José Luís é o atual presidente do Grupo Folclórico da Associação Cultural e Recreativa Sr.ª Aparecida. Integrou o grupo em 1993, com apenas 13 anos, a convite de um membro da direção. Após um ano, considerou que não tinha apetência para o folclore, mas acabou por regressar. O Grupo faz parte da sua vida há quase três décadas.
Nesta entrevista, fala-nos do atual momento e das expectativas relativamente ao futuro.
O que o levou ao Grupo Folclórico?
Há 27 anos, não tínhamos as possibilidades que temos hoje de sair. Com 13, 14 anos, era uma oportunidade de podermos conviver com outros jovens e outras pessoas, e isso foi o que me fez vir. Depois, vai-se ganhando o gosto e vai-se ficando. Vamos percebendo o que é isto do folclore, ganha-se o “bichinho”… Muitos vêm, fazem a experiência e não ficam, o que é normal.
E como chegou à direção?
Em 2005, o senhor Faria convidou uma série de jovens para fazerem parte da direção dele. Nessa altura, fiquei como secretário e, em 2014, quando regressei dos Açores para Aparecida, foi um ano de eleições. O presidente que estava não queria continuar. Fizemos uma direção com o Luís Carvalho e fiquei como vice-presidente. Mais tarde, ele não quis continuar e eu acabei por assumir. Estou já no segundo mandato, não tanto por vontade própria, mas porque não vão surgindo outras pessoas para assumir esta atividade.
Como elementos de um grupo de folclore já temos muita responsabilidade, mas como dirigente, neste caso como presidente, a responsabilidade é muito maior. Nós temos 45 a 50 pessoas, que durante o ano inteiro vão fazendo ensaios, mas também temos atividades fora daqui. Para além da responsabilidade de mantermos a motivação destas pessoas todas, é também garantir o bem-estar delas, focá-las neste objetivo de estudo, da preservação e divulgação das nossas tradições. Nós, quando saímos, levamos crianças com 6 e 7 anos, e temos uma grande responsabilidade.
O grupo tem sempre entre os 42 e os 46 elementos. Temos uma menina de 5 anos e o senhor Fernando com 86 anos. Conseguimos abranger quase todas as faixas etárias no nosso grupo.
Que atividades têm realizado?
O principal é o nosso festival, que teria acontecido no sábado passado. É a oportunidade de recebermos outros grupos. Durante o ano, vamos fazendo permutas, mostrando a esses grupos a nossa terra. O Festival mostra às pessoas da Aparecida e de Lousada o nosso trabalho. É um festival que requer uma logística enorme, são mais de duzentas pessoas! Normalmente, é realizado no espaço fantástico, que é o santuário. Se estiver mau tempo, é neste auditório. Gostaríamos de ter tido esses quatro grupos aqui este ano, mas devido à pandemia isso não foi possível, para tristeza nossa.
Que dificuldades têm enfrentado?
Como Associação, a dificuldade maior é em termos financeiros. Todo o apoio que recebemos é da autarquia e da Junta de Freguesia. É um pequeno apoio, se pensarmos que os dois apoios juntos dão para pagar apenas a água e a eletricidade do local onde estamos. Isto na coletividade.
No grupo de folclore, a grande dificuldade é conseguir mais elementos para o grupo. Até é fácil eles virem cá experimentar, mas é mais difícil eles ficarem. A alguns não os conseguimos convencer a ficar cá. Felizmente, não temos tido essa dificuldade, mas no futuro podemos ter esse problema.
Precisavam de mais apoios para retomar as atividades?
Os apoios foram exatamente os mesmos. Ainda não recebemos, mas não houve cortes. Penso que deveria existir mais algum tipo de apoio, embora de facto não saibamos como vamos retomar. O Grupo de Folclore só consegue fazer a sua atividade atual com a verba angariada com os cantares das Janeiras. Era essa a grande fonte de receita. Estamos com dúvidas se a poderemos fazer no próximo ano. Muitas pessoas sofreram com esta pandemia, existindo mais dificuldades. Nessa altura vamos perceber se fará falta mais algum tipo de apoios.
Que efeitos tem tido a pandemia no vosso trabalho?
Estivemos completamente parados. Depois de ter terminado o estado de emergência e abertas algumas possibilidades, nós convocamos os elementos para virem ao auditório, explicando que teríamos possibilidade de reatar, com algum cuidado, algumas atividades. Não fazendo a parte da dança, mas, com algumas alterações no auditório, começar a trabalhar um bocadinho o canto e a música. Depois desta paragem, as pessoas que estão nos grupos têm de ser motivadas para que venham cá todos os fins de semana. Um grupo de folclore trabalha o ano inteiro. Algumas vêm por motivação, porque gostam de facto, outros vêm porque já têm a rotina. Com esta paragem, sentimos que vamos ter dificuldades em retomar. Percebemos, nessa primeira reunião, que muitas das pessoas sentiam essa necessidade, desse convívio social, que é um dos papéis dos grupos de folclore. Faz muita falta às pessoas
Mesmo com estas dificuldades, vão gravar um disco.
Isso já era um projeto que tínhamos pensado e consideramos que este seria o momento indicado. Vamos tentar preparar da melhor forma a gravação de um CD, o que é muito difícil porque temos os tocadores, que têm de ficar juntos, tal como os cantores, mas estamos a trabalhar para isso.

Há um objetivo que quer concretizar…
Há um objetivo que eu gostava de concretizar, era levar o grupo novamente ao estrangeiro. Este grupo já fez alguns festivais no estrangeiro. Por princípio, participamos sempre em festivais da organização SEOF, que é uma organização equiparada à nossa Federação de Folclore, que nos dá garantia de que os grupos que participam cumprem os critérios e são representativos do país de origem. O objetivo era que fosse possível fazer isso nos próximos dois anos que me faltam para terminar do meu mandato.
Como está a viver o atual momento das festas da Senhora Aparecida e a saída do padre José Augusto?
O festival não se realizou, o que é uma grande tristeza. A romaria também não se vai realizar, o que nos deixa tristes. Lembramo-nos do andor, que não vai sair. Espero que a Senhora Aparecida nos ajude e que para o ano seja possível fazer o nosso festival e as festas, conforme é costume.
Temos de aceitar a saída do padre José Augusto. Deixa-nos alguma tristeza, pois tínhamos um relacionamento muito bom. Vamos receber da melhor forma possível o padre que vai chegar à Senhora Aparecida. É sempre uma grande tristeza, mas temos de compreender a decisão do Bispo e temos de a aceitar. Não estará tão longe e será sempre possível dar-lhe um abraço.
Estará aqui mesmo ao lado.
Espero que ultrapassemos este período de pandemia. Nós, grupo folclórico, continuamos cá todos os sábados. Depois disto passar, apareçam e deem valor ao que estamos aqui a fazer. Conheçam o nosso espaço e o nosso trabalho. Certamente vão gostar.
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