Dividir ou Salvar. Universalmente?
Opinião de Assunção Neto – Gestora
Fruto da Covid-19, vivemos um tempo de pandemia, contudo, nasce a esperança com a vacinação, como parte de resolução e solução, porém, não chega a todos na sua viabilidade de concretização. Assim, urge questionar se a vacinação, será uma espécie de divisão ou salvação a nível universal, e se esta vai ficar a meio ou terá fim, se chegará a todos.
Segundo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres existem desigualdades na distribuição da vacina, preconizando que, “a igualdade da vacina é o maior teste moral perante a comunidade global”, “o progresso na vacinação tem sido extremamente desigual e injusto”, podendo estender a pandemia significativamente.
A par, existe um Plano Global de Vacinação que, inclui todos os países com capacidade para desenvolver vacinas ou produzi-las, para mobilizar as empresas farmacêuticas e os principais atores da indústria e logística.
Todavia, aqui reside o ponto central, os diversos atores que atuam e a vertente económica fala mais alto, face a uma situação de Humanidade. Valores são postos em causa e a equidade/justiça fica débil para se sobressair e persistir num mundo amplamente global, atirado de princípios outros e interesses mútuos concentrados. Emerge um aglomerar de fatores, de interesses vil e prol de um fim, que não parece ser o mesmo, ficarmos Todos bem!
A atual situação pandémica permite entender que a cooperação entre povos e Estados constitui o grande desafio e imperativo moral dos nossos tempos. Com a pandemia, a saúde tem vindo a ser usada em constante pelos Estados como escudo de arrojo, quer no plano interno, quer externo. Apesar de, a retórica destacar assaz a fraternidade e a cooperação global como a salvação coletiva, os nacionalismos e os interesses corporativos têm acabado por se impor.
A crise pandémica veio reforçar o pior das pressões e contradições políticas, da dimensão local à global. A Organização Mundial de Saúde avisou para o risco, da população de alguns países ser vacinada de forma ilegal e imoral. Este cenário da vacinação é uma securitização da saúde, e abre uma segregação e um tratamento injusto do povo.
O aproveitamento da pandemia por parte dos Estados é meramente uma continuação do que tem sido uma prática política reiterada de desrespeito pelos Direitos Humanos e de atropelo das decisões das Nações Unidas. Mas, para além desta injustiça, a rápida vacinação de determinadas populações (países) esconde um negócio funesto entre os Estados e as empresas farmacêuticas, em troca da garantia de uma vacinação mais veloz e à frente de outros Estados. Porém, a façanha da vacinação encobre o mais que questionável negócio associado à troca de informações, ao crescente mercantilismo da saúde e ao nacionalismo das vacinas.
As negociações entre a União Europeia e as várias empresas farmacêuticas, com ressalvas e implicações geopolíticas são sinais férteis de como a produção e distribuição de saúde, enquanto bem público universal é a recente dimensão em que se desenvolve a competição por influência e poder nas relações internacionais. Contrariamente, a estas práticas de desequilíbrio e injustiça, a Saúde Universal deve traçar princípios e soluções que promovam a cooperação, a equidade e a justiça, em detrimento do nacionalismo exclusivista e dos interesses de mercado mais elitistas.
O nacionalismo das vacinas é aviso por parte do Secretário-Geral das Nações Unidas, referindo que, até ao momento, 10 dos países mais ricos administraram 75% de todas as vacinas disponíveis. Significa que, mais de 130 países não receberam uma única dose. Em 108 milhões de pessoas vacinadas, apenas 4% é referente a países em desenvolvimento. Os países ricos, que apenas representam 16% da população mundial, já asseguraram 60% das vacinas. Isto espelha a nossa sociedade de Hoje.
É necessário reconhecer que, não é possível superar desafios globais, como a pandemia com respostas isoladas e de ângulo somente nacional. Como ostenta a declaração assinada por dirigentes mundiais, “(…) o acesso às vacinas e tratamentos como bens públicos globais é do interesse de toda a humanidade. Não podemos permitir que os monopólios, competição bruta ou nacionalismo míope se atravessem neste caminho”. É urgente garantir que, as práticas e mecanismos institucionais da Saúde Universal saiam reforçados desta pandemia e sirvam de apoio à eliminação das injustiças e desigualdades que persistem a nível Universal.
A sociedade universal uniu-se para desenvolver, produzir, distribuir uma vacina em tempo recorde. Agora, este esforço histórico merece uma aplicação histórica. O objetivo de garantir vacinas para todos, e em qualquer lugar. Sublinhando o que António Guterres proferiu, “com esta pandemia, ninguém está a salvo, até que todos estejamos a salvo”.