A taxa de natalidade tem diminuído cada vez mais em Portugal. No entanto, em Lousada, concelho que sempre foi caracteristicamente jovem, tem mantido uma taxa superior à média da sua região e iguala a média nacional. Mas há quem supere as expectativas e ainda construa famílias consideradas numerosas.
Luísa Novais, 39 anos, professora universitária e de ensino secundário de Educação Física, tem quatro filhos e ainda sonha com um quinto. “O mais velho tem 14 anos, o segundo 10, o terceiro a caminho dos 6 e o mais novo faz 4 em breve. Nunca projetei muito ter quatro filhos, nunca foi uma coisa decidida quando casamos”, confirma.

“Venho de uma família de quatro filhas e, por isso, nunca foi uma coisa surreal ter quatro filhos, porque a minha mãe teve e para mim era uma coisa banal”, explica. A professora acredita que estar grávida e ter filhos “faz-nos sentir mais jovens e é muito bom estar grávida. Dizer ou convencer-me a mim mesma que já fechei a minha capacidade de procriar é como que se me atestassem um rótulo de já estar na idade adultíssima”.
Ainda acredita no quinto filho e não é “porque só tenho meninos e estou atrás da menina, não”, é “porque o cheirinho do bebé é uma coisa muito boa, aqueles primeiros meses de namoro com um bebé são muito bons”.
“Faz-nos sentir mais jovens e é muito bom estar grávida. Dizer ou convencer-me a mim mesma que já fechei a minha capacidade de procriar é como que se me atestassem um rótulo de já estar na idade adultíssima.”
Luísa Novais
E o número de filhos nunca foi um impedimento. “Tinha dois filhos e consegui fazer um doutoramento. As pessoas conseguem tudo aquilo que querem, mas estamos a falar de duas situações. Uma é o tempo que os filhos nos gastam e outra é a questão financeira. Por um lado, falando da questão financeira, é evidente que os filhos acarretam despesa e sentimos mais essa despesa no primeiro que temos de adquirir uma panóplia de berços, camas, cadeiras, porque nos exigem”, afirma.
“Depois para os restantes filhos começamos a descomplicar. Para o primeiro filho achamos que precisamos de ter tudo. Na questão financeira, é preciso percebermos se existe condição financeira ou não para ter um filho”, expõe.
O facto de os filhos “roubarem” tempos aos pais, acredita que pode não ser tanto assim. “No primeiro filho sentimos que acabam as nossas regalias e liberdades, há alguns entraves, mas o conselho que posso dar é que tentem incluir os filhos nas atividades. Fui uma vez sem o filho mais velho de férias e jurei que não ia mais. Não fazia sentido irmos apenas os dois se éramos mais felizes os três. Os filhos não nos tiram tempo, temos é de saber incluí-los nas nossas tarefas”, reforça.
“Nunca beneficiei de nada em particular. Sinto que nesse aspeto, se o Estado quer e apoia o aumento da natalidade, por outro lado não faz para que isso aconteça.”
Luísa Novais
Os apoios para famílias numerosas não são muitos. “Nunca beneficiei de nada em particular. Sinto que nesse aspeto, se o Estado quer e apoia o aumento da natalidade, por outro lado não faz para que isso aconteça”, lamenta.
Na mudança de moradia para Lousada, “conseguimos logo vaga para todos os filhos nas instituições. Nesse aspeto, a nível de educação e dar resposta correu muito bem. A integração deles também foi muito boa”, garante.
“Lousada é um bom concelho para se viver, e se é bom para viver também é bom para se criar os filhos. Torna-se mais fácil por ser um meio mais pequeno em que nós podemos confiar, dar um pouco mais de liberdade”, considera.
O contexto concelhio
Frequentemente se associa o adiamento da maternidade e paternidade ao período de crise económica e financeira. E, na realidade, os dados revelam que esse é um fator a ter em conta, como provam os resultados da década de 2010, quando Portugal foi um dos países mais fustigados pela crise e pela recessão económica.
Como consequência da instabilidade social, dos elevados níveis de desemprego, da emigração ou por outras razões, alguns casais ou indivíduos travaram ou adiaram o nascimento dos filhos.
Em 2009, o concelho registava uma taxa natalidade de 11.2% e, passados dez anos, regista apenas 8.9% de nascimentos por cada mil residentes, fruto da crise financeira que aconteceu entre 2008 e 2013.

“Por outro lado, os dados dizem que em 2018 houve uma recuperação com um ligeiro aumento da natalidade, provavelmente fruto de uma maior estabilidade a nível global e laboral que certamente poderá sofrer nova diminuição com os impactos da pandemia que atravessamos desde início de 2020”, alerta o vereador da Juventude, Nélson Oliveira.

Esta taxa supera a média da região do Tâmega e Sousa (7.4%) e iguala a de Portugal (8.4%), uma das mais baixas da Europa. Em cerca de cinco décadas o número de nascimentos em Portugal caiu para menos de metade. No início dos anos 60, havia mais de 200 mil nascimentos por ano no país. Atualmente, esse número é inferior a 90 mil.
“Lousada tem sido um concelho amplamente conhecido pela sua juventude e mesmo em alturas de maior decréscimo, acompanhando a tendência do país e até do mundo, conseguimos destacar-nos pela positiva. Isso é um claro sinal de que as pessoas gostam de viver em Lousada”, reforça o vereador.
“Lousada tem sido um concelho amplamente conhecido pela sua juventude e mesmo em alturas de maior decréscimo, acompanhando a tendência do país e até do mundo, conseguimos destacar-nos pela positiva.”
Nélson oliveira
Nélson Oliveira acrescenta, ainda, que isso “é facilmente percecionado pelo crescimento habitacional que estamos a ter no nosso concelho, com a vinda de vários casais jovens de outros locais e que escolhem precisamente Lousada pelas excelentes infraestruturas educativas, oferta cultural e desportiva, proximidade geográfica a grandes centros urbanos e políticas públicas promotoras de uma melhoria de qualidade de vida”.
Para fixar os jovens e as suas famílias, afirma que têm trabalhado de forma a promover uma série de políticas públicas de captação de novas empresas com baixos impostos municipais, quer para as empresas, quer para os cidadãos.
“Para além disto, é fundamental captarmos cada vez mais empresas e trabalho qualificado. A título de exemplo e segundo dados do Pordata, em termos laborais, o número de empresas por 100 habitantes cresceu de 8.1 em 2009 para 9.5 em 2018.”, testemunha.
Ainda assim, considera que “existem outras necessidades e por isso estamos a avançar para a criação da Academia de Formação de Lousada que irá melhorar as condições físicas dos cursos que já lecionamos em Lousada. Por outro lado, vimos aprovadas as candidaturas de várias Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) do concelho para construírem novas creches que irão suprir esta dificuldade que tínhamos há vários anos.
Com a criação destas respostas sociais, um pouco por todo o território, existirá a garantia para os novos casais que poderão encontrar creches para os seus filhos no nosso concelho”.
Taxa de mortalidade é a mais baixa da região
Também a taxa de mortalidade aumentou ligeiramente desde 2009 (6.5%). Em 2019, Lousada registava uma taxa de 7.8%. Uma média inferior à nacional (10.9%) e da região do Tâmega e Sousa (8.8%).
“Estamos abaixo dos números da região muito devido a uma capacidade de envolvimento dos mais velhos, quer em contexto de Centro de Dia ou Movimentos Seniores e a promoção de atividades que os envolvam, que os chamem para a nossa convivência”, menciona.
Para o vereador responsável pelos pelouros da Juventude e Ação Social, a rede social municipal “é fundamental para a sinalização de casos que, de outra forma, poderiam escapar no dia-a-dia e, por essa via, espero que esta pandemia passe o mais rapidamente possível para que voltemos a juntar estes movimentos seniores e todas as pessoas que, com este envolvimento da comunidade, refletem as suas preocupações, condições de vida, dificuldades e sentem que não estão esquecidos”.

A criação e manutenção de espaços dedicados ao acompanhamento e tratamento dos idosos pode ser uma medida importante para manter uma qualidade de vida e posteriormente uma menor taxa de mortalidade.
Recentemente, o município está a colaborar com uma IPSS para apresentar uma candidatura ao programa PARES de forma a construir um novo lar na freguesia de Nevogilde, em terreno da autarquia. “A ser aprovada, irá contribuir decisivamente para melhorar a resposta a esta população”, termina.