Por Dr.ª Catarina Alves – Terapeuta da fala
Atualmente os desafios comunicacionais com as crianças são cada vez mais exigentes…
A nossa rotina atual, com horários cada vez mais tardios, o stress decorrente do mesmo e os facilitismos disponíveis para entreter os nossos filhos, faz com que possamos estar a comprometer o seu desenvolvimento e estejamos de facto a diminuir as potencialidades individuais de cada um, que num futuro próximo podem trazer consequências aos mais variados níveis…
A comunicação desenvolve-se aquando o nascimento do bebé, e nesse momento os pais têm um papel fundamental no processo de estimulação e modelagem para com o seu filho.
Para que se dê o desenvolvimento comunicativo é necessário que haja uma combinação de vários fatores no decorrer de primeira infância. São eles a intenção para se comunicar, o conteúdo (sendo aquilo que queremos transmitir), a forma que usamos para o fazer (ex: gestos, choro, expressões faciais, fala, entre outros), ter um interlocutor (alguém com quem comunicar), existir um contexto ou uma situação para se dar uma interação, e por último apresentar condições cognitivas para compreender o mundo e para que o mundo o possa compreender.
Sendo a comunicação uma habilidade social, o adulto deve ser recetivo e sensível às tentativas de comunicação da criança. Desde logo, o bebé começa a comunicar com o mundo de forma não intencional através de comportamentos reativos, que ganham maior significado com as experiências que vão vivenciando.
Neste sentido, a dada altura o bebé apercebe-se que o seu choro ou expressões faciais causam efeito no meio e que despoletam uma resposta por parte do seu interlocutor, e por isso mesmo, vão aprimorando os seus meios comunicativos, porque inteligentemente entendem que, quanto melhor for a sua forma de comunicar, mais respostas têm
do meio.
Por sua vez, os pais começam a atribuir significado, por exemplo aos vários tipos de choro, a determinadas expressões faciais do bebé, ao seu sorriso, à forma como está a olhar, etc.
Nesta fase deve ser mantido o contacto ocular permanente com a criança para que possa existir um interação maior e mais prolongada, bem como devemos dar tempo de resposta à criança, para que esta entenda que a comunicação é uma troca de significados e que quanto melhor for este momento e mais prazeroso, melhores resultados teremos no que se refere posteriormente ao desempenho linguístico e de fala!
Portanto antes do primeiro ano de vida, devemos estar atentos a alguns sinais que possam desde logo estar a comprometer o desempenho comunicativo e futuramente linguístico da criança, nomeadamente se:
- A criança não faz ou não mantém o contacto ocular direto de forma permanente;
- A criança não expressa um sorriso, gesto ou expressão facial aquando as brincadeiras;
- A criança não reage ao nome ou a qualquer barulho mais estridente;
- A criança não interage ou não se envolve nas brincadeiras com os adultos;
- A criança não produz sons quando tenta comunicar;
- A criança não explora o meio (ex. quando começam a gatinhar ou a sentar, é natural que tentem explorar os brinquedos ou objetos que tenham ao pé de si);
- A criança mantém hábitos orais nocivos (chupeta, sucção digital, entre outros);
Estes sinais de alerta, podem ocorrer quando existe alguma falha na comunicação. Enquanto pais devemos estar atentos a estes sinais para evitar futuros problemas a nível comunicacional, linguístico ou fala sejam alcançados.
Contudo, devemos sempre que possível proporcionar momentos de brincadeira e incitar o bebé a explorar e a procurar todas as formas de interação com o adulto, causando-lhe sempre curiosidade para que possa aprender mais.
Nesta fase todos os mecanismos eletrónicos, sejam eles o telemóvel, computador, televisão ou tablets, são totalmente descartáveis, pois apesar de serem meios facilitadores que entretêm as crianças de forma rápida, devido à exaltação de cores, melodia e imagens apelativas, comprometem a interação social pois não dão qualquer resposta às necessidades da criança, apenas prendem a sua atenção!
Sabendo que comunicar é uma etapa tão importante, para potenciar o desenvolvimento global da criança, dedique-se o tempo que disponibiliza para brincar a 100% com o seu filho sem restrições, sejam criativos, usem a imaginação e permitam-se ser “crianças”!
Se estivermos a comunicar assertivamente, teremos seguramente, crianças com aptidões linguísticas favoráveis a nível compreensivo e expressivo, onde por volta dos 12 meses de idade surge o culminar de toda a nossa dedicação no que concerne à estimulação, onde a criança irá iniciar o seu processo de fala, que torna a sua comunicação mais eficaz e a mais parecida com o adulto!
Contudo, se considerar que o processo de comunicação foi normativo, mas que ainda assim o seu filho não fala (por volta dos 12 meses) ou apercebe-se que manifesta graves dificuldades linguísticas, nomeadamente, não compreende nada do que lhe dizemos ou não se faz entender por qualquer outro meio, não hesite em contactar um Terapeuta da Fala.
Quanto mais rápido forem detetadas as dificuldades, maior será a probabilidade de as conseguirem ultrapassar!
Ellus Saúde
Saúde Materna, Saúde Infantil e Parentalidade
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