O artesanato faz parte da cultura tradicional dos povos. É a arte de pessoas que realizam trabalhos unicamente manuais e cuja origem remonta à época pré industrial.
Os artesãos aplicam variadas e diversas técnicas manuais e por conseguinte não existem duas peças iguais. Podem ser parecidas, mas têm um cunho muito pessoal e refletem, sempre, a relação do artesão com o meio onde vive, com a sua cultura e com a necessidade de obter instrumentos, utensílios de trabalho e vestuário e calçado, bem como peças utilitárias, artísticas, recreativas e de adorno, com ou sem fim comercial.
A matéria-prima que por perto de casa, em cada localidade, as pessoas tinham acesso, nomeadamente de origem vegetal, principalmente de árvores e de plantas, do linho e também de alguns resíduos metálicos, era o fator primordial para existirem trabalhos artesanais muito diferentes de terra para terra.
Em Lousada, como diz o poeta: “Terra de Encanto”, a comercialização das peças de artesanato costumava realizar-se de maneira direta entre o artesão e o comprador, principalmente na sua casa ou oficina ou através dos mercados e feiras que se realizam em datas certas e ainda pela entrega direta na casa do comprador. Como as peças eram feitas à mão, nunca poderiam ser feitas em grande quantidade para distribuir por grandes lojas.
Lousada, prima pela originalidade dos artesãos, já desde há muitos anos, nomeadamente na cestaria que consistia na confeção de cestos e cestas, principalmente para transportar produtos do campo, frutos, sementes, as uvas para o lagar e a merenda para os trabalhadores do campo.
Entrelaçando vergas de vimes, varas de salgueiro (árvore bastante abundante junto ao Rio Sousa), ou palha de centeio, o artesão cruza, encana, enrola e torce a fibra para fazer peças (cestos e cestas) bastante uteis, de tamanhos diversos e para os fins a que se destinam e que terminavam sempre nas pegas, mais ou menos fortes para suportarem o peso dos produtos a transportar.
Outras das peças de artesanato, muito comuns nas terras de Lousada, bem como nas terras vizinhas do Vale do Sousa e Baixo Tâmega, com as suas nuances próprias em muitas localidades rurais do Continente Português e Ilhas, são os socos (tamancos). Em Lousada havia oficinas dos tamanqueiros em quase todas as freguesias do concelho. Cada uma tinha o seu artista, e, por vezes mais do que um. Talhavam as peles de couro para os socos dos homens e de “crute” (croute!!) para as socas das mulheres (segundo alguns testemunhos chamavam à pele brilhante das socas das mulheres – “pele de crute”). Pregavam as peles a uma base de pau de amieiro, solado ou não com borracha, através de tachões, e, quando queriam os socos mais “finos” e bonitos, pregavam-nos com tachas com cabeças “adornadas”.
O artesão teria de procurar os amieiros e cortar a árvore nas quadras da lua.
Os socos não eram somente para usar em dias de trabalho (a maior parte dos trabalhadores do campo andavam descalços) mas sim, também, para usar aos domingos e dias-santos e em dia de cerimónias festivas, onde eram usados os socos feitos de melhor substância e matéria e acabamentos mais luxuosos.
No trajeto a caminho das Festas e Romarias, na ida à Missa ou a um casamento, os socos iam debaixo do braço e só à chegada os calçavam. Assim, duravam uma vida!….