Lousada Social
Por José Carlos Silva
Mas Lousada não se quedava só em mostrar as suas belezas pitorescas e o seu fino trato e talento para a política. Era também uma terra que gostava de folgar e de se divertir em bailes – de que já há notícia nos anos setenta, da centúria de oitocentos.37
Nos bailes, dessa época, dançava-se a contra-dança38 e a valsa39 e jogava-se o whist.40 As toilettes nem sempre eram novas, havendo quem distinguisse “(…) os vestidos novos dos transformados, (…),”41 conhecesse “o nome e o preço das fazendas, das rendas e das fitas, o número de metros que em tudo isso se tinha gasto, (…),”42 chegando ao ponto de saber quem tinha “fantasiado e executado tanta elegancia, em que dia chegaram do Porto todos os enfeites, e até a gratificação que se tinha dado às recoveiras. (…).”43 E apesar das famílias viverem a grandes distâncias e do baile se realizar no inverno, nada obstava a que se apresentassem com “(…) tão boas toilettes!”44
No final do século XIX um baile tinha importância, imponência, distinção, graça e delicadeza, caracterizado que era por um ambiente de bem-estar, de alegria e de sedução. Dançavam-se polcas,45 mazurcas46 e quadrilhas, e as senhoras eram rainhas, os homens seus vassalos, e tinham um lugar do maior destaque; mal assomavam, eram respeitosamente saudadas, levadas pelo braço até ao vestiário, e depois ao salão, onde se lhes fazia a corte.47
Os bailes eram um acontecimento eminentemente social e político, que acontecia nas casas nobres, na Assembleia Lousadense48 e, porventura, no edifício da câmara. Oportunidade excelente para os senhores da casa apresentarem os seus convidados, estabelecerem convivência, e, nas assembleias, os diretores exercerem a correspondente missão.49
Câmara de Lousada e casario da Vila de Lousada. Fonte: Memórias de Lousada – Colecção de 36 Postais Ilustrados Antigos. Lousada: Edição da C. M.L., 1995, n.º 20.
E enquanto um baile não se iniciava, os cavalheiros permaneciam junto das damas, prestando-lhe as suas homenagens; se dançavam, primeiro pediam licença à mãe ou pessoa respeitável que as acompanhava, e só depois de concedida a autorização, podiam tirar o seu par.
Quando o século vinte estava a um decénio de alvorecer sobre o esplendoroso templo do Senhor dos Aflitos, a nobre Lousada dançava, recitava, cantava, ao som do piano, e “As lindas, lindas? Lindíssimas! Senhoras da aristocracia lousadense formavam um precioso ramalhete das mais belas e das mais perfumadas flores e os rapazes eram finos, respeitosos, educados.” 50 Eram os cavalheiros que serviam o chá, a ceia e o chocolate, e quando o sol já irrompia, e o baile terminava, acompanhavam as damas aos carros, que as levavam às suas casas.51
Naquela época, os bailes da Assembleia Lousadense “deram brado, (…)”52 perdurando no fio indelével da memória coletiva da fina e deslumbrante Lousada.
36 – “Local de culto das letras e de debate de ideias e ideologias, ali se atualizavam as novidades e se congeminavam estratégias políticas e ações cívicas. Mas foram sobretudo as atividades recreativas [os bailes e as quermesses] que se tornaram memoráveis.” O Século XX em Lousada 100 Factos & Personalidades. Lousada: Edição da Câmara de Lousada. 1999, p. 56.
37 – X – Um Baille Em Louzada. Gazeta de Penafiel. Penafiel. (2 de fevereiro de 1870), p. 1.
38 – Dança de quatro ou mais pares uns defronte dos outros. Também significa quadrilha. Quadrilha – Dança alegre e movimentada, que originalmente se dançava só com quatro pessoas. Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa – o. c., p. 225.
39 -Dança a três tempos. COSTA, J. Almeida, MELO, A. Sampaio – Dicionário da Língua Portuguesa. 5ª edição, Porto: Porto Editora, LDA, [s/d], p. 1556.
40 – Nome de um jogo de cartas inglês. COSTA, J. Almeida, MELO, A. Sampaio – o.c., p. 1556.
41 – X – Um Baille Em Louzada. Gazeta de Penafiel. Penafiel. (2 de fevereiro de 1870), p. 1.
42 – X – Um Baille Em Louzada. Gazeta de Penafiel. Penafiel. (2 de fevereiro de 1870), p. 1.
43 – X – Um Baille Em Louzada. Gazeta de Penafiel. Penafiel. (2 de fevereiro de 1870), p. 1.
44 – X – Um Baille Em Louzada. Gazeta de Penafiel. Penafiel. (2 de fevereiro de 1870), p. 1.
45 – “Espécie de dança boémia, e respectiva música a dois tempos.”. COSTA, J. Almeida, MELO, A. Sampaio – o. c., p. 1119.
46 – “Dança a três tempos, originária da Polónia.” COSTA, J. Almeida, MELO, A. Sampaio – o. c., p. 925.
47 – BOAVENTURA, São – o. c. p. 20.
48 – A Assembleia Lousadense era o ponto de encontro, por excelência, para onde convergia toda a aristocracia lousadense, principalmente a partir dos finais do século XIX. Foi fundada em 1864. O Século XX em Lousada, p. 56.
49 – BOAVENTURA, São – o. c., p. 20.
50 – “Havia animação, palpitavam corações, surgia o amor. (…). Os bailes da Assembleia Lousadense eram assim. (…). Assisti ao baile oferecido no Quai de Orsay, em honra de D. Carlos I, que maravilha! (…) Mas os bailes de Lousada! ” BOAVENTURA, São – o. c.,p. 20.
51 – BOAVENTURA, São – o. c., p. 20.
52 – BOAVENTURA, São – o. c., p. 20.
Parabéns pelo magnífico Retrato a Sépia e a Cores da vida social Lousadense !