O Grande Lousadense desta semana é essencialmente conhecido pela sua imensa cultura, participação cívica e amor por Lousada!
O que imediatamente ressalta no percurso profissional, cívico e cultural de Luís Ângelo Fernandes é a polivalência: professor do 1.º ciclo, da educação de adultos, professor bibliotecário e na universidade sénior; jornalista, cronista e relatador desportivo; assessor de imprensa e programador cultural; mediador da leitura e investigador da História local; animador de jovens e dirigente associativo. E, ainda, participações em projetos de teatro, antropologia, folclore e de desenvolvimento comunitário. Se acrescentarmos o interesse pela literatura, filosofia, religião, música, política e ciência, descobrimos uma personalidade multifacetada, com permanente ânsia de conhecimento, embora referindo, citando o escritor Mia Couto, serem casas que visita, mas onde não pretende habitar. E ressalva: “O importante não é o saber, mas, sim a sabedoria – e nisso estou muito atrasado…”

Nascido a 31/10/1962, em Cristelos, cresceu num ambiente estimulador da cultura e das artes, por entre histórias, música e jornais. Aprendeu a ler com 4 ou 5 anos a partir do jornal “O Primeiro de Janeiro”, que seu pai, Rodrigo Fernandes, músico e compositor da Banda de Lousada, comprava diariamente. Na Vila fez a instrução primária, com o mítico Prof. António Ildefonso dos Santos, o ciclo preparatório, no atual edifício novo da Câmara, e o 9.º ano, no saudoso Colégio Eça de Queirós. Devido à ausência de ensino secundário, rumou a Penafiel, onde completou o 12.º ano e o curso do Magistério Primário (1985). Já no Porto, especializou-se em Animação Comunitária e Educação de Adultos na Escola Superior de Educação (1999) e concluiu o Mestrado em Educação e Bibliotecas na Universidade Portucalense (2011).
Lecionou em várias escolas do concelho, Minho e Ribatejo, coordenou um programa concelhio de combate ao insucesso escolar, dirigiu o “Jornal Escolar de Lousada”, experiência pioneira a nível nacional, e incrementou em Sousela, com outra lousadense, Prof.ª Celeste Marques, um original projeto de animação comunitária com grande envolvimento da freguesia, originando o atual Parque de Lazer. Atualmente, exerce no Agrupamento de Lousada Oeste (Nevogilde), com especiais responsabilidades na promoção da leitura.
No jornalismo iniciou-se com 18 anos no “Jornal de Lousada” transitando para o TVS na fundação do jornal, em 1982, como primeiro chefe de redação, no qual ainda se permanece como cronista. Colaborou também em muitos outros órgãos da imprensa escrita e radiofónica, mantendo-se, ainda hoje, como relatador de desafios de futebol. E foi a sua experiência na comunicação social que o levou à Câmara Municipal em 1991, criando o Gabinete de Imprensa. A vocação para a atividade cultural derivou-o para o cargo de programador cultural, que ainda desempenha, coincidindo com um período de público dinamismo, sendo Lousada justamente reconhecido como Município de elevada competência nesta área. O mérito, afirma, está na política da autarquia, nos agentes culturais e nos lousadenses, “sem os quais nenhum progresso seria possível”, tanto mais que, anteriormente, Lousada não dispunha de qualquer equipamento de dinamização cultural. “Eram tempos de atraso e de carência, apesar do grande empenho de alguns responsáveis, como o vereador Prof. Fernando Trigo”.

Foi a partir da presidência do Dr. Jorge Magalhães que a situação se inverteu: “O Dr. Jorge Magalhães foi um autêntico revolucionário, liderando um processo de transformação verdadeiramente notável, em todos os setores e em todo o concelho”, considerando, igualmente, “absolutamente decisivo” o trabalho dos vereadores, sobretudo do Prof. Eduardo Vilar e Prof. José Santalha, “inserido num conceito global de desenvolvimento muito bem prosseguido e atualizado na liderança do Dr. Pedro Machado”.
Para além da convivência com grandes figuras da cultura nacional, nomeadamente a entrevista pública, em 2010, com o Dr. Mário Soares, o nosso entrevistado salienta, especialmente, a elevada cumplicidade com o músico e cantor Pedro Barroso, falecido em março passado, os escritores António Mota – já seu grande amigo de outras andanças –, António Torrado, José Fanha, Álvaro Magalhães, Isabel Alçada e João Pedro Mésseder, os cartunistas Luís Afonso e Onofre Varela e a atriz Sara Barros Leitão.
Mas o desempenho de Luís Ângelo Fernandes desenvolveu-se também noutras áreas, com funções dirigentes na Associação Desportiva de Lousada (futebol, secção juvenil e Hóquei em Campo), Cruz Vermelha, Bombeiros Voluntários, LADEC e Grupo de Jovens Luz Verde (Cristelos), na Empresa Lousada Século XXI e na Assembleia de Freguesia de Cristelos, para além de integrar o Núcleo Local de Inserção e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens.
Nos últimos tempos, reforçou a divulgação do passado histórico local, nomeadamente com a publicação de livros sobre a História do Desporto, da Educação e do Hóquei em Campo (este em coautoria com Carla Magalhães), editados pela Câmara Municipal, a coordenação de obras sobre a História da freguesia de Nevogilde e a biografia do Prof. Tomás de Barros, com edições da Escola Básica de Campo, e colaborações dispersas em muitas outras publicações.
Em todas as intervenções, um aspeto comum: Lousada, de que não consegue distanciar-se. “Tenho fortíssima ligação ao concelho, às práticas, às pessoas, e vejo em cada lugar evocações constantes da história e do património. E continuo a conviver diariamente com importantes lousadenses que já partiram, não por luto, porque a maioria nem conheci, mas buscando neles exemplo e inspiração.” Quem, por exemplo? Conde de Alentém e Sousa Freire, Prof. Marnoco e Sousa e José Teixeira da Mota, Dr. Abílio Moreira e Coronel Soares de Moura, Dr. Arnaldo Mesquita, Amílcar Neto e Dr. Mário Fonseca. E quem descreveu melhor Lousada? “Sem dúvida Augusto de São Boaventura, com o memorável livro «Saudades! Saudades!», com um refrão emocionante: “Lousada, que foste a maior maravilha da minha mocidade e és a maior saudade da minha velhice!”.
Não conheço pessoalmente o Senhor Professor Luís Ângelo, apenas as suas intervenções de cariz cultural.
Um insigne divulgador da história local que ficará ligado ad aeternum a este torrão pátrio.
Que continue a a ser o arauto do conhecimento, durante muitos e muitos anos!