Com 43 anos de existência, o Futebol Clube de Romariz renasceu há uma década e, até hoje, tem registado um crescimento notável, destacando-se pelo investimento na formação, de atletas e homens, e pela qualidade do futebol feminino.
Agostinho Cunha é o homem que há 9 anos encabeçou a direção que deitou mãos à obra e deu corpo a um grande projeto. O Louzadense conversou com o presidente, para conhecer melhor o Clube e os seus projetos.
Como entrou no mundo do associativismo e, em particular, como chegou a presidente?
Já tinha pertencido ao clube e participava nas atividades. Mais tarde, fiz parte das equipas. Devido à minha profissão, fui para Lisboa. Regressei. Como o Clube não tinha atividade, um grupo decidiu formar a direção e escolheram-me para presidente. Aceitei, arregaçamos as mangas e começamos a pensar em algumas atividades em termos culturais e desportivos.

Quais as principais dificuldades, nesse início?
No início, como não havia nada, tivemos de começar. Não foi difícil, mas tivemos de fazer melhoramentos no edifício. Com meia dúzia de trocos, tivemos de fazer várias obras. Notei a proximidade dos colaboradores e sócios, que nos apoiaram. Reativamos o S. João… Fomos acarinhados e bem recebidos.
O Clube tem 43 anos, mas renasceu com a sua direção. Quanto tomou posse, qual foi a sua visão de futuro?
Após um ano na direção, depois de analisados os recursos e o que podia ser feito, decidimos começar pelo treino e formação de jovens e também ativar a parte cultural, com o S. João. Começamos a realizar jantares, para comemorar o 25 de Abril, o jantar de Natal e de aniversário do clube. Começamos por aí, pela parte cultural e desportiva… Como não estávamos a competir, não precisávamos de canalizar as energias para a parte desportiva, por isso dedicamo-nos mais à parte cultural.
O vosso caminho passa pela formação. Como se fez esse trajeto?
Noa nos 80 a ADL fazia uns torneios de captação e íamos para lá. Em Romariz, nunca houve o objetivo de criar formação e eu achei que o ponto de início era ali para, mais tarde, criar equipas seniores, se tivermos atletas para isto. Começamos com captações de miúdos e arranjamos treinadores de qualidade. Hoje em dia, o futebol é mais técnico.
Começaram com poucos jovens, mas atualmente são cerca de duas centenas. Como se deu este crescimento?
Nestes 9 anos, começamos a divulgar o nosso trabalho. Tínhamos técnicos que conheciam outros técnicos que realizavam torneios e nós começamos a participar nesses torneios. Participamos em torneios aqui à volta, com grandes clubes, como o Aparecida e Penafiel. Depois, na zona de Lagoas, Avelada, Boim… Começamos a mostrar o que estávamos a criar e as pessoas viam que estávamos a criar algo interessante e foi isso que fez com que chegássemos onde chegamos, não só pelos resultados, mas pelo projeto.
Algo que cativou os jovens, para além dos bons professores e técnicos, foi o facto de sempre terem uma visão da formação do homem no seu todo…
Sim. Começamos por decidir que os atletas deveriam trazer os resultados escolares por período. Para perceberem que se consegue fazer as duas coisas, estudos e desporto. Os treinadores começaram a orientá-los. Alguns meninos com notas menos boas treinavam, mas não eram convocados. O desporto é importante, mas a escola também é.
Têm aliás uma frase icónica, “Nunca caminhará sozinho”, que evidencia a forma como se vive no Clube.
O objetivo é os jovens notarem que têm o apoio do departamento da formação. Eles sentem a presença do treinador, do massagista, nos bons e maus momentos. Conversam e veem o que se passa. Por vezes, encaminhamo-los para a nossa psicóloga. Eles têm de sentir que têm sempre o nosso apoio. Nós estamos cá para ajudar e eles também estão para ajudar os outros.
Alguns atletas são meninas. Como surgiu esta aposta?
Foi uma situação de brincadeira, que se tornou séria. Um grupo de atletas veio cá pedir o espaço para treinar. Tinham treinadora. Começaram com 8, passaram a 10, a 15… A AFAL fez um torneio em que participamos e, nesse torneio, vi que elas mostravam empenho e atitude. Gostei de ver também a atitude dos pais e então pensei que podíamos avançar. Reuni com os pais para tornar isso mais sério. Decidiram avançar, mesmo sabendo que não iria ser fácil. O professor Machado era o treinador. Claro que andaram meio perdidas, mas no segundo ano já tínhamos mais atletas… Criamos também o sub-15 e tínhamos as juniores (no nacional). Criaram-se grandes amizades. A atitude delas, o querer e o à-vontade foi o que nos deu alento para continuar com o projeto. Conseguimos a disponibilidade de 2 carrinhas para transporte. As juniores passaram a seniores. Vamos para o terceiro ano. Com a ajuda de algumas atletas mais velhas, arranjamos mais atletas. A vinda da treinadora Rita Castro, que também tem muitos conhecimentos no futebol feminino, ajudou-nos. As atletas de outros clubes olham para nós com respeito e querem jogar cá. Não precisamos de fazer captações. Até temos de dispensar.
Quantas jovens têm?
60 atletas. Tivemos miúdas em escalões mistos. Há idades em que não há equipas femininas. A partir dos iniciados é que há equipas femininas.
O campo sintético responde às necessidades do Clube?
Claro que não. Em relação às condições anteriores, em pelado, com lama, é excelente, mas um campo só não chega. Precisamos de mais espaço. Até temos recorrido ao campo de S. Martinho para fazer o treino das camadas jovens. Com este número de atletas, já estávamos a precisar de outro campo. Mas já não está mau.
A formação traz algumas vantagens em termos de transferência de algum jovem mais promissor?
Neste momento não. Temos dois atletas que saíram do Romariz e que, pela qualidade que têm, poderão trazer benefícios ao Romariz. Temos o João no FC Porto e o Neto, que foi com os pais para Inglaterra. Temos também um guarda-redes que está a ser muito aliciado pelo Porto. Já lá foi fazer exames. Temos três valores que, se continuarem, poderão trazer-nos sorte.
Os apoios que têm são suficientes?
Os patrocínios são poucos. Temos 3 carrinhas e um minibus e só isso absorve tudo… Pagamos luz, água, funcionários. Fazemos jantares para angariar dinheiro, que é para pagar seguros, avarias das carrinhas… Às vezes temos de usar a água da companhia. O gás é à botija, ainda mais caro fica…
O problema da pandemia veio estragar tudo. A quota dos atletas é como que um subsídio para ajudar a pagar aos treinadores pela deslocação ao clube. São 15 euros de quota e alguns atletas, devido à situação económica, não pagam. Não podemos aumentar as quotas aos miúdos, porque dessa forma alguns acabam por deixar o desporto. Os outros clubes levam mais ainda… Com a pandemia muitos engordaram. É um período muito difícil.
Temos uma estrutura grande e temos de proporcionar boas condições aos atletas. Neste momento, está mau, pois os atletas pagavam até julho, mas chegou-se a março e não houve mais pagamentos, mas nós temos de pagar aos treinadores, massagistas. Não vamos baixar os braços. A Federação também nos apoiou com uma verba, que vamos pagar em três anos, mas não podemos deixar de ter equipas femininas … Até nos está a apoiar razoavelmente, mas deviam fazer uma análise mais profunda.
A próxima época já está planeada?
A parte sénior já está resolvida. A formação vamos iniciá-la em setembro. Ainda há algum receio por parte dos pais. Vai ser a escola que vai ditar o sim. O campeonato vai iniciar em novembro e, se a escola correr bem, está tudo certo, mas se correr mal… Em julho e agosto, fizemos umas captações, com um treinador e cinco atletas. Medimos sempre a temperatura, temos álcool gel e os atletas não tomavam banho no recinto. Os meninos vêm vestidos de casa e, quando acaba o treino, vão embora. Os pais podem estar descansados que vamos tomar as medidas necessárias. Temos uns balneários antigos e vamos pôr lá bancos para ter mais capacidade… Nós estamos a preparar tudo.
O presidente do FC Romariz terminou a entrevista desejando saúde e todos. Agostinho Cunha mostrou-se confiante em dias melhores, possíveis com a união de todos.
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