Opinião de Teresa Varejão – Terapeuta Ocupacional
Quando a família tem uma rotina adaptada à sua realidade e que se torna fácil de gerir, esta torna-se um poderoso aliado ao bem-estar e harmonia familiar.
Podemos definir rotina diária como uma sequência estabelecida de atividades que desempenhamos diariamente de acordo com as nossas ocupações e papéis. Esta sequência visa facilitar a organização, o desempenho e eficácia nas nossas tarefas diárias, que no fundo quer dizer facilitar a nossa vida. Determinados hábitos são fundamentais no desempenho das nossas ocupações e para a construção de uma rotina saudável.
As ocupações são divididas em áreas e incluem, as atividades de vida diária (necessidades básicas de higiene e alimentação), as atividades de vida diária instrumentais (preparar uma refeição, tarefas domésticas, cuidar…) a educação, trabalho, lazer e participação social. Quando falamos de crianças, não podemos esquecer uma das mais importantes ocupações: o brincar.
As famílias, em especial as que têm crianças em idade pré-escolar e escolar, beneficiam de uma certa consistência e organização diária. A rotina diária inclui: a hora de acordar e deitar, hora das refeições principais, hábitos de higiene, tarefas domésticas, tempo de brincar, tempo de família e atividade física. O mais importante é criar uma rotina que funcione para si e para os outros elementos do seu agregado familiar.
Claro que, como em tudo na vida, não é necessário um rigor e rigidez exagerado, mas sim um padrão que crie uma certa previsibilidade. Quando a família tem uma rotina adaptada à sua realidade e que se torna fácil de gerir, esta torna-se um poderoso aliado ao bem-estar e harmonia familiar.
Os horários para as tarefas diárias ajudam a criança a acertar o seu relógio biológico, por exemplo, por saber que está perto da hora de dormir, o seu corpo começa a preparar-se para isso. Esta antecipação facilita os momentos de calma, transmite confiança e promove a diminuição do stress e ansiedade. Quando a criança sabe o que esperam dela e se apercebe das rotinas recorrentes, ela começa a perceber que é importante na família. Esta força gera união, crenças e interesses comuns. A criança vai-se apercebendo do que é suposto fazer e qual o caminho a seguir.
A rotina também é excelente para estabelecer expectativas, isto é, se é suposto todos os dias a criança arrumar os seus brinquedos, num determinado local e de determinada forma previamente explicada, a criança aprende o que é expectável e tende a completar a tarefa de forma mais espontânea e com menos recusas.
Esta também é um facilitador da autonomia e confiança da criança para desenvolver o seu potencial. Na rotina deve ser dado tempo, sempre que possível, para os momentos de aprendizagem quer nas tarefas diárias, como vestir e calçar, quer nas tarefas domésticas, como por a mesa, ajudar a arrumar a roupa ou mesmo colaborar na preparação de refeições simples. Respeitar o ritmo e tempo das crianças é um elemento fundamental para o desenvolvimento da autonomia e, muitas vezes, o fazer “por ela” em vez do “com ela” retarda o processo de aprendizagem.
As crianças precisam de adultos sensíveis às suas necessidades, de acordo com a sua etapa de desenvolvimento, independentemente do tipo de estrutura familiar. Existem crianças com características que as tornam mais exigentes na qualidade de resposta parental que necessitam.
Estas podem apresentar problemas de desenvolvimento com padrões de comportamento que exijam o apoio e intervenção de técnicos especializados. As crianças com problemas de desenvolvimento apresentam, frequentemente, comportamentos atípicos, sendo natural que, nestes casos, os pais sintam dificuldades em compreendê-las e adaptar o seu modelo educativo a este desafio inesperado.
O Terapeuta Ocupacional é um profissional que intervém tanto com a criança, como com os seus cuidadores e contexto. Idealmente a família deverá colaborar de forma ativa em todo o processo terapêutico, sendo um aliado na concretização dos objetivos.
Sempre que se justifique o terapeuta deve recorrer a uma abordagem baseada nas rotinas e na resolução de problemas práticos das famílias, com a aplicação de estratégias, adaptação dos contextos, atividades e ambiente físico. Se organizar uma rotina diária para uma criança com desenvolvimento típico é exigente, ser cuidador de uma criança com necessidades específicas pode ser altamente desgastante. A colaboração de profissionais de saúde deve ser sempre equacionada.
Cada indivíduo e família deve procurar cumprir uma rotina que satisfaça as suas necessidades, promova o bem-estar, resolução de conflitos e facilite as relações. Na dúvida em relação ao que priorizar, pergunte a si mesmo(a): “O que é mais importante AGORA?”.
E claro, dar sempre tempo para aquelas atividades tão especiais e prazerosas que fazem com que tudo valha a pena. Até nisso a rotina é fantástica, na possibilidade de ficarmos excitados com o simples facto de sabermos o que vem: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração…” (Antoine de Saint-Exupéry, em O Principezinho).
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