Por José Carlos Silva
Sendo Lousada um concelho “entre rios” – Sousa e Mesio – agruparemos as casas nobres em dois grandes grupos: casas edificadas na área do Rio Sousa e casas construídas em território do Rio Mesio. Faremos a sua descrição arquitetónica, recordaremos momentos da sua história e memórias dos seus proprietários. As tipologias das casas nobres sugerem várias definições. A capela e a sua diferente posição em relação à fachada, a escadaria, a pedra de armas e a torre, eis alguns dos elementos arquitetónicos que nos vão permitir criar uma tipologia de fachadas.
Começaremos pelas Casas Edificadas na área do Rio Mesio, de que é exemplo a Casa de Rio de Moinhos, já publicada.
Casa de Real
Foi seu proprietário, José Freire Vieira Teixeira de Queirós, que nasceu em 1762 e nela faleceu em 1829 – Fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Capitão-mor de Leça do Balio e Donatário de S. Miguel de Cacerilhe, concelho de Celorico de Basto, e de Santiago de Rande;513 sucedeu-lhe João Pinto de Almeida Soares Faria, que faleceu em 1879, e foi Fidalgo da Casa Real.514 E à casa de Real pertenceu D. Frei Manuel da Cruz, Bispo de Mariana (Brasil), que nasceu na casa do Carvalhal e foi batizado em 1690, nesta freguesia, Bacharel pela Universidade de Coimbra, Dom Abade do Colégio do Espírito Santo de Coimbra (1732), Definidor e Mestre do Mosteiro de Alcobaça (1738), Bispo do Maranhão, no mesmo ano, e primeiro Bispo de Mariana por Decreto de 25-4-1745;515 a ele se ficando a dever (em 1758) a reconstrução da Casa de Real, datando dessa época a capela e a estrutura do edifício que ainda hoje existe.516
Em 1758, José Freire da Costa, abade de Vilarinho, fez, seguindo as instruções de seu tio, o bispo de Mariana, um contrato de obra com os mestres Galegos pedreiros, Pedro Gomes e Manuel Solha:” (…) Dizem-nos Pedro Gomes e Manuel Solha, mestres pedreiros naturais do reino da Galiza que nós estamos contratados com José Freire da Costa, abade de Vilarinho, de lhe fazer uma capela e casa na forma dos apontamentos e risco, tudo bem feito e seguro na forma da ley e nos obrigamos toda a pedra que for necessária para a obra tanto de escoadria como de alvenaria; a pedra de escoadria hade ser colouada no monte de S. João (…) e elle Reverendo Abbade nos dara a pedra das do Carvalhal e mais o sobrado melhor da caza e escadas do portal fronho e mais a pedra da caza de Lagoeiros (…) eu Reverendo Abbade me obrigo a dar-lhes o caldo feito de manhã e à noite e cozer-lhe o pão dando os mestres o gram.”517
Esta casa viveu, por esta altura o seu período áureo, tendo o ouro do Brasil contribuído para o seu esplendor e fortuna. O custo total das obras ascendeu aos 868$300 réis.518

Tipologicamente é uma casa quadrangular com capela adossada no topo esquerdo da fachada Oeste, com pátio interior.
A fachada principal foi dividida por pilastras, em três zonas, criando dois panos simétricos que flanqueiam um pano central onde foi adossada uma escadaria perpendicular à fachada, de um só lanço, com patim, e volutas na parte terminal, sendo que os primeiros degraus são semicirculares. No rés-do-chão do pano central, a ladear a escadaria, ostenta duas aberturas gradeadas, e no andar nobre, ao centro, uma portada com lintel curvilíneo ladeada por duas janelas de sacada, todas molduradas a sobrepujar cachorrada.
No pano do lado direito, apresenta uma janela de sacada com lintel curvilíneo, e no pano do lado esquerdo, no rés-do-chão, evidencia uma portada moldurada com um lintel; no primeiro andar repete o ritmo com uma janela de sacada com lintel curvilíneo. A fachada Norte tem uma janela de peitoril gradeada. No rés-do-chão da fachada Este tem cinco portadas e no primeiro andar, uma janela de peitoril moldurada e do lado direito uma abertura gradeada.
A fachada Sul foi dividida, verticalmente, por uma pilastra que criou duas zonas e dois panos simétricos. Apresenta no rés-do-chão, seis janelas de peitoril molduradas e gradeadas (três/três, pano direito/pano esquerdo), num ritmo certo, e no segundo andar, seis janelas de sacada com lintel curvilíneo que sobrepujam cachorrada (três/três, pano direito/pano esquerdo). A capela está adossada ao topo esquerdo da fachada principal, virada a Oeste, tendo como invocação Nossa Senhora das Mercês apresenta; ao centro da fachada um portal arquitravado com cornija e painel superior, e frontão interrompido por volutas. A sobrepujar o portal há um óculo polifólio, moldurado e gradeado. O frontão é triangular, interrompido na base, pelo óculo; uma cruz embolada, cuja base toma forma de volutas sobreleva o frontão. E a fachada Norte apresenta uma janela retangular moldurada e gradeada, na fachada Este nota-se a falta da haste horizontal da cruz, (só tem a haste vertical e a base); tudo o resto está partido. As pilastras são encimadas por urnas fechadas.
513 – FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 31. Cf. A.D.P., Secção Notarial, Po-2, 1ª
Série, Livro n.º 116, 1814, fl. 82; DINIZ, M. Vieira – A Casa De Real. Jornal de Lousada. (24 de abril), p. 1.
514 – DINIZ, M. Vieira – A Casa De Real. Jornal de Lousada. (24 de abril de 1948), p. 1.
515 – DINIZ, M. Vieira – A Casa De Real. Jornal de Lousada. (24 de abril de 1948), p. 1.
516 – Procurámos este documento nos Arquivos Distritais do Porto e de Braga e não o encontrámos, por isso recorremos ao artigo do Jornal de Lousada como a melhor fonte para este trabalho.
517 – DINIZ, M. Vieira – A Casa De Real. Jornal de Lousada. (24 de abril de 1948), p. 1; Cf. FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 31.
518 – FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 31.
Nesta casa viveu minha Mãe, Solange Faria Queiroz Dumont Vilares. Sendo na altura proprietário da Casa de Real seu pai José de Faria Queiroz meu Avô.
Muito interessante trazer à memória o Património Cultural das Casas Nobres do Concelho de Lousada.
Parabéns pela excelente iniciativa!
Cristina Mafalda de Portugal da Silveira Queiroz Neves Correia
Muito interessante recordar o Património Cultural das Casa Nobres do Concelho de Lousada.
Parabéns pela excelente iniciativa!
Na Capela desta casa casaram o meu Avô, Joaquim de Faria Soares de Almeida Queiroz que nela habitava, e a minha Avó Maria Guilhermina professora primária na Ordem durante cerca de 35 anos