Oriundo da Aparecida, uma pequena vila de Lousada, Pedro Matos, atualmente a viver em Düsseldorf, na Alemanha, conta ao “O Louzadense” como foi a sua aventura enquanto emigrante português.
Nascido em Lousada, fez todo o seu percurso escolar em Portugal e iniciou a aventura de ser emigrante quando, ainda na universidade, decidiu inscrever-se no programa ERASMUS, promovido pela União Europeia, que apoia a educação, a formação, a juventude e o desporto, partindo para a Alemanha durante alguns meses.
Enquanto aluno em Portugal estudou alemão, língua incluída no curso que frequentava de Línguas e Relações Internacionais, onde acabou por se apaixonar pelo idioma alemão. Assim, “eu como sempre tive curiosidade em conhecer os países das línguas das quais eu estudava, esse foi o primeiro motivo de vir para cá”, contou Pedro Matos.
Para conseguir uma vida estável nos primeiros tempos, Pedro procurou, através da internet, pessoas que morassem na região. Por via de outros contactos, encontrou a proprietária de um restaurante português e que, ao mesmo tempo, dispunha de quartos para alugar. “Na precisava de um quarto para morar, aluguei esse quarto, porque a minha situação financeira na época era de um estudante, ajudei no restaurante umas horas e fiquei no quarto sem qualquer custo”, disse.
No regresso à Alemanha, assim que terminou o curso, voltou a contactar a proprietária que diz ser a sua “âncora”.
No final do programa, Pedro regressa a Portugal para terminar o curso, mas com o objetivo de voltar para a Alemanha. “Criei alguns contactos durante o ERASMUS, mais a nível musical, alguns contactos profissionais que me fizeram ficar com essa ambição de quando terminasse o curso voltar, embora a área que eu estudava não tivesse grande relação com o que eu sempre ambicionei que é a música”, referiu.
Durante o percurso académico teve oportunidade de estudar no Conservatório de Música do Vale do Sousa, sediado em Lousada, completando o 5.º grau, a quem felicitou pelo aniversário. “Muitos parabéns ao conservatório e que continuem a formar músicos como estão a formar e sempre formaram. É uma mais valia para o nosso concelho e para todo o Portugal”, disse orgulhoso.
O processo começou com a aprendizagem da guitarra clássica, que na altura ainda não era elétrica, e como não tinha contrabaixo optou por um instrumento que a técnica lhe fosse útil para o baixo. “Sempre estive muito empenhado na música, sempre toquei aqui com um cantor de música pop e latina, onde toquei em quase todas as cidades da Alemanha e, portanto, sempre foi quase semiprofissional a minha ligação com a música.”, conta, explicando os novos projetos onde está inserido.
“Há uns anos, apaixonei-me pelo gospel music. Comecei a fazer mais música cristã com algumas bandas da Alemanha e há uns meses fui convidado a fazer parte de um projeto muito conhecido da região gospel e black music, bem ao estilo bem americano”, comunicou, explicando que se converteu ao Cristianismo, à Igreja Evangélica, onde tem também a oportunidade de ser músico nas bandas da Igreja.
Mas o percurso de Pedro não termina na Alemanha. O jovem acabou por ter uma experiência também no Brasil onde tentou trabalhar na área da sua formação inicial. “Quando conheci a minha esposa comecei a fazer outras coisas. Ela, conhecendo a minha formação nas línguas estrangeiras, assim como a parte administrativa das relações internacionais, propôs-me tentar o mercado de trabalho no brasil, na altura o mercado estava a precisar muito de profissionais que falassem línguas estrangeiras então eu tomei essa decisão também para conhecer um novo país”, exprimiu.
Pedro Matos partiu na aventura, mas o grande sonho de morar numa cidade da Europa “gigantesca”, levou-o de volta para a Alemanha pouco anos depois. “Eu acredito que não existem países perfeitos, todos os países tem os seus prós e os seus contras e, por exemplo, no meu caso, que já morava na Alemanha, sentia-me bem nesta a fazer música com o meu amigo, ter que me mudar para uma cidade no interior do Brasil não foi fácil”, exprimiu.
“Não correu tudo mal, na verdade, a nível profissional, correu tudo bem, arranjei emprego assim que cheguei, familiarmente correu ainda melhor que casei lá e tive o meu primeiro filho”, disse Pedro, para quem o sonho falou mais alto.
O regresso não teve constrangimentos e foi “relativamente fácil voltar”. O domínio da língua foi uma mais valia. “Tendo a formação profissional que tenho paralelamente à música, que sempre consegui fazer como ganha pão, quando regressei tentei arranjar algo na minha área profissional na qual me formei e, então, candidatei-me a um hotel como rececionista e trabalhei lá durante 7 meses”, contou.
Tendo em conta os níveis de stress desse mercado de trabalho, Pedro acabou por abandonar esse emprego poucos meses mais tarde. “A visão da competitividade é muito elevada. Por esse motivo, por esse nível exageradíssimo de stress, eu mudei de área profissional”, trabalhando agora como assistente hospitalar há cinco anos.
Agora como assistente hospitalar, Pedro afirmou gostar do que faz “porque é uma área que posso trabalhar as línguas que estudei no meu curso, todos os dias falo alemão, inglês, francês, espanhol, aparece tudo, também devido às cidades serem maioritariamente multiculturais”.
Atualmente, a música na vida de Pedro ouve-se apenas ao domingo, fazendo concertos por várias igrejas da Alemanha.
Pedro Matos vive fora, mas, no entanto, é em Lousada que tem o coração e faz questão de visitar todos os anos. “Tento ir todos os anos, duas ou três semanas, a Lousada porque também faço questão que os meus filhos reconheçam as minhas origens , ainda são muito pequenos, mas faço questão que estejam presentes com o avô e a avó, com toda a família”, referiu, contando que “normalmente não tenho data fixa para ir a Portugal, vejo mediante as minhas férias no trabalho qual é a melhor opção, porque eu gosto muito de ir no verão para encontrar amigos também emigrantes que já não vejo há 20, mas para mim qualquer época que vá sinto aquela nostalgia do país”.
E nostalgia não falta na vida de Pedro pelas saudades que sente da cultura portuguesa. “Sinto falta de ir ao shopping com os amigos, de ir passear, aqui isso não existe, está tudo fechado”, contou.
O lousadense aproveitou a oportunidade de deixar uma mensagem de força a todos aqueles que pretendem seguir um sonho. “Todos devemos lutar por aquilo em que acreditamos, com força, mesmo que a dúvida nos diga que não, devemos continuar em frente e acreditar sempre que nos nossos sonhos é possível”, terminou.