Lousada começou a desconfinar, esta segunda-feira, dia 15, com o regresso às aulas até ao 1.º ciclo, reabertura de cabeleireiros, livrarias, missas e comércio ao postigo. A procura pelos serviços foi notória e os estabelecimentos tentam recuperar o tempo perdido nos últimos dois meses.
Ir buscar um café, levar os mais pequenos até ao 4.º ano à escola ou ao jardim de infância e cortar o cabelo são apenas alguns exemplos do que voltou a ser possível fazer. A procura pelos serviços aumentou e a vila ganhou mais vida com os que já saíram à rua.
Os cabeleireiros e espaços de estética e beleza foram obrigados a fechar portas a 15 de janeiro, no âmbito das medidas de confinamento para travar o avanço da pandemia. O anúncio do regresso era algo que ansiavam e acabou por chegar mais cedo.
“Achei sempre que abertura seria mais para a frente, porque foram mencionando que seríamos um setor que iríamos abrir depois da Páscoa. Quando vi a notícia fiquei muito agradada, porque isso interfere bastante a todos os níveis, pessoais e profissionais”, refere Patrícia Pinto, cabeleireira e proprietária do salão de beleza com o mesmo nome.

Assim que o anúncio foi feito nas redes sociais, estes estabelecimentos foram bombardeados com pedidos de marcação: “as pessoas estavam muito ansiosas, percebeu-se perfeitamente”, comenta.
A quebra no negócio foi total, uma vez que não se podiam deslocar a casa dos clientes. “Era proibido trabalharmos. Não dá para nos adaptarmos online, porque é um serviço que não permite. Tivemos os apoios do estado que contribuíram com uma parte, o restante tivemos de ser nós. Fomos tentando combater estas dificuldades. O que é certo é que conseguimos superar”, afirma.
“Nunca pensei ter tantas saudades de voltar ao trabalho. E da maneira que foi, obrigados, a vontade ainda é maior, acrescida à necessidade.” – Patrícia Pinto
“Com muito sacrifício, mas agora temos de olhar para a frente”, acrescenta, deixando para trás os dias de confinamento que, para a cabeleireira, foram mais difíceis de ultrapassar, porque não imaginou um segundo fecho total. “A partir do momento em que cumprimos as regras, achei que estávamos a funcionar muito bem. Aliás, nunca fomos obrigados a fechar por alguém estar infetado, isso também quer dizer alguma coisa”, garante.
O atendimento é feito por marcação e organizado de forma que, numa semana, não cheguem à exaustão. “Estamos a controlar e a atender os clientes pausadamente para que não fiquemos muito cansados já na primeira semana de trabalho. Já temos a semana toda preenchida e é este o caminho”, revela.
“Nunca pensei ter tantas saudades de voltar ao trabalho. E da maneira que foi, “obrigados”, a vontade ainda é maior, acrescida à necessidade”, confessa.
Compra de livros reabre, mas com dificuldades
Mantendo o dever geral de recolhimento pelo menos até à Páscoa, o plano de desconfinamento prevê a reabertura progressiva de sectores de atividade, desde que a situação epidemiológica do país o permita.
As livrarias, que estiveram proibidas de vender, pintam um cenário mais negro no que diz respeito à quebra nas vendas. Embora nunca tenha estado fechada, a papelaria e livraria PuroFlow viu algumas das atividades encerradas. “A parte da livraria e do café tiveram de ser encerradas. Tivemos a restrição da venda dos livros e jogos e tivemos de os retirar. Reabrimos novamente a livraria, embora condicionada por termos a cafetaria fechada”, explica o proprietário, Rui Soares.
A afluência tem sido a mesma. “Felizmente temos bastante afluência por termos o posto dos correios e as pessoas vão entrando e vão vendo, claro que o movimento é totalmente diferente do que seria num dia normal. Em termos de venda de livros, temos um ou outro esporádico. Para ver, pesquisar e levar não temos muita procura”, refere.

“Também porque o mercado online é muito forte, reconhecemos que a nível de escolha, neste momento, é muito difícil garantir distribuição para os livreiros. Há muita dificuldade dos próprios fornecedores que tínhamos em fornecer-nos os livros com as mesmas condições que tinham”, lamenta.
“Com a condicionante do acesso, do próprio fornecimento dos livros, da oferta que tínhamos, as pessoas optam pela compra online.” – Rui Soares
As vendas online, também não são a melhor opção: “não conseguimos oferecer as mesmas condições que a ‘wook’ consegue em termos de portes pagos e descontos diretos. É muito complicado para os livreiros fazer concorrência com esse tipo de mercado”, manifesta.
Com a abertura da secção da restauração, “esperemos que comece a funcionar melhor a loja toda e vamos ver se conseguimos garantir mais fornecimento de livros para ter uma oferta melhor”, espera o proprietário.
A venda de livros tinha vindo a decrescer desde o Natal. “O Natal, em relação ao ano passado, tivemos uma quebra superior a 50%. Com a condicionante do acesso, do próprio fornecimento dos livros, da oferta que tínhamos, as pessoas optam pela compra online”, menciona.
Ourivesarias voltam com restrições
Perante as medidas de confinamento geral, as ourivesarias e relojoarias, por serem consideradas comércio não essencial, também tiveram de fechar portas, por tempo indeterminado. No entanto, há muitas que continuaram a sua atividade através das plataformas digitais.
Na ourivesaria Gonçalves, a reabertura aconteceu com muitas restrições. “Só podemos trabalhar ao postigo. Ao postigo, teria de colocar à porta uma mesa, mas isto é uma ourivesaria, isso não pode acontecer. Por isso, trabalho só no primeiro balcão, com acrílico e separação para os restantes balcões”, explica Natália Fernandes Gonçalves, proprietária da loja de Lousada.

“Claro que trouxe muitas dificuldades como para toda a gente, as despesas são as mesmas, os apoios são muito poucos e convinha que todos pudéssemos estar no mesmo rumo. São lojas pequenas, onde entra pouca gente e não havia necessidade deste tipo de loja estar fechadas”, lamenta.
A proprietária acredita que o facto de estarem abertos não iria prejudicar a saúde pública, porque “estamos ao ar livre e nunca há aglomerados de pessoas”. As pessoas, embora poucas, “têm vindo para fazer consertos nos relógios ou levantar os artigos que tinham deixado há dois meses, comprar uma prenda ou outra”, confirma.
“Tentamos fazer vendas online, publicitamos bastante a página e íamos introduzindo os nossos artigos para venda. Houve alguma receção, mas algo muito fraco comparado com o que vendemos presencialmente.” – Natália Fernandes Gonçalves
Ainda com uma avaliação muito precoce, porque abriram portas há poucos dias, “temos tido uma procura maior do que a habitual nesta fase do ano, que é uma altura mais parada. Daqui para a frente, não sabemos quais são as medidas tomadas pelo Governo, se poderemos estar abertos mais convenientemente, mas, para a data, já é um alívio estar abertos mesmo que nestas condições”, relata.
“Tentamos fazer vendas online, publicitamos bastante a página e íamos introduzindo os nossos artigos para venda. Houve alguma receção, mas algo muito fraco comparado com o que vendemos presencialmente. Tivemos uma perda de 80% nas vendas. E é evidente que não é um artigo de primeira necessidade. Numa fase tão crítica como esta a prioridade será para a alimentação e mercearias. Em segundo, terceiro ou quarto plano é que vem a compra de ourivesaria”, testemunha.
Saiba quais as regras gerais de desconfinamento:
A partir de 5 de abril podem abrir:
Escolas do 2.º e 3.º ciclo (e ATL para as mesmas idades);
Lojas até 200 metros quadrados com porta para a rua;
Museus, monumentos, galerias de arte, palácios e similares;
Equipamentos sociais na área da deficiência;
Feiras e mercados não alimentares por decisão municipal;
Esplanadas (num máximo de quatro pessoas);
Modalidades desportivas de baixo risco;
Atividade física ao ar livre até quatro pessoas;
Ginásios sem aulas de grupo.
A partir de 19 de abril podem abrir:
Ensino secundário e ensino superior;
Todas as lojas e centros comerciais;
Restaurantes, cafés e pastelarias (máximo de quatro pessoas ou seis em esplanada), até às 22h (ou 13h aos fins-de-semana e feriados);
Cinemas, teatros, auditórios, salas de espetáculos;
Lojas de cidadão com atendimento presencial, mas com marcação;
Modalidades desportivas de médio risco;
Atividade física ao ar livre até seis pessoas;
Eventos exteriores com diminuição de lotação;
Casamentos e batizados com 25% de lotação.
As medidas de desconfinamento que entrarão em vigor após 3 de maio serão conhecidas mais perto da data.