Por José Carlos Silva
A casa nobre permite um grande número de desafios e oportunidades de investigação. Muitos têm sido os Historiadores da Arte, Genealogistas, Heráldicos, Arquitetos Paisagistas a contribuir para o conhecimento cada vez mais integrado deste tipo de habitação e do seu enquadramento sociocultural. A sua intrínseca natureza obriga a uma total interdisciplinaridade. Não existem, no entanto, inventariação e estudos sistemáticos da casa nobre. Há, pois, que iniciar esse árduo trabalho e principiar a esgotar esse filão que parece, por ora, inesgotável.
Já em 1954 Álvaro Pacheco de Carvalho deliciava-se com a eloquência da casa nobre no concelho de Lousada: “Aqui um solar seiscentista, prepialho à fiada em junta sêca, severo e modesto como eram os de então; além, construções apalaçadas em “baroque” de granito enfunado e grandioso, depois, casas boas de gente abastada, com alas de variadas épocas, ostentando a típica cozinha, tão regional, tão lousadense, toda em pedra, bem ameada com torre para defesa contra incêndios; mais adiante, o casarão vitoriano, rico em varandas ou janelas sob clássico frontão e ao lado a inseparável capela; (…) topam-se ainda muitos portões de brazão (…)1.
Mas nem sempre se pode querer que uma casa de interesse histórico ou artístico represente na íntegra uma época ou um estilo. O que é normal, pelo contrário, é que a casa ao longo dos séculos tenha sofrido obras, restauros, ampliações e transformações, quer no exterior, quer no interior.4
A casa nobre Lousadense, enquadra-se nas características definidas por Carlos de Azevedo e adotadas por Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves para a casa nobre em geral, na sua obra: “A Casa Nobre No Porto Na Época Moderna”. Os aspetos que a definem centram-se “ (…) no esforço arquitetónico e decorativo concentrado na fachada; no desenvolvimento horizontal, criando longas fachadas, articuladas com pilastras lisas pouco salientes, e acentuadas, sobre os telhados, por ornatos (urnas, fogaréus e pináculos); na existência de um piso dominante, o andar nobre, com janelas «quase sempre mais ricas do que no andar térreo», na acentuação da linha superior do edifício (emprego de frontões); na importância da entrada nobre, «enriquecida com colunas e pilastras», sustentando «balcão com o parapeito ou simples grade, continuada por uma janela central de tipo mais rico e rematada pelo brasão de armas da família», criando-se assim um eixo vertical que divide a fachada em duas zonas iguais. (…).”5 Como surge nas casas da Bouça, de Ronfe, de Rio de Moinhos, do Porto e de Alentém. Mas também temos casas com fachadas rasgadas por “janelas de sacada e janelas de peitoril, com ombreiras, peitoris e lintéis lisos. As portadas são também simples.”6 De que são exemplo: a Casa de Argonça, do Cam, e de Vilela (Casa Grande). A escadaria assume um papel e uma importância fundamentais no exterior do edifício, imprimindo uma acentuada noção de movimento e desenvolvendo-se com a casa. As escadarias da casa do Outeiro, de Argonça, de Alentém, da Bouça, de Vila Verde, do Ribeiro, da Lama, de Rio de Moinhos, de Real, do Valteiro, da Renda e de Juste, pelas suas características estilísticas, permitem-nos conferir-lhes um certo destaque. Além da escadaria, devemos também salientar a capela, a existência de pedra de armas e a torre.
À parte o contrato de obra da Casa de Real, transcrito no Jornal de Lousada,7 mas cujo manuscrito não encontrámos, desconhecemos se algum dos demais proprietários terá celebrado contrato.
In A Casa Nobre no Concelho de Lousada, Dissertação de Mestrado Em História De Arte Em Portugal, FLUP, 2007
1 – PEREIRA, Camacho – In Prefácio. Lousada N.º 177- Indicações Gerais Sobre o Concelho. Cruz Quebrada: Edição ROTEP. 1954, p. 2.
4 – AZEVEDO, Carlos de – Solares Portugueses. Introdução Ao Estudo Da Casa Nobre. 2ª Edição, [s/l]: Livros Horizonte, 1988, p. 14.
5 – FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. -. – A Casa Nobre No Porto Na Época Moderna. Lisboa: Edições Inapa. 2001, p. 16 – 18. Cf. AZEVEDO, Carlos de – Solares Portugueses. Introdução Ao Estudo Da Casa Nobre. 2ª Edição, [s/l]: Livros Horizonte, 1988, p. 14.
6 – FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – o. c., p. 15 – 16.
7 – DINIZ, M. Vieira. – “A Casa De Real”, Jornal de Lousada, (24 de abril de 1948), p. 1, Cf. FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – Carvalhos de Basto. A descendência de Martin Pires Carvalho Pires Carvalho, Cavaleiro de Basto. Porto: Edição Carvalhos de Basto. 1979, volume II, p. 31.