Sílvio Cortez é professor no Conservatório do Vale do Sousa, onde é também responsável pelo coro feminino, que alcançou grande prestígio a nível nacional e internacional.
Conheça melhor o seu trabalho nesta curta entrevista.
Como surgiu o seu interesse pela música?
Eu, como qualquer jovem que inicia a sua vida académica e pensa alcançar um objetivo com que se identifique, desde muito cedo me identifiquei com a música, pelas práticas musicais do meu pai, que toca acordeão. Ele sempre quis que alguém da família aprendesse, não tanto para ser músico, mas para que pudesse desfrutar da música e de tudo aquilo que ela nos pode transmitir. Este é o principal objetivo que vejo nas crianças dos conservatórios, o de viver harmoniosamente nesta cultura musical. O meu trajeto confirmou-se mais pelo gosto e paixão pela área. Depois de terminar o curso básico, surgiu a possibilidade de poder seguir este caminho. As práticas foram constantes, a paixão foi mais concretizada para o lado da música. O meu objetivo passava pela música, uma paixão que foi crescendo.
Começou por tocar algum instrumento?
O meu instrumento foi o piano, num curso em Paços de Ferreira. Não havia conservatórios na altura. O meu registo foi livre. Comecei a aprender formação musical de base e piano, depois estive no Conservatório de Música de Paredes até ao quinto grau e, posteriormente, fui para o Conservatório de Música do Porto e seguindo-se Gaia, Universidade de Évora, depois Aveiro, sempre aprender…
Como chegou ao nosso conservatório?
Parece que foi ontem, mas já lá vão 15 anos que estou nesta bela casa, que é o CVS, de que todos nos devemos orgulhar. Uma escola de uma competência muito grande. Foi pela mão do senhor professor António Pacheco. Estava por dentro do que eu estava a fazer no Conservatório de Paredes, na área do grupo coral, e o convite foi uma proposta para vir, de alguma forma, revolucionar a disciplina do coro e incutir o gosto pela disciplina aos alunos. É uma disciplina de construção da identidade e projeção artística. Agradeço por fazer parte desta casa de enorme valor artístico.
Quais as primeiras impressões quando cá chegou?
A realidade tem sido constante (e isso faz uma boa escola), relativamente à secretaria, aos auxiliares, às direções artísticas, que têm sido partes importantes. Foi isso que eu notei. Em termos organizativos, foi uma grande valência que vi neste conservatório. Uma casa bem organizada e de competência e a vontade expressa de todos os organismos, como a câmara municipal e outras associações e instituições. A escola é um conjunto de grandes organismos de toda a comunidade e não só a escola.
Achou logo que o coro feminino poderia sair fora das portas do conservatório?
Tive sempre interesse em ter um grupo de coro diferente, sem ser misto. Em termos de um tom, voz feminina, é pouco comum em Portugal. Era já há muito tempo minha intenção criar um coro, que é um vazio a nível nacional e não tanto a nível internacional. Tentei com vozes dentro da matéria-prima que eu encontrava. No conservatório já via muito valor e tenho orgulho nas cantoras que estiveram na fundação do coro e que ainda fazem parte dele. O meu objetivo era criar um coro que não se vinculasse só à parte académica pura e simples e também que pudesse haver alguma continuidade no crescimento musical. Para isso, é preciso que as pessoas se mantenham, não só no período em que estudam, para que seja permitida essa alavancagem do coro durante anos. Queria criar um grupo sustentado com uma regularidade de trabalho.

Quando é que deram o primeiro salto para fora da casa-mãe?
O salto foi sendo dado ao longo do tempo. A construção artística tem de andar a par de algum reconhecimento nacional e internacional. Nunca fui de estar parado, de ficar por casa, não gosto de fazer cultura para quatro paredes. O trabalho que elas fazem não é para encerrar dentro de portas. Desde muito cedo, elas foram-se mostrando e fomos depois sendo convidados para grandes concertos de mais gabarito, com mais reconhecimento, que são mesmo muitos.
Na primeira fase, foi logo reconhecido o nosso valor. Estivemos no CCB, ganhamos um concurso no INATEL, depois, muito cedo, estivemos em França, onde fomos reconhecidos internacionalmente. Fizemos muitos concertos e muitos lugares já visitamos, não tanto pelos prémios, mas sim pelo reconhecimento do trabalho que fazíamos e isso foi louvável ao longo do tempo. Estivemos em países como a Suíça, Itália, França Espanha, muitos onde ganhámos prémios, e temos ficado bem a nível de resultados.
Com sinceridade, os bons resultados a mim pouco me diz, pois sei o que elas valem a nível nacional e também a nível internacional. Isso das competições é muito bom para o crescimento, até para compararmos. Já houve competições em que pensávamos que iríamos ficar em primeiro e acabamos por não conseguir. As coisas nem sempre acontecem como desejamos.
Como foram os primeiros trabalhos do ponto visto psicológico?
Esse trabalho psicológico é afeto à disciplina Coral. O Coro tem uma espécie de disciplina em termos de consciencialização e essa psicologia está sempre afeta. É um crescendo e faz parte das aulas. Se nós estamos à procura da qualidade, se nos reduzirmos, ficamos por aí. Eu, pelo menos, tento que a faceta dos mínimos não seja a realidade das aulas. Para isso, tem de haver liderança e tentar o melhor com as condições que temos. Temos para isso de trabalhar a identidade de cada um, para que se consiga fazer o melhor possível. É preciso resiliência, responsabilidade, tenacidade, envolvimento, tudo em prol daquilo que nós queremos fazer bem. Elas estão conscientes e, ao sair daqui, já sabem para o que vão. Tentar fazer o melhor e não se contentar apenas com o pouco.
A que outras atividades se tem dedicado?
Tenho mais algumas, fruto do sucesso destes coros, devido os prémios que temos conseguido. O sucesso é coletivo, mas acabamos por, em termos individuais, ter dividendos, algum reconhecimento. Fruto disso, vamos sendo convidados para outras atividades. Já dirigi o coro da Faculdade de Economia em 2005 a 2010. Neste momento, estou a dirigir o da Universidade do Minho. A outra pérola do meu trabalho é o coro Vocal Art Ensemble desde 2003. Já são bastantes anos. São realidades distintas, não são comparáveis. Dentro desta área musical, sou convidado com frequência para formações no âmbito da voz e da formação de coro, a nível regional e local.
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A música não se pode resumir em duas ou três palavras, não se define, sente-se, vive-se. A minha mensagem é que a música não tem de ser encarada só na vertente profissional. Aprendam música, pois ela faz parte do crescimento do ser humano.
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