivo, essa sua condição plural e esse sentimento de pertença ao grupo.
E o que mais nos caracterizará como lousadenses que esta nossa Grandiosa Festa?
A história recente do Concelho, funde-se indissociavelmente com a Vila de Lousada e esta, por conseguinte, com o templo que a entrona e as festas que lhe estão associadas.
Instituídas ainda no esplendor oitocentista, desde 1928 que Lousada não assistia a um ano sem Festas Grandes. Ao longo de quase 90 anos, nenhuma outra adversidade parou a vontade lousadense em festejar, pública e coletivamente, esta expressão do seu ser coletivo.
Por isso, este não podia ser senão o momento para exprimir uma ode a esta terra, suas gentes, instituições e centenária tradição.
Todos nós, enquanto lousadenses, vivemos com expectativa os meses e semanas que antecedem o último fim-de-semana de Julho. Há um crescendo que se vai apoderando da Vila e das mentes de todos nós. Não só daqueles que, incansavelmente, trabalham para levar a cabo as festividades, mas sobretudo de tantos que por elas aguardam com o intuito de as viver ao máximo.
O sucesso e magnitude das Festas Grandes em honra do Sr. dos Aflitos, reside precisamente na extensividade do seu nome e nos contextos que consegue incluir. São, antes e acima de tudo, uma Festa. E festa que se preze procura contagiar no seu ambiente festivo o máximo possível de pessoas. As vertentes religiosa e profana complementam-se, aliando a intemporalidade da tradição cristã com o mutável conceito de diversão popular. Afinal, como referiu o estoico Epicteto “em toda a festa há dois convivas a entreter – o corpo e a alma”.
É essa correlação de realidades que tornam a nossa Festa única, não só para lousadenses, mas também para todos aqueles que, anualmente, visitam, partilham e vivem esta nossa Festa.
Uma Festa eclética, que conjuga o espírito boémio juvenil, à oferta diversificada de cultura musical, que alia o arrufo tradicional dos bombos, ao compassado ritmado do samba e das marchas luminosas… Que contrasta o clamor agitado das ruas noturnas, ao silêncio de preces evocadas no templo, que contrapõe a imponência explosiva de espetáculos pirotécnicos, à desconcertante humanidade do olhar suplicante de cristo.
Este ano… estas festas… ficarão para a história. Quem sabe não redescobrimos, como sugere Saramago, a importância de a tornar dias iguais aos outros em algo diferente.
Nenhum dia é festivo por ter já nascido assim: seria igualzinho aos outros se não fôssemos nós a «fazê-lo» diferente” in Cadernos de Lanzarote, José Saramago

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