Servir é o lema principal dos Agrupamentos de Escuteiros espalhados pelos quatro cantos do concelho. Pretendem educar a próxima geração de cidadãos a serem cidadãos úteis e disponíveis, que saibam fazer escolhas conscientes e que sejam, fundamentalmente, felizes e com espírito de serviço.
A 23 de abril, por todo o mundo, celebra-se o Dia do Escutismo, que assinala também o dia do seu patrono: São Jorge. O santo é o patrono mundial do escutismo, representando a unidade dos escuteiros do mundo inteiro e, simultaneamente, o desejo de uma vida fiel e corajosa.
O Escutismo é um movimento à escala mundial que reúne 161 Organizações Escutistas Nacionais (OEN), presentes em 216 países e territórios, constituído por mais de 35 milhões de rapazes e raparigas, homens e mulheres em todo o mundo. O movimento escutista a nível internacional pretende fomentar a educação para a paz, através de um espírito de compreensão e solidariedade entre os povos, despertando nos jovens o respeito pela interculturalidade.
Em 1923, nasce uma nova associação, fundada por membros da Igreja Católica, o Corpo Nacional de Escutas (CNE). Desde então, o CNE cresceu e difundiu-se rapidamente por todo o território nacional. A associação sobreviveu às ameaças do Estado Novo e reforçou-se com a instalação da democracia em 1974. O CNE tem-se adaptado aos novos tempos, renovando a sua proposta pedagógica sempre que necessário, tal como aconteceu em 2009.
O Agrupamento é o grupo de Escuteiros, encontra-se inserido numa paróquia, fazendo parte da Igreja local. No Agrupamento, os Escuteiros organizam-se por Secções, consoante as idades. Assim, existem os Lobitos (6-10 anos) que vivem na Alcateia (1.ª Secção), os Exploradores (10-14 anos) que vivem na Expedição (2.ª Secção), os Pioneiros (14-18 anos) que vivem na Comunidade (3.ª Secção) e os Caminheiros (18-22 anos) que vivem no Clã (4.ª Secção).
Acima dos 22 anos existem os Dirigentes e os Caminheiros ou outros candidatos que se estão a preparar para serem dirigentes. Cada Secção tem uma Equipa de Animação, composta por Dirigentes ou Candidatos a Dirigentes, existindo ainda – ao nível geral do Agrupamento – um Chefe de Agrupamento (e seu Adjunto), um Assistente de Agrupamento (por regra, o Pároco) e um Secretário e um Tesoureiro de Agrupamento.
Em Macieira, “há uma ligação para a vida”
O Agrupamento 1069, de Macieira, renasce do sonho de Rui Sousa, atual chefe do agrupamento, de ser escuteiro. “Ingressei no Agrupamento de Macieira, mas foi extinto, então, ingressei no de Margaride, em Felgueiras, para onde levei os meus filhos, sobrinhos e amigos e onde fiquei cerca de nove anos. Voltei e reabri, em outubro de 2010 o agrupamento de Macieira. Fiz o curso de dirigente e um curso de aprofundamento pedagógico da 1.ª secção, ou seja, especializei-me em trabalhar com lobitos”, refere o chefe.
“O Agrupamento reabre com muitos escuteiros já com lenço, nesse aspeto foi fácil. Só tínhamos um dirigente. Foi assim que renasceu”, explica Olga Mendes, chefe-adjunta e chefe dos exploradores.
O 1069 começou com 64 elementos, porém, atualmente, é composto por 38. “Começamos com meninos de Aveleda, Alvarenga, Nogueira, Vilar do Torno, vieram muitos, trabalhamos muito, mas depois começou a haver muita oferta. Fomos perdendo crianças. Talvez nos tenhamos desleixado no investimento nos anos seguintes ao começo. Indo uns, não vieram outros”, explica a chefe-adjunta.

Mas a problemática é nacional, refere a chefe, “isso fez com que os mais novos tivessem crescido e ido embora. É preciso ter uma estrutura muito boa para conseguir manter os caminheiros. Percebemos o erro e investimos novamente”.
“O que torna tudo mais difícil é a disponibilidade do adulto, que ajuda muito, mas vamos conseguir. Apesar de tudo, tem corrido bem. O que nos deixa tristes é quando alguém desiste. A nossa função é manter as crianças e os adultos. No fundo, eles também aqui se encontram pessoalmente”, reflete Adélia Sousa, secretária do agrupamento e chefe dos lobitos.
E acrescenta: “como agrupamento somos muito unidos e todos os que seguem a sua vida, sempre que passam por nós falam e há uma ligação para a vida”.

Todas as atividades do agrupamento pretendem ser didáticas e divertidas. “Há muitas crianças que não têm uma vida cultural ativa, porque os pais não têm por hábito levá-los a um museu, os nossos jovens não têm essa cultura e tentamos que isso aconteça. Não há acampamento que não tenha a parte cultural”, garante o chefe.
Para isso, são os próprios escuteiros que a preparam, sendo guiados pelos chefes. “Até a preparação da atividade é feita por eles. Trabalham na atividade que querem fazer, é tudo com eles. Nós orientamos, mas eles é que escolhem e trabalham, divididos por patrulhas”, explica Olga Mendes.
“Ser escuteiro não é um hobbie, é ser um exemplo. O escutismo é uma forma de vida.” – Olga Mendes
Um escuteiro criança “só precisa de querer aventura, querer aprender, querer coisas novas e querer lá estar. Tem que estar disposto a estar e depois vai receber tudo isso e em dobro”, afirma a chefe, já o escuteiro adulto “tem de ter uma entrega muito grande e precisa de estar disposto a mudar a sua vida. Ser escuteiro não é um hobbie, é ser um exemplo. O escutismo é uma forma de vida”.
Com a paragem devido à pandemia, em março de 2020, os órgãos superiores sugeriram algumas atividades online. Porém, o agrupamento acreditou e decidiu que “escutismo online, na nossa opinião, não é escutismo. Falamos com todos os pais, que apoiaram”. Até ao momento, estiveram sempre parados e regressam no próximo dia 24 de abril, com a certeza de que “não faltará nenhum”.
O chefe de agrupamento, Rui Sousa, termina referindo: “quando estamos em formatura digo-lhes isto muitas vezes: ‘quando estão na escola têm que ter noção que não são iguais a todos os outros que lá estão. São diferentes, são escuteiros’. E o escuteiro é diferente. Tenho de ser um exemplo para a sociedade, ou pelo menos tentar. Tenho essa obrigação. Temos a lei do escuta que temos de cumprir”.
Em Meinedo, “temos sempre uma resposta a dar à sociedade”
Meinedo viu nascer o seu Agrupamento 1095 em 1996. Atualmente com 50 elementos, já sentem as consequências da pandemia uma vez que, neste regresso, já não voltaram todos.
“Temos tido algumas baixas. Com a paragem, algumas crianças já comunicaram aos chefes que não vão voltar. Começamos com os mais pequenos, mas ainda estamos a ver quantos é que vão, efetivamente, voltar”, refere João Pinto, chefe do agrupamento e dos caminheiros.

Cada chefe de secção foi mantendo o contacto online para que as crianças e jovens fossem assinalando alguns dias importantes que foram acontecendo: “como o Natal, o São Jorge, fomos sempre tentando, cada um à sua maneira, interagir com eles. Como esse contacto percebemos quem ia enviando e quem não ia dando resposta, agora vamos perceber como as coisas estão”, menciona.
“Para já, os miúdos mais pequenos sempre tivemos poucos, mas antes da pandemia apareceram mais e nestas últimas semanas também foram aparecendo”, acrescenta.
E o que é ser escuteiro? O chefe confessa: “nós, dirigentes, costumamos brincar ao dizer que deixamos de ser escuteiros e passamos a ser os educadores. Ser escuteiro, começando desde tenra idade, e eu tenho essa experiência que estou cá desde que o agrupamento iniciou, passa muito pelos mais velhos incutirem às crianças o viver em sociedade, prestar ajuda ao próximo e ter essas mais valias no seu crescimento”.
“É tentarem ser úteis ao máximo através das nossas leis. É torná-los pessoas melhores e melhores cidadãos para o futuro.” – João Pinto
“É tentarem ser úteis ao máximo através das nossas leis que são adaptadas junto deles e que podem ser incutidas na vida pessoal de cada um. Conseguem, através do que tentamos transmitir, levar isso para o seu dia-a-dia. É torná-los pessoas melhores e melhores cidadãos para o futuro”, garante o chefe.
O plano de atividades passa pelos acampamentos entre agrupamentos, atividades lúdicas, viagens culturais, a celebração das datas importantes, a animação da eucaristia uma vez por mês e a angariação de fundos para as suas atividades.

“Em suma, é estar presentes no que eles planeiam, perceber o que eles querem e fazê-los perceber se o que eles querem é ou não exequível, para eles também terem essa capacidade de avaliação. Mesmo quando são algumas coisas arrojadas, fazemos essa avaliação internamente sem lhes dizer nada e até percebemos que é possível, mas é preciso ver a vontade deles, não é mandar a ideia ao ar e o chefe trabalhar, têm de ter essa força de levar a ideia para a frente. Pôr a responsabilidade do lado deles”, manifesta.
Apesar de estáveis, o agrupamento já passou por algumas dificuldades, principalmente a falta de crianças. “Tínhamos poucas crianças. Às vezes parecia que tínhamos mais chefes que crianças. Depois, conseguimos ter mais escuteiros e surgiu a dificuldade da falta de chefes. Conseguimos uma boa campanha, angariamos antigos escuteiros, mas as novas regras para os cursos de chefes são mais demoradas e conseguimos que duas escuteiras regressassem”, indica.
João Pinto entende que o facto de se celebrar o Dia Mundial do Escutismo “é sempre bom para relembrar que estamos ativos, que somos um movimento que temos sempre uma resposta a dar à sociedade e tentar em cada comunidade ajudar no que é possível. Tentar lembrar as pessoas que estamos cá para o que é preciso e não que só se mostra quando são celebrações ou procissões. Tentarmos manter essa presença na comunidade”.
Em Lustosa, “tu, escuteiro, podes fazer a diferença”
O Agrupamento 1154, de Lustosa, nasceu em 1999, através de um chefe da freguesia vizinha de Santa Eulália que convidou alguns adultos da freguesia a formar um agrupamento. Com a ajuda do pároco, na altura Augusto Teixeira de Sousa, formaram o agrupamento, que hoje é composto por 60 escuteiros, entre os 6 e os 60 anos.
Para o chefe de agrupamento Simão Pacheco, ser escuteiro “é ser feliz, é o que tentamos incutir nas nossas crianças. Há quem diga que até exista um certo dom, principalmente nos adultos, que mais tarde é que vamos descobrir isso. Ser escuteiro é isso. O maior desafio, hoje em dia, é cativar. Há muitas atividades por onde escolher, há uns anos era mais fácil, temos essa dificuldade em mantê-los cá”.

“Connosco eles vivem coisas que não vivem noutras atividades. O facto de serem mais livres, de viverem na natureza, as atividades que propomos são deste género. As crianças que temos são, sobretudo, aventureiras. É muito mais difícil manter um pioneiro e um caminheiro, que estão noutra fase da vida. É o que nos torna diferentes dos outros grupos”, garante Agostinha Sousa, chefe adjunta de agrupamento e chefe dos pioneiros.
Não esquecendo que o escutismo é católico, Luís Celso, secretário do agrupamento, explica que querem “ajudar as crianças e jovens a vincar a sua personalidade, a assumir a sua condição de cristão. Para isso, usamos todos os meios que temos ao nosso alcance. O lobito adora a natureza e tudo o que o Criador fez. O explorador é aquele jovem que vai à procura da terra prometida. Os pioneiros sentem a responsabilidade da construção da igreja. Depois, temos os caminheiros, que é o servir – estou aqui, estou disposto ao meu próximo, a quem precisa”.
“Todas as nossas atividades levam a que cada um deles seja, futuramente, responsável e um cidadão ativo e que esta identidade de cristão que vem desde criança, do batismo, seja vincada e que seja assumida por eles, não só no dia-a-dia, na participação na Eucaristia, mas em tudo o que os rodeia. Ter este vínculo desta personalidade. A natureza e tudo o que nos envolve é motivo para que os consigamos levar a este eterno e jovem Jesus Cristo que é a meta final do escutismo, que é levar o jovem a encontrar-se com Jesus”, acrescenta.
“Todas as nossas atividades levam a que cada um deles seja, futuramente, responsável e um cidadão ativo.” – Luís Celso
Ser escuteiro “é dar-me sem medida, quem não está dentro do movimento não tem noção do espaço que nos ocupa, porque quem é dirigente tem a reunião semanal com as crianças, mas durante a semana tem de preparar a atividade. É um conjunto de disponibilidade, querer e ter muita motivação”, garante Simão Pacheco.
Depois da paragem causada pela covid-19, tentaram, em setembro de 2020, retomar as atividades. Com o início da segunda vaga, voltaram a encerrar portas. No passado dia 10 de abril foi possível retomar as atividades de lobitos e exploradores e, no próximo dia 24, regressam os pioneiros e caminheiros.
“Tivemos de nos adaptar, separar as crianças em salas maiores, desinfetar e todas as condicionantes a que estamos obrigados”, testemunha Luís Celso, referindo que os espaços atuais “são cedidos pela paróquia e dá para colmatar algumas dificuldades, mas efetivamente precisávamos da nossa nova sede”.

A celebração do São Jorge será, também este ano, diferente, mas “com a mesma vivência”. Esta é a celebração “maior e a que as crianças mais gostam”. Segundo o secretário, celebrar este dia é importante para dizer: “tu, escuteiro, tu fazes parte integrante desta sociedade que precisa de ti. Tu podes fazer a diferença. Este dia é para lembrar todos aqueles que te rodeiam que te possam vir a conhecer como alguém especial que pode mudar o que está à tua volta”.
“O culminar de isto tudo é ‘deixar o mundo um pouco melhor’, que era a divisa de Baden-Powell, fundador do escutismo. Eu, mudando um bocadinho, ajudo-te a mudar a ti e tu ajudas o outro. É uma corrente do bem”, manifesta.
Para Agostinha Sousa, “para ser escuteiro é preciso ter a vontade de ser livres, serem felizes e viver a natureza sendo crianças. Os adultos precisam de responsabilidade e muita vontade de os ouvir, fazer o que eles gostam e ensiná-los. A palavra que nos define é amor, amor a Cristo e aos outros”.
Em Silvares, “ser escuteiro um dia, é ser escuteiro para sempre”
Em Silvares, em 2003 nasceu o Agrupamento 1253 com os chefes Abílio Moreira e Irene Monteiro, que são chefes seniores. Foi também fundado pelos chefes Liliana Machado e Raimundo Mendonça, que ainda estão no ativo. E, ainda, com a chefe Carla Moreira, que por motivos profissionais acabou por sair e o Padre Emílio.
“Como todos nós que sofremos as dores do crescimento, também com o Agrupamento acontece isso. Estou no Agrupamento há cerca de 15 anos e, recordo-me, tínhamos cerca de 10/12 crianças. Não tínhamos todas as secções e, na altura, só tínhamos lobitos, exploradores e cerca de dois pioneiros, o que é perfeitamente normal quando se nasce do zero. As coisas evoluíram e, no ano passado, batemos o máximo no que diz respeito ao efetivo, éramos 87”, realça Paulo Moreira, chefe do agrupamento.

Hoje são cerca de 68 escuteiros no total, divididos por 12 lobitos, 17 exploradores, 14 pioneiros, 13 caminheiros e os dirigentes. “No nosso caso, conseguimos manter um número efetivo em termos de Clã. Hoje são cerca de 15 caminheiros, o que também não é muito comum, é dos agrupamentos que tem um maior Clã. Mas, naturalmente, alguns acabaram por sair e terminar este caminho”, refere.
“Aprendemos a ser o Homem novo, a viver na natureza, a viver em comunidade, saber gerir e fazer os nossos trabalhos e há valores intrínsecos no CNE que fazem com que a pessoa, garantidamente, fique melhor.”- Paulo Moreira
“Ser escuteiro um dia, ser escuteiro para sempre. A sociedade desconhece muito o que é o escutismo. Não é ajudar as velhinhas a passar a rua. Posso dizer que ajudamos muito na ligação interpessoal das crianças. Aprendemos a ser o Homem novo, a viver na natureza, a viver em comunidade, saber gerir e fazer os nossos trabalhos e há valores intrínsecos no CNE que fazem com que a pessoa, garantidamente, fique melhor”, esclarece o chefe.
O agrupamento participa em diversas atividades como a “Missão Embrulho”, a “Despensa Solidária”, as Janeiras para angariação de fundos, os acampamentos, mas, “cada secção tem o seu plano de atividades, porque os lobitos têm necessidades e atividades completamente diferentes dos caminheiros”, alude.
Durante o período pandémico, as atividades decorreram online. “No início, a minha preocupação foi não perder o vínculo com as crianças, porque aquela história de quem não é visto não é lembrado aplica-se muito. Se pararmos e não interagirmos perde-se muito, e mesmo assim se perdeu. Tivemos acesso a uma plataforma e começamos a reunir semanalmente por videoconferência. Chegamos a uma altura que percebemos que era muita coisa para eles e decidimos reunir quinzenalmente”, expressa.

Para Paulo Moreira, celebrar este dia é “importante para que as pessoas percebam o que é o escutismo. Infelizmente, há pessoas que não têm perceção do que é o escutismo e por isso reagem e fazem coisas que não deviam fazer. É fundamental para nós esta menção, porque o escutismo faz as pessoas extremamente felizes”.
“Pertenci a um movimento, quando era jovem, e o Padre Rotondi, o fundador, dizia uma coisa que me marcou para a vida toda: ‘aos jovens, se se der pouco, eles não dão nada, se se der muito, eles dão tudo’, por isso, temos que trabalhar com os nossos jovens, que eles fazem coisas que não temos a perceção do quanto eles são capazes de fazer. É importante que se conheça o escutismo e o CNE”, explana.
Quem quer ser escuteiro, “só precisa de ser uma criança ou jovem com vontade de viver a natureza. Depois de conhecerem, mesmo que saiam por algum motivo, bebem de uma familiaridade tão boa e tão rica que depois sentem que têm de voltar. Neste momento, estamos numa fase muito bonita do agrupamento, uma vez que temos dois elementos que fizeram todo o percurso desde os lobitos até caminheiros e têm todo este percurso, estou confiante que vão dar excelentes dirigentes. É esta a dinâmica que pretendemos”, termina.