Paulo Ribeiro é um apaixonado pelo desporto e pelo futebol. É professor, preparador físico e já foi treinador. A paixão pelo futebol nasce das influências familiares, uma vez que o pai foi guarda-redes e o avô praticou a modalidade durante muito tempo. Esta paixão levou o lousadense a fazer uma investigação sobre o aquecimento que se transformou em livro, estando à venda num dos maiores acervos mundiais.
O percurso no mundo desportivo começa com a prática do futebol de rua com os amigos, que pensa faltar às crianças, atualmente. “Tínhamos uma rua onde passavam poucos carros, colocávamos duas pedras de um lado e duas pedras do outro. Bastava arranjar mais um colega e jogávamos um contra um”, relembra.
Quando vai viver para o Bairro Dr. Abílio Moreira, surge a oportunidade de praticar futebol mais diariamente. “Ali existe uma Associação Recreativa e Cultural Encontro das Raízes e criaram uma equipa. Viam-nos a jogar na rua e o senhor Rui começou a perguntar se queríamos jogar futebol para criar uma equipa e participarmos em torneios”.
Aí, surge um torneio na cidade vizinha, em Freamunde, onde participam várias associações e “e nós ganhamos esse torneio”, conta, acrescentando que, nessa altura, era ponta de lança e ainda tem a placa de melhor marcador. Esse torneio foi a porta de entrada para assinar contrato com o Sport Clube de Freamunde, tendo aí realizado o percurso como jogador até ao último ano de juniores.
“Os meus pais não tinham muito potencial financeiro e fui obrigado a trabalhar, num contexto até difícil, porque a escolaridade mínima era o 6.º ano e nós só podíamos começar a trabalhar aos 14 anos”
No último ano de juniores, optou por abandonar o futebol e concluir os estudos em regime noturno. “Ainda hoje, a brincar com os meus pais, digo que estou triste com eles, porque eu sempre quis ir estudar. Sou do tempo em que a escolaridade mínima era o 6.º ano e os meus pais, não tenho vergonha de dizer isso, não quiseram, não me deixaram ir estudar e eu sempre quis seguir estudos”, lamenta.
Não tendo a possibilidade de estudar, Paulo Ribeiro ingressa no mundo laboral, porque “os meus pais não tinham muito potencial financeiro e fui obrigado a trabalhar, num contexto até difícil, porque a escolaridade mínima era o 6.º ano e nós só podíamos começar a trabalhar aos 14 anos e, portanto, eu concluí o 6.º ano ainda antes de ter 14 anos. Posteriormente, em 1994, a escolaridade mínima passou para o 9.º ano. Tinha de trabalhar e depois à noite tive de optar, ou jogava futebol ou estudava”, recorda.
Movido pelo sonho de ser Educação Física, optou por estudar. “No último ano de juniores já não faço no Freamunde, porque fiquei um bocado triste com os que andavam um ano à minha frente, que os jogadores foram chamados aos seniores, depois tiveram apenas um mês a prestar provas e depois foram dispensados e eu não queria que isso me acontecesse, embora tivesse diretores que me disseram que fiz mal em ter desistido. Pensei e disse que iria perder mais um ano da minha vida e iniciei o ensino noturno”, revela.
Trabalhar e estudar simultaneamente
Estudar durante a noite e trabalhar durante o dia foi durante muito tempo uma realidade para Paulo Ribeiro. “Iniciei o ensino, na altura no 7.º ano, fiz o percurso todo do 3.º ciclo e secundário, e sabia o que queria, porque eu trabalhava numa fábrica e nunca quis isso para mim. Eu queria algo mais, algo que me satisfizesse e, portanto, a partir do 9.º ano, antes de concluir, comecei a ver que possibilidades é que poderia eventualmente poder seguir no futuro”, comenta.
No 10.º ano, na altura de escolher alguma área, Paulo faz uma autorreflexão e percebe que um dos “objetivos era ser professor de Educação Física e, portanto, comecei a partir do 10.º ano a dedicar-me mais e tirar boas notas, porque sabia que isso ia fazer a diferença entre entrar numa faculdade pública ou privada. Não tenho vergonha de dizer isso, não tinha dinheiro para entrar numa faculdade privada e por isso esforcei-me para entrar numa faculdade pública e acabei por entrar numa das melhores faculdades do país”, orgulha-se.
O futuro professor acaba por entrar na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, no Porto, atual Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, onde acabou por fomentar a paixão pelo futebol com professores como José Guilherme, parte integrante das Seleções Nacionais, treinador do sub-17 e, na altura, Diretor dos Juvenis do Futebol Clube do Porto.
“Depois a particularidade de encontrar o professor Vítor Frade, que então levou-me para outra dimensão para me apaixonar pela modalidade em particular. E é assim que eu escolho o futebol no 3.º ano como opção de alto rendimento. Os cursos ainda eram de 5 anos e no 3.º tínhamos de escolher várias áreas. Uma delas era o futebol e foi por essa que optei. Curiosamente, eram tantos a querer futebol que a faculdade teve de fazer uma seleção. Só podiam fazer uma turma, então, os 30 alunos com melhores notas entre o primeiro e o segundo ano é que tinham acesso direto à turma e, portanto, eu na altura já estava entre os 30 melhores e acabaram por aceitar a minha inscrição e fiz a minha especialização e alto rendimento de futebol”, conta.
A experiência do mercado de trabalho
No mundo real do mercado de trabalho, Paulo começa por ser preparador físico na Associação Desportiva de Hóquei de Lousada. “Foi uma experiência ótima para mim, na altura o treinador era o Pedro Valinhas e ele convidou-me para ser preparador físico da equipa, juntamente com o presidente que era o António Ribeiro. Eu estive ligado ao clube durante dois anos como preparador físico”, menciona.
E se o Hóquei já ganhava títulos, com a chegada do preparador físico, que acrescenta “alguma qualidade”, continua a ganhar. “Vim acrescentar um bocadinho de qualidade em termos daquilo que era a dimensão física do jogo, porque eu confesso que não percebia nada de hóquei, mas Lousada tinha um historial de hóquei muito grande e depois na faculdade acabei por conhecer professores que estiveram ligados à Federação de Hóquei e que me tentaram incentivar para que eu continuasse, mas outra paixão revelou-se maior, o futebol”, testemunha.
“Foi um orgulho para mim ter feito parte de uma equipa que foi campeã nacional de hóquei, depois, posteriormente, ainda participei como preparador físico no europeu, em 2005, realizado em Lousada, em que fomos campeões, foi um sucesso. Depois no meu terceiro ano sou convidado, no que diz respeito ao futebol, para treinar a formação do Paços de Ferreira”, lembra, onde esteve durante dois anos, no 3.º e 4.º ano da faculdade, como treinador da formação, sendo treinador principal dos sub-10 e treinador adjunto dos sub-15.
Posteriormente, surgiram outros convites, nomeadamente no clube vizinho, onde já tinha sido jogador de futebol, o Freamunde, que formalizou contrato “já a pagar e acabei por trocar e ir para lá”, afirma.
O que mais recorda são as marcas que deixou em cada jogador, mas também no Freamunde enquanto clube. “Quando fui treinador principal dos juvenis, subimos ao nacional. Era esse um dos grandes objetivos quando eu passo do Paços de ferreira para o Freamunde, era subir os juvenis ao nacional, curiosamente, a final em que só podia subir uma equipa, é entre o Freamunde e o Paços de ferreira, que estava em primeiro lugar. O último jogo dessa fase final é em casa do Freamunde. Para subirmos tínhamos de ganhar e ao Paços de ferreira bastava-lhes o empate. Nesse jogo estiveram presentes cerca de 3 mil pessoas. Ganhamos o jogo e ainda hoje tenho jovens que me ligam a perguntar como estou e partilhamos fotos desse grande jogo”, recorda.
“Curiosamente, o árbitro desse jogo, para se ver a rivalidade que existia, foi o Paulo Paraty, árbitro de primeira liga, foi também considerado um jogo de alto risco pela rivalidade que existia entre os clubes. Mais tarde, a associação decidiu subir também o Paços de Ferreira, e muito bem, porque também merecia e tinha uma equipa com muita qualidade. Acabamos por subir depois as duas equipas”, expressa o treinador.
“O meu pai poucos ou nenhuns conhecimentos tinha no futebol. O meu crescimento foi aquilo que os diretores iam avaliando enquanto técnico e que gostavam da minha metodologia. Fui crescendo e chego a preparador físico dos seniores do Freamunde já profissional, estivemos quatro anos na Segunda Liga”
Com o registo de bons resultados nos juvenis, na época 2006/2007, “sou convidado a ser preparador físico dos seniores”. O preparador físico tem ainda a possibilidade de realizar um estágio no Manchester United com Carlos Queiroz. “Sempre tive um sonho, ainda hoje comunico com ele, que era estar ao mais alto nível, e fui entrevistá-lo no âmbito da minha tese de monografia e esse estágio no Manchester, que já tinha Cristiano Ronaldo, o professor deixou-me estar com eles durante uma semana, portanto, no meu currículo tenho esta mais valia de já estar com os melhores. Felizmente, ou infelizmente, tenho conseguido entrar no futebol por mérito e pelas minhas conquistas.
Embora o pai tivesse sido jogador de futebol, o professor garante que o pai não tem qualquer influência. “O meu pai poucos ou nenhuns conhecimentos tinha no futebol. O meu crescimento foi aquilo que os diretores iam avaliando enquanto técnico e que gostavam da minha metodologia. Fui crescendo e chego a preparador físico dos seniores do Freamunde já profissional, estivemos quatro anos na Segunda Liga”, afirma.
Continuação dos estudos
O novo ciclo de estudos chega mais tarde, quando termina o curso de treinador de futebol, em 2013. “Comecei a interessar-me pela investigação e a operacionalização do que estava a fazer e quis começar a pô-la em prática e saber o que outros clubes faziam para ir ao encontro daquilo que é o artista, que é o jogador de futebol. O artista num jogo de futebol é o jogador, os treinadores conseguem influenciar o jogo, mas os artistas são os jogadores”, afirma.
“Comecei a despertar este interesse pela investigação no sentido de proteger os jogadores. Percebi que havia uma lacuna no futebol, em que todos os treinos aquecemos, todos os jogos aquecemos, e havia uma grande diversidade ao longo da minha prática, que quando dava o aquecimento à minha equipa, via outros treinadores a fazer o aquecimento”, reflete, referindo que começou a perceber que o aquecimento só era valorizado pelos preparadores físicos e partiu para a investigação: “Será que o aquecimento deve ter apenas esta dimensão? Ou será que isto é muito mais do que aquecer, rodar braços e fazer técnica de corrida?”.
Em 2016, juntamente com outros colegas, começaram a investigar o aquecimento e tudo o que lhe estava inerente. “O meu trabalho é na caracterização do aquecimento dos futebolistas profissionais em Portugal, envolve uma investigação a nove clubes da Primeira Liga, sete clubes da Segunda Liga e a Seleção Nacional. A minha amostra neste estudo engloba estes três grandes grupos, acima disto não existe mais nada para caracterizar”, confirma.
O processo de investigação nem sempre foi fácil e acessível. “Tive grande dificuldade em fazer a minha tese de mestrado pela escassa bibliografia. Eu sou, se calhar, em Portugal, o primeiro estudante de mestrado a pegar num estudo desta dimensão com este tema, portanto, outros surgiram a seguir a mim, e esta ideia da publicação do livro é fruto do entusiasmo que os meus orientadores”, explica.
“O futuro está em aberto se a proposta, em termos financeiros, seja aquilo que é razoável para mim”
“Fazia todo o sentido divulgar esta investigação para que isto não ficasse só disponível na academia e acaba por ser convertida em artigo científico”, refere, explicando que o objetivo é transmitir o conhecimento da investigação para o mundo dos treinadores, treinadores adjuntos e preparadores físicos responsáveis pelo momento de treino.
A tese, transformada em livro, vai estar disponível na Amazon, o maior acervo bibliotecário do mundo, ficando disponível em livro digital e físico. Para o adquirir basta consultar o website da Amazon. “Eu não tenho qualquer intervenção no que diz respeito ao preço do livro, são eles que definem, apenas vou ter parte dos direitos de autor. Posteriormente, o livro será traduzido em espanhol, que é também um dos meus objetivos, e depois em inglês”, testemunha.
E como no futebol “não existem projetos, o objetivo é ganhar domingo a domingo, se no domingo não ganharmos temos logo o nosso emprego em risco, isto tem que ter um preço”, explica o professor. Por isso, recusa algumas propostas por condicionantes da vida, no entanto, “o futuro está em aberto se a proposta, em termos financeiros, seja aquilo que é razoável para mim, aceitarei. Também tenho muito gosto em ser professor na escola e é um dos meus grandes objetivos continuar, no entanto, fico sempre aberto a novas propostas que possam surgir no âmbito do futebol profissional”, termina.
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