Por José Carlos Carvalheiras
A pacatez dos modos e a serenidade dos olhares são características frequentes nas gentes Louzadenses. Vivem no afã do dia-a-dia com mais tranquilidade do que frenesim. É fácil de constatar esse modus vivendi na vida da praça pública ou nos comércios de porta aberta. Neste contexto se enquadrava a preceito o fundador da Panificadora Central de Lousada, ou Padaria Central, o popular Narciso Mota.
Natural de S. Paio de Casais (Lousada), nasceu no dia 3 de fevereiro de 1915 e viria a falecer no dia 2 de janeiro de 1999. Casou com Maria José dos Santos e tiveram sete filhos: Aurora Amália, Rosa Maria, Olga Maria, Joaquim Augusto, Alberto Augusto, Augusto António e António Augusto dos Santos Mota.
Muito cedo se radicou na vila onde exerceu com mestria e popularidade a profissão de padeiro, perto do cruzamento da rua Visconde de Alentém com a Estrada da Bota, mudando-se mais tarde ara onde está hoje a Padaria Central.
Os seus contemporâneos sabem-no, mas o filho António Mota não se coíbe de salientar a extrema generosidade e dedicação do seu pai à vila, nomeadamente às suas coletividades e às iniciativas desportivas, sociais e culturais que aqui se realizavam.
Só para referir algumas das suas dedicações, Narciso Mota pertenceu ao Grupo de Leitura do Capela do Senhor dos Aflitos, fez parte do Corpo Ativo da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Lousada e foi diretor do quartel durante alguns anos, na década de 1960.
Narciso Mota era um apaixonado pela música filarmónica e um notável tocador de trompete que tocou na Banda de Música de Lousada.
Também exerceu o cargo de presidente da Junta de Cristelos e foi Vereador da Câmara Municipal de Lousada, tendo desempenhado o cargo de Presidente, para o qual foi nomeado por ser o vereador mais velho, logo após a revolução de 25 de Abril de 1974, que ditou a queda do Antigo Regime. Exerceu essas funções durante alguns dias, até à tomada de posse da Comissão Administrativa.
As qualidades de probidade e humildade eram-lhe sobejamente reconhecidas e neste âmbito dos predicados encontramos entre as pessoas que com ele privaram de perto ou de longe vastos e superiores elogios a um homem que consideravam solidário, honesto e justo.
Paulo Afonso da Cunha seu amigo de longa data, convidou Narciso Mota para presidir à Associação de Cultural Musical de Lousada. A propósito desse convite argumentou: “Ele era uma pessoa muito influente e importante na sociedade lousadense quando a Associação de Cultura Musical foi fundada, mas convidei-o para presidente da coletividade sobretudo porque o Narciso Mota tinha um gosto extraordinário pela Banda de Música e era um intérprete exímio”. Comprovando essa paixão “ele pediu que, aquando do seu falecimento, o seu trompete fosse colocado no caixão”, revelou Paulo Afonso da Cunha.
Um gosto especial por gravatas pretas
Um dos mais antigos funcionários da Padaria Central, o popular “Zé”, declara a propósito do seu antigo patrão que “em termos gerais era boa pessoa, sobretudo um bom conselheiro, um homem simpático, atencioso, brincalhão e muito compreensivo”. Recorda-se também que “o Sr. Narciso Mota era um excelente músico” e “um católico praticante”, salientando que “era pessoa para fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudar iniciativas sociais e culturais no concelho de Lousada”.
Como prova da grande importância que teve para o nosso concelho, foi-lhe atribuído um destaque na toponímia local, o que vale por dizer que existe em Lousada uma rua com o seu nome. Trata-se do arruamento junto à Quinta de Vila Meã que dá acesso ao Complexo Desportivo.
Acerca da faceta cómica deste Louzadense e que poucos conheciam, refere aquele antigo funcionário: “Ele quando andava de gravata preta e lhe perguntavam se algum familiar falecera, respondia que usava a gravata preta até pagar as dívidas que tinha”. No entanto, a verdade é que ele gostava de gravatas pretas e por isso as usava frequentemente.
“O Narciso desenvolveu um negócio notável, que começou com a distribuição de pão numa carroça puxada por cavalos e que em dia se tornou na maior padaria de Lousada”, enaltece Eurico Nunes de Sousa.
Também Ramiro Gomes, da Ourivesaria Neto, tece rasgados elogios a este Louzadense que considerava “um homem de uma honestidade e honradez impecáveis, pois para ele não eram necessários contratos, bastava a palavra, que ele respeitava como se fosse um documento”.
Aqui fica uma singela recordação de mais um Louzadense com Alma.
O fundador da Padaria Central foi o Sr Antonio Pereira que se situava em frente a igreja onde atualmente existe uma loja de eletrodomésticos….era o impulsionador das festas de Lousada que as organizou e pratocionou durante 40 anos…. “… A César o que é de César…” E o maior respeito e consideração pelo Sr. Narciso….