José Carlos Carvalheiras tem 53 anos e é um lousadense de gema. Cresceu no coração da vila e nutre uma especial paixão pelas tradições e cultura. É licenciado em Sociologia, mas a sua experiência profissional vai mais além: é investigador sociocultural, escritor e jornalista.
E por ser um lousadense de gema, “sinto a mudança e a transformação que Lousada está a ter. Há aspetos da cultura local que estão a morrer ou já desapareceram: a vaca de fogo, sair à rua e deixar a porta aberta e as gaitas dos vendedores ambulantes. As pegas rabudas e as corujas já não piam na noite lousadense. O desenfreado progresso quase selvagem, embora aparentemente organizado, elimina as tradições, algumas tão subtilmente que as pessoas nem se vão apercebendo”, conta.
Sublinha que “é muito motivador estudar estas temáticas, mas, infelizmente, sobretudo no contexto socioeconómico atual, é extremamente difícil viver deste trabalho, pois a cultura continua a ser o parente pobre da produtividade”.
“Sobretudo no contexto socioeconómico atual, é extremamente difícil viver deste trabalho.”
Com uma infância “tradicional”, entre “ser acólito na Capela do Senhor dos Aflitos” e a frequência da Escola Básica, saiu de Lousada apenas para fazer o Ensino Secundário em Penafiel, onde acabou por conhecer a Sociologia e apaixonar-se pela área. Assim, seguiu os estudos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
“Tive duas grandes paixões: a sociologia e o jornalismo. Gosto de fazer investigação social na área do património cultural e identidade coletiva”, afirma, acrescentando que, quando estava ainda a licenciar-se em sociologia, o seu primeiro emprego foi no jornalismo.
“Cheguei a ponderar mudar de curso no 2.º ano, mas não gostei do curso de jornalismo. Era muito teórico e uma pessoa aos 20 anos quer ação no terreno. Então, surgiu uma oportunidade para trabalhar no Jornal de Lousada. O que era para ser um passatempo, para conciliar com os estudos, tornou-se um caso sério. Ao fim de um ano, já era chefe de redação”.
Mais tarde, agarrou a oportunidade de trabalhar “num jornal de maior dimensão, o Diário de Aveiro, que foi a minha experiência profissional na área do jornalismo, até hoje, mais gratificante e interessante. Especializei-me na área dos casos de polícia. Estive lá dois anos, mas Lousada estava sempre a chamar por mim”, lembra.
Em 1997, surgiu a oportunidade para entrar para o Pelouro do Património Cultural da Câmara Municipal de Lousada, onde esteve até 2013. “Fazia trabalho de investigação cultural, levantamento das tradições locais, do artesanato, dos costumes, foi uma experiência riquíssima. Era trabalhador-estudante e foi aí que terminei o meu curso”, refere.
José Carlos Carvalheiras é, ainda, formado em minorias étnicas, do Projeto Vida, do Núcleo Distrital do Porto do Instituto Português da Juventude, entre 9 de maio e 20 de junho de 1998, e palestrou em vários eventos sobre Empreendedorismo e Solidariedade Social, nomeadamente no III Encontro da Diáspora Portuguesa, em dezembro de 2018, em Penafiel.
Publicações do autor
É autor de várias publicações, nomeadamente: “Alminhas – A Fé à beira da estrada” (CM Valongo, 2012) e “A procissão dos Caixões na romaria da Senhora Aparecida” (CM Lousada, 2012), “A História de Narcóticos Anónimos em Portugal” (Associação Portuguesa de Narcóticos Anónimos, 2013) e a “Biografia de Jaime Moura – Um líder todo-o-terreno” (autor, A Diferença, 2014)”.
Segue-se: Os Louzadenses, Volume I (edição de autor, 2011), livro de biografias; Os Louzadenses, Volume II (edição de autor, 2012), livro de biografias; As Louzadenses (edição de autor, 2014), livro de biografias; Sombras no Jardim do Meu Sossego (romance em fascículos na revista Nativa do Vale do Sousa, 2011); A Menina da Casa Grande (romance histórico, fascículos no Jornal Terras do Vale do Sousa, 2013); Silêncio – Biografia de Mário Fonseca (Lousagraf, 2016).
A curto prazo, o objetivo é publicar o 5.º volume de “Os Louzadenses”.
Vida associativa
No que diz respeito à participação nas associações do concelho, foi distinguido, em 2009, como o Diploma de Mérito Social e Cultural pela Fundação “O Farol” e foi sócio fundador da “Vidas em Cena”, que inicialmente se começou a dedicar ao teatro de rua. “O propósito primordial era levar o teatro às pessoas, mas sempre numa vertente que é a essência de Lousada e as suas tradições”, afirma.
Nesta associação foi ainda o responsável pela escrita dos guiões: O Brinquedo (coautor com Angel Fragua, curta-metragem, Vidas em Cena, 2013), da peça de teatro Anjo Negro (grupo Vidas em Cena, Auditório de Lousada, 2014), da peça Hans Isler – O pai do Kispo (coautor do guião de peça de teatro, Vidas em Cena 2015) e A Cadeira do Barbeiro (2016, parceria com Luís Falcão), premiado pela CIM – Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa no Concurso de Empreendedorismo de 2018.
“O meu interesse pela política surgiu na faculdade, onde conheci os grandes autores de esquerda.”
José Carlos Carvalheiras é, ainda, um membro ativo na política lousadense. É membro do Bloco de Esquerda de Lousada e delegado da candidatura nas autárquicas deste ano. “O meu interesse pela política surgiu na faculdade, onde conheci os grandes autores de esquerda, e sobretudo os neomarxistas da Escola de Frankfurt, principalmente Walter Benjamin, Theodor Adorno e Max Horkheimer”, recorda.
A curto prazo, o autor sonha escrever e publicar a história da Banda Musical de Lousada, “que é a entidade ativa mais antiga de Lousada, fundada em 1855”, explica.